quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Uma reflexão sobre o trabalho

20/01/2016 - 16:00
Artigo publicado em: http://www.sinjus.com.br
 
Hannah Arendt em seu livro “A condição humana” destaca a diferença entre o mundo da natureza e o mundo construído pelo ser humano a partir das ferramentas e instrumentos criados pelo “homo faber”, aquele que fabrica e explora os recursos naturais, cujo produto final ela denomina de obra (produto final do trabalho humano).
 
A base de nossa sociedade capitalista é a produção de objetos para uso e principalmente para consumo, afinal somos uma sociedade de consumo, e, para produzir, precisamos da matéria-prima (arrancada da natureza); uma árvore vira uma mesa, mas é necessário a força de trabalho humano e ferramentas para que a obra se concretize.
 
Ela destaca que a satisfação que vem do trabalho se deve à relação da ação do homem com a matéria que resulta na obra pronta, cujo exemplo pode ser visto em Michelangelo quando acabou sua escultura de David, considerada uma das melhores obras de escultura, que ele exclamou: - Fala! - de tão perfeita a obra, só faltou a linguagem para que ela fosse humana, afinal é a linguagem que nos diferencia dos animais, possibilitando o convívio social e a transmissão de ideias, conceitos e práticas essenciais para a evolução da humanidade.  Assim, o ser humano tem satisfação com o trabalho realizado (obra) e não com o trabalho em si, o qual é um meio para se alcançar o fim – a obra.
 
Historicamente, o trabalho era realizado pelos escravos, e a própria palavra trabalho vem do latim  “tripaliu” que é a denominação de instrumento de tortura formado por três (tri) paus (paliu) , que era usado para os cavalos que não se deixavam ferrar. Dessa forma originalmente trabalhar significa ser torturado. Ao longo dos séculos, o trabalho sempre foi considerado como uma maldição (Adão expulso do paraíso viverá do suor do rosto), sofrimento, e após a revolução industrial, exploração do homem pelo  homem,  em busca do lucro, da riqueza de poucos e da subjugação de muitos.
 
Hoje, o trabalho no mundo globalizado, apresenta o dogma da produtividade, das metas, e métodos de gestão onde predominam o autoritarismo e modelos de gestão que adoecem o trabalhador, através da gestão por injúria, e do  assédio moral.  “Assédio moral é uma conduta abusiva, intencional, frequente e repetida, que ocorre no ambiente de trabalho, e que visa diminuir, vexar, constranger, desqualificar e demolir psiquicamente um indivíduo ou um grupo, degradando as condições de trabalho, atingindo sua dignidade e colocando em risco sua integridade pessoal e profissional." (Freitas, Heloani, Barreto).
 
Não podemos esquecer que, além de adoecer e levar ao suicídio, o assédio moral é crime. Assim, só uma ação coletiva envolvendo servidores e sindicato pode mudar este fato.
 
Encerro este artigo com a definição de gestão por INJÚRIA, segundo Marie France Hyrigoen, para esclarecer sobre este procedimento que muitas vezes é praticado como método de gestão, para conseguir mais produtividade dos trabalhadores, mas cujo efeito visível é o adoecer do trabalhador.
 
A gestão por injúria é “o tipo de comportamento despótico de certos administradores, despreparados, que submetem os empregados a uma pressão terrível ou os tratam com violência, injuriando-os e insultando-os, com total falta de respeito”. Assim a “violência destes tiranos perturbados é notada por todos”,mas como ocupam cargos de chefia, não aceitam ser contestados, humilhando constantemente o grupo de trabalhadores e, muitas vezes, praticando o assédio moral, cujos procedimentos de agressão são velados, contra alguém que é referência no grupo de trabalhadores.
 
O Núcleo de Saúde Sindical do SINJUS-MG, fundamentado no projeto político, “Saúde do Trabalhador”, alerta a todos os servidores que estão sofrendo com o autoritarismo das chefias, e com o assédio moral que denunciem estes fatos ao sindicato para que seja possível elaborar uma política em prol da saúde do trabalhador.
 
Citando Marx: toda política parte da vontade, e da necessidade de derrubar o velho poder, e da dissolução das velhas relações, mas para isto é necessário a atividade organizativa da classe trabalhadora. 

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