quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Trabalho e Saúde precisam ser uma prioridade institucional



*por Robert França

No dia 23 de setembro, o SINJUS debateu “A saúde de servidores e magistrados e a questão do absenteísmo no TJMG”. Com auditório lotado, o evento teve como debatedores a Dra. Ciwannyr M. Assumpção, representante da Gerência de Saúde do TJMG (GERSAT), o juiz Bruno Terra Dias, que falou em nome da Amagis, Associação dos Magistrados Mineiros e o psicólogo Arthur Lobato, assessor do SINJUS-MG. Mediaram o debate o Coordenador-Geral do SINJUS-MG, Wagner Ferreira, e o Diretor de Saúde do Sindicato, Jonas Pinheiro de Araújo. Além dos servidores, a plateia contou com representantes da EJEF.

Na oportunidade, foi destacado o estudo promovido pela GERSAT sobre o absenteísmo por Licença saúde no ano de 2013 no Judiciário Mineiro. Entre outros fatores, a pesquisa cita o aumento de 9,52% ao ano do acervo processual (de 1994 a 2013), sem o correspondente aumento na capacidade de julgamentos ou de pessoal, registrando que a taxa média de crescimento anual dos dias de licenças por motivo de saúde foi de 9,47% nos últimos 10 anos. Entre os objetivos do estudo estão identificar o perfil do absenteísmo e traçar estratégias para a promoção da saúde e prevenção do adoecimento dos magistrados e servidores. Para termos uma ideia, o custo financeiro do absenteísmo para o TJMG foi estimado em R$50.857.290,00, o que representa um crescimento de 0,81% se comparado a 2012. Em relação às causas de afastamento, 41% dos dias de licença saúde estão relacionados a transtornos mentais (23,7%) e doenças do sistema osteomuscular e tecido conjuntivo (17,3%).

Diante desses números impactantes, quando se trata de saúde e trabalho, é preciso avaliar a forma totalizante e onipresente como o trabalho vem sendo encarado no mundo contemporâneo. Extrapola o horário do expediente e é levado para a casa não só em papel, mas em aparelhos como smartphones, tablets, laptops. Em todos os setores de atividade, privados ou públicos, vigora um lema: “fazer mais com menos”. Desse ponto de vista, o resultado ou “lucro" se torna mais importante que os processos de trabalho, mas não podemos nunca esquecer que “atrás dos resultados tem gente”. Portanto, há um evidente descuido no que diz respeito às relações humanas e à organização do trabalho. É como se nosso trabalho no Judiciário fosse mercadoria. E todos sabem que não pode ser assim. Lidamos com a vida das pessoas, e não podemos nos apegar à quantidade esquecendo-se da qualidade. Para produzir bem, é preciso que os juízes e servidores estejam bem. Caso contrário, muitos esforços serão desperdiçados e o custo econômico e social será cada vez mais alto.

Mas como ficam as metas? Metas são importantes. É preciso ter um objetivo a alcançar, para termos a certeza de estarmos nos desenvolvendo para atender às demandas dos cidadãos. Por outro lado, ninguém deve pretender bancar o super-herói! E os resultados referentes às metas, bons ou ruins, precisam ser socializados. O que tem ocorrido é que as metas vem de cima para baixo, sem consultar quem trabalha, mas na hora da cobrança pelo insucesso, há uma responsabilização individual, e não coletiva. Antes de mais nada, deve-se oferecer condições adequadas para a realização do trabalho, o que implica a valorização, e ouvir as equipes de servidores quanto às metas, envolvendo-os ao máximo, para que todos se comprometam a fim de que elas buscadas.

Sobretudo num ambiente em que existe um alto grau de hierarquização, é preciso tato para não confundir autoridade com autoritarismo. Importa saber ouvir para que a democratização sirva como instrumento de gestão. Com isso, será possível empoderar não só os servidores, mas também setores importantes como a GERSAT, o que será fundamental na busca pelo comprometimento de todos em torno dos programas de segurança e saúde no trabalho.

Como a saúde mental está entre as maiores causas do absenteísmo no TJMG, faço questão de registrar - pela experiência de mais de oitos anos atuando para prevenir o assédio moral no trabalho - que as pessoas mais competentes e questionadoras costumam ser os alvos preferenciais. O maior problema é que encontram ambientes desorganizados, autoritários, com metas absurdas, ambíguas, falta de diálogo e, sobretudo, falta de autênticas lideranças.

Se não ficarmos atentos às relações estabelecidas na organização do trabalho e aos valores da instituição, nós teremos é um aumento do absenteísmo, em decorrência de transtorno mental, LER (Lesão Por Esforços Repetitivos), DORT (Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho), sobretudo com o advento da implementação do PJE. Afinal, toda instituição possui valores, que são uma construção cultural. Se há problemas nesse campo, é preciso estabelecer limites claros. E esse trabalho ligado à pedagogia empresarial deve começar dos mais altos escalões.

Portanto, é necessário ampliar o olhar para as formas de organização do trabalho, promover uma verdadeira gestão participativa, reafirmando valores, e incluir entre as prioridades institucionais as políticas que envolvem trabalho e saúde. Afinal, por melhores que sejam os programas de saúde e segurança do trabalho, isoladamente serão sempre insuficientes.

Publicado em: http://www.sinjus.com.br


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