quarta-feira, 22 de maio de 2013

Consequências da avaliação de desempenho é tema do artigo desta terça

 Dando continuidade à série A palavra dos Especialistas, o SINJUS-MG traz nesta terça-feira (21/5), um artigo sobre a penúltima parte da palestra de Christophe Dejours, no Brasil, em 2012. O especialista analisa a relação de prazer e sofrimento no trabalho e as estratégias defensivas do trabalhador. O estudioso é francês e esteve no Brasil, a convite da Escola Judicial do Tribunal Regional do Trabalho 4ª Região (TRT4), em Porto Alegre, em abril de 2012. As análises foram feitas pelo psicólogo e coordenador da Comissão de Combate ao Assédio Moral do SINJUS/Serjusmig, Arthur Lobato, que participou do evento. No artigo de hoje, Arthur Lobato fala sobre a avaliação de desempenho e suas consequências para o trabalhador e para o trabalho em equipe. Segundo o especialista, as disputas no ambiente de trabalho podem gerar graves doenças. Clique aqui e leia o artigo. Boa leitura! 

Análise de Dejours sobre a avaliação de desempenho




Dejours afirmou em sua palestra “que há falta de conhecimento da psicopatologia do trabalho, por parte dos operadores do direito e dos profissionais da saúde”. O especialista reforçou a necessidade de um conhecimento pluridisciplinar, envolvendo a clínica e o jurídico, o que mais uma vez referenda o trabalho da Comissão de Combate ao Assédio moral do SINJUS-MG, que trabalha com o saber jurídico, o saber da psicologia e do movimento sindical.

Atualmente, o aumento do número de doenças mentais por causa das condições de trabalho envolve a saúde do corpo (acidentes do trabalho, doenças do trabalho). As novas patologias, entretanto, afetam o aparelho psíquico. Se as doenças somáticas muitas vezes envolvem condições físico/químicas do ambiente de trabalho, as doenças psíquicas, segundo Dejours, “envolvem a organização do trabalho, a hierarquia, o controle, a vigilância, as relações de dominação no seio do trabalho e a dominação psíquica”.
O atual trabalho de Dejours, a psicodinâmica do trabalho, que analisa a relação trabalho/sofrimento, constata que “normalidade” do trabalhador seria um resultado precário, pois seu aparelho mental está em constante luta contra as pressões, os conflitos, o abuso de poder, e de acordo com a subjetividade de cada um; os traços psicopatológicos se manifestarão na forma de sintomas variados: irritabilidade, insônia, choro, pesadelos, tristeza, desânimo; mecanismos de defesa do aparelho psíquico para simbolizar o mal estar vivido. Assim “o sintoma revela a fragilidade do paciente”, e também “os destinos possíveis da relação entre trabalho e subjetividade”.
A avaliação de desempenho (quantitativa/qualitativa) pode causar a síndrome de “burn-out” e AVC por sobrecarga de trabalho. A necessidade de esforços repetitivos, cada vez mais rápidos, faz com que trabalhadores usem e abusem de psicotrópicos e cocaína para suportar o ritmo do trabalho.
A avaliação de desempenho pode desestruturar coletivos do trabalho, pois institui a concorrência entre colegas. Se a avaliação de desempenho traz mudança de cargo, transferência de setor, demissão, então o sucesso do meu colega representa perigo, cria condutas desleais entre colegas. As avaliações negativas podem causar mais pressão na organização e melancolia por causa do trabalho, e, até mesmo suicídio, um gesto derradeiro do trabalhador que recusa ceder a atos que não concorda, em desacordo com seus valores. O real do trabalho se transforma em fracasso e sofrimento. Portanto, conclui Dejours, esta forma de avaliação de desempenho desestrutura as relações entre os colegas e destrói a cooperação.
A saúde mental no trabalho passa por processos que envolvem o coletivo e a maior prevenção é o tecido social, a solidariedade e o respeito entre os trabalhadores. Afinal, trabalhar é se relacionar com outros colegas, e, falar ao colega de trabalho é um modo de nos reapropriarmos da nossa inteligência, pois há uma construção da identidade através do reconhecimento, afinal o ser humano precisa interpretar as ordens e não simplesmente obedecê-las. É nosso processo cognitivo, nossa inteligência, o que nos diferencia dos animais, afinal “um exército que só obedece, é um exército vencido”.



Publicado em: http://www.sinjus.com.br

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