segunda-feira, 11 de abril de 2016

ENCONTRO REGIONAL PARACATU 10/04/2016

Arthur Lobato, psicólogo, ao fundo, Célio Izidoro e
Vilma Oliveira, do Departamento de Saúde e Combate
ao Assédio Moral do SITRAEMG – Foto: Gil Carlos

Psicólogo fala sobre o Departamento de Saúde do SITRAEMG, o adoecimento dos servidores e assédio moral


Palestrante alerta que problemas podem ser evitados com a solidariedade e respeito à saúde do servidor.

Como sempre uma das mais esperadas, a palestra “Saúde e Assédio no Trabalho” abriu a segunda etapa de atividades do Encontro Regional dos Servidores do Judiciário Federal – Polo Paracatu, realizado na manhã deste sábado, 9, na Câmara Municipal de Paracatu. 

Foi proferida por Arthur Lobato, psicólogo responsável pelo Departamento de Saúde do Trabalhador e Combate ao Assédio Moral do SITRAEMG, que é também coordenador da Comissão de Combate ao Assédio Moral SINJUS-SERJUSMIG (2007- 2015) e coordenador do Plantão Sindical de Atendimento às Vítimas de Assédio Moral SINJUS-SERJUSMIG (2007-2015). Compuseram a mesa ao lado dele os coordenadores do Sindicato Célio Izidoro e Vilma Oliveira Lourenço, que também integram o Departamento de Saúde da entidade.

Antes de iniciar a palestra, Vilma Oliveira falou sobre o Departamento de Saúde do SITRAEMG, registrando que é a primeira vez que a entidade cria um setor específico para auxiliar os filiados não só na questão da saúde, mas também no combate ao assédio moral. Informando que ela própria foi vítima de assédio, quando trabalhava no TRT (hoje está lotada no TRE), a coordenadora relatou aos colegas que o trabalhador nesta situação se sente “encolhido, recuado” e precisa de ajuda, que é o que o Sindicato se propôs a fazer com a criação do setor.


Câmara de Vereadores de Paracatu-MG
Arthur Lobato iniciou sua participação elogiando os servidores mineiros pela forte mobilização ocorrida no ano passado em defesa do PLC 28/15 e, posteriormente, pela derrubada do Veto 26/15. “Vocês bateram na trave. Valeu a pena”, disse. Sobre os Encontros Regionais, sublinhou que são importantes para que os servidores do interior possam participar das discussões das diversas questões inerentes à categoria, entre as quais a saúde do trabalhador.

Sobre o Departamento de Saúde do Sindicato, ele informou que o objetivo é trabalhar com a “prevenção” e, em seguida, a intervenção. Além disso, o Sindicato está procurando aproximar o seu departamento com os setores correspondentes dos tribunais, já tendo se reunido com os da Justiça Federal e do TRE, restando apenas o do TRT. Agora, será inaugurada nova etapa, com a marcação de reuniões também com as administrações de subseções da Justiça Federal e fóruns trabalhistas do interior, para discutir com esses gestores a saúde dos servidores lotados em regiões mais longínquas da capital.

Para Lobato, é importante refletir sobre as mudanças que ocorrem no mundo do trabalho, quais são as suas consequências, o adoecimento delas provenientes, além dos casos de assédio moral, que também são um dos fortes causadores dessas doenças. O assédio moral, pontuou, é apenas uma das violências que se verifica no mundo do trabalho. Há uma forte pressão sobre os servidores. E isso nada mais é do que uma adaptação forçada às necessidades do capitalismo. O mundo do trabalho no serviço público está igual ao da iniciativa privada, com a diferença que, no primeiro, ainda existe a estabilidade. É preciso, defendeu ele, que sejam discutidos o processo de implantação do PJe, a redução da jornada para 6 horas, fatores ergonométricos, tudo que se relacione com a saúde e o bem-estar do servidor. E hoje, nas instituições públicas, busca-se as origens do adoecimento dos servidores na genética, relações familiares e outros fatores, esquecendo-se de considerar que as causas podem estar relacionadas ao mundo do trabalho.

A palestra

Iniciando a palestra, Arthur Lobato informou que, segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MPT), no Brasil são registrados 700 mil acidentes do trabalho e doenças ocupacionais por ano e cerca de 3 mil mortes de trabalhadores. Isso coloca o país em quarto lugar em números absolutos em mortes, ficando atrás da China, EUA e Rússia. Dentre as muitas causas estão maquinário velho e desprotegido, tecnologia ultrapassada, mobiliário inadequado ou em más condições de uso.

Assim como na iniciativa privada, exige-se um ritmo de trabalho cada vez mais alucinante, com cobrança incessante de “produção”. Trata-se, na visão do palestrante, de um modelo de gestão autoritário, que precisa ser combatido, com prevenção, coleta de provas e intervenções. Incentiva-se a competitividade (cabe aí a situação das FCs), o individualismo, trabalho incessante com o uso de novas tecnologias, estabelecimento de metas a cumprir e determinação para que se trabalhe mais e sem receber horas extras.

No serviço público, informou o palestrante, o adoecer é mais silencioso. O medo faz com que o servidor se subjugue, se sinta incapaz, inclusive perante sua família. Os componentes mentais que criam o adoecimento psicológico, que é invisível, fazem com que as pessoas vão caindo aos poucos. O estresse, consequente da sobrecarga e más condições de trabalho, da pressão, da comparação entre os colegas, levam à sensação de incompetência.

Assédio Moral

O assédio começa quando o trabalhador percebe que algo está errado, mas não sabe o que está acontecendo: uma palavra que fere, um gesto, uma reprimenda quando volta de licença médica. O assédio se dá em um processo persecutório que vai humilhando e “minando” a pessoa.

É preciso ter cuidado ao definir o que é assédio moral. Depende da forma como se exige o rigor no trabalho, se uma explosão emocional é seguida ou não de retratação. “Nem toda humilhação é assédio, mas todo assédio contem humilhações”, alerta Arthur Lobato.

O assédio pode ser vertical (quando vindo de um superior), horizontal (originado dos próprios colegas) ou misto. E a vítima é sempre uma pessoa competente, questionadora. Os sintomas do adoecer são, normalmente, tristeza, desânimo, choro, uso de medicamentos em excesso, alcoolismo, absenteísmo, presenteísmo, queda de produtividade, licenças médicas, mudança de setor, distúrbios psíquicos. O objetivo do assediador é desmotivar o servidor, para que ele mesmo se convença de que é incapaz e peça saída do setor. O quadro máximo do assediado é a depressão, podendo culminar em uma aposentadoria por invalidez.

Psicólogo Arthur Lobato em entrevista para a TV Minas Brasil
“O assédio fragiliza a vítima, trazendo o sentimento de culpa, de baixa autoestima, crises de angústia, cansaço, nervosismo, pensamentos obsessivos. Então é hora de procurar um profissional de saúde”, sintetiza o psicólogo Arthur Lobato, acrescentando que, para que haja um ambiente saudável no mundo do trabalho, é importante que haja solidariedade e respeito à saúde do trabalhador.

Debate

No espaço para debate, a coordenadora Vilma de Oliveira lembrou dos recentes suicídios de servidores ocorridos nos TRTs de Minas e São Paulo, com alguns desses casos, na opinião dela, sendo conduzidos com pouco respeito pelas Administrações. “Temos que dar força aos servidores assediados ou que adoeçam, ser solidários”, aconselhou.

Perguntado como se dá a intervenção do SITRAEMG nos casos de assédio, Lobato esclareceu que “cada caso é um caso”. Não há uma fórmula, mas uma estratégia de ação. O departamento trabalha com a seguinte estratégia: prevenção (provocar um debate com os tribunais), procurando ali, inclusive, as referências. Em um segundo momento, é feita a escuta ao assediado, por telefone ou pessoalmente, e em seguida a avaliação. De cerca de 20 casos já analisados, só dois eram de assédio moral efetivamente. Salientou que nem tudo é assédio, e é preciso que haja cuidado na avaliação. Quando há uma denúncia de assédio coletivo, normalmente o departamento do Sindicato chama o diretor de base do local de trabalho e combina com ele para trabalhar o grupo, visando buscar uma solução amigável no ambiente. Busca-se, inclusive, defender com o assediador que, para o setor e a própria instituição, se esta quer produzir melhor, o ideal é tratar bem os funcionários.

Coordenadores do SITRAEMG Célio Izidoro, 
Vilma Oliveira, Dirceu José dos Santos, Igor Yagelovic, 
Daniel de Oliveira e Henrique Olegário Pacheco

O coordenador Célio Izidoro afirmou que uma das lutas dos servidores, para evitar o adoecimento e a possibilidade do assédio moral, é combater o estabelecimento de metas. Aproveitando a oportunidade, os integrantes da mesa convidaram os servidores para as atividades que serão promovidas pelo SITRAEMG em celebração ao Dia Nacional de Luta contra o Assédio Moral, em 2 de maio. A principal ação do Sindicato nessa iniciativa será a promoção de mobilizações em frente aos principais prédios das Justiças Federal, do Trabalho e Eleitoral, em Belo Horizonte, para lembrar às Administrações que a entidade está cada vez mais empenhada em atuar pela saúde dos servidores e contra o assédio moral.



 Fotografias: Gil Carlos

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