O atual trabalho de Dejours, a
psicodinâmica do trabalho, que analisa a relação trabalho/sofrimento,
constata que “normalidade” do trabalhador seria um resultado precário,
pois seu aparelho mental está em constante luta contra as pressões, os
conflitos, o abuso de poder, e de acordo com a subjetividade de cada um;
os traços psicopatológicos se manifestarão na forma de sintomas
variados: irritabilidade, insônia, choro, pesadelos, tristeza, desânimo;
mecanismos de defesa do aparelho psíquico para simbolizar o mal estar
vivido. Assim “o sintoma revela a fragilidade do paciente”, e também “os
destinos possíveis da relação entre trabalho e subjetividade”.
A avaliação de desempenho
(quantitativa/qualitativa) pode causar a síndrome de “burn-out” e AVC
por sobrecarga de trabalho. A necessidade de esforços repetitivos, cada
vez mais rápidos, faz com que trabalhadores usem e abusem de
psicotrópicos e cocaína para suportar o ritmo do trabalho.
A avaliação de desempenho pode
desestruturar coletivos do trabalho, pois institui a concorrência entre
colegas. Se a avaliação de desempenho traz mudança de cargo,
transferência de setor, demissão, então o sucesso do meu colega
representa perigo, cria condutas desleais entre colegas. As avaliações
negativas podem causar mais pressão na organização e melancolia por
causa do trabalho, e, até mesmo suicídio, um gesto derradeiro do
trabalhador que recusa ceder a atos que não concorda, em desacordo com
seus valores. O real do trabalho se transforma em fracasso e sofrimento.
Portanto, conclui Dejours, esta forma de avaliação de desempenho
desestrutura as relações entre os colegas e destrói a cooperação.
A saúde mental no trabalho passa por
processos que envolvem o coletivo e a maior prevenção é o tecido social,
a solidariedade e o respeito entre os trabalhadores. Afinal, trabalhar é
se relacionar com outros colegas, e, falar ao colega de trabalho é um
modo de nos reapropriarmos da nossa inteligência, pois há uma construção
da identidade através do reconhecimento, afinal o ser humano precisa
interpretar as ordens e não simplesmente obedecê-las. É nosso processo
cognitivo, nossa inteligência, o que nos diferencia dos animais, afinal
“um exército que só obedece, é um exército vencido”.
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