sexta-feira, 24 de junho de 2016

Tecnologia e pressão: tribunais precisam proteger a saúde do servidor



Ao contrário de uma dor de cabeça ou gripe que surge após um período intenso de trabalho, alguns problemas de saúde podem estar relacionados a fatores como cobranças excessivas, condições inadequadas do ambiente em que a pessoa exerce sua função e uma alta demanda de serviço. No mundo moderno, outros elementos começaram a surgir, aumentando as variáveis que põem em risco a saúde do servidor público. É o caso da informatização e do home office. 

No Judiciário mineiro, essas novas configurações do trabalho têm afetado a qualidade de vida da categoria e, por conta disso, estão sendo bastante discutidas pelo SINJUS com os servidores e especialistas. No Consinjus, o assunto mereceu debate em um dos painéis. As reflexões provenientes da discussão, você confere, nesta quinta-feira, 23/6, na última reportagem da série “Consinjus: legados”.  



Saúde x trabalho 

Saúde e humanização das relações de trabalho podem sim caminharem juntas, embora a tecnologia acabe desumanizando o trabalhador. Em tempos em que se defende a qualidade de vida no trabalho, frente às novas tecnologias, não se pode deixar de relacionar a condição de saúde de um sujeito com o tipo de atividade que ele cumpre. Separar isso seria um erro, uma vez que o dia possui 24 horas e as pessoas trabalham em média 8 horas diárias. Foram com essas ideias que o médico Rogério Dornelles, pós-graduado em medicina do trabalho e assessor do Fórum de Saúde do Trabalhador, conduziu o quinto e último painel do 10º Consinjus, "Saúde e Humanização das Relações de Trabalho: virtualização, home office e as doenças laborais".  

Dornelles apresentou dados de uma pesquisa, que ele coordenou em 2011, realizada em vários tribunais do País, mostrando que a implementação dos processos eletrônicos impacta na saúde dos servidores. Após o levantamento, constatou-se que os principais sintomas físicos são oftalmológicos (dor, ardência, secura) e doenças osteomusculares no pescoço, braços, costas e ombros. Esses problemas vêm da alta exposição dos olhos diante da tela do computador e do tempo parado na mesma posição. Com isso, o médico defendeu que pausas e breves intervalos são necessários para se evitar o esforço repetitivo e também para descansar a mente. O pesquisador reconheceu que a informatização no mundo do trabalho é um caminho sem volta, por trazer avanços e agilidade. Ainda assim, os tribunais precisam pensar na ergonomia dos seus servidores.  

Doenças emocionais (psíquicas) também podem atingir os servidores com o avanço da informatização e a implementação do Processo Judicial Eletrônico (PJe) no Judiciário. Rogério Dornelles explicou que distúrbios neuróticos, como por exemplo, ansiedade, stress, depressão, pânico, entre outros, estão diretamente ligados às novas metodologias de trabalho. "A informatização trouxe uma presença maior de controle e determinação de metas inalcançáveis. Sendo que houve um aumento da quantidade de demandas e serviços para os servidores", exemplificou ao falar que, como as pessoas sofrem pressão de seus superiores, introjetam culpa e cobranças.  

home office, nova forma de organização do trabalho, que está sendo testado e implementado em vários tribunais do País, também entrou na discussão. Esse modelo muda a configuração da jornada de trabalho, pela produtividade e cumprimento de metas. Embora seja tentador inicialmente – por possibilitar que o servidor trabalhe em casa, com mais flexibilidade, passe mais tempo com a família e fuja do trânsito das grandes cidades –, o palestrante chamou atenção para alguns aspectos negativos que precisam ser analisados.  

O servidor teria que arcar com as ferramentas de escritório e ter organização e rotina mais rígidas. Além disso, a carga de serviço seria maior porque ele iria trabalhar em casa. As relações familiares ficariam afetadas. Outro problema é o risco do servidor ficar desatualizado profissionalmente, perder o espírito de luta e de pertencimento da categoria, uma vez que não convive no ambiente com outros colegas. 

O que pensam os servidores? 

O psicólogo Arthur Lobato, especialista em assédio moral no trabalho e membro da Comissão de Combate ao Assédio Moral do SINJUS-MG/SERJUSMIG, enriqueceu a discussão propondo um debate sobre teletrabalho. O especialista contou que, em abril, o Núcleo de Saúde do SINJUS trouxe o tema para uma Roda de Conversa com a categoria. No encontro, os servidores fizeram várias críticas e demostraram preocupações sobre a novidade. Entre elas, a hipótese de que esse modelo de trabalho pode dar brecha para o aumento da terceirização no serviço público. "O Sindicato não é contra, nem a favor do teletrabalho, mas busca uma análise crítica do assunto", deixou claro. "Somos seres sociais. Precisamos do outro, do auxílio do outro", completou.  

Foi divulgada em primeira mão pelo psicólogo o resultado da enquete "Quais são os maiores problemas do PJe?". A pesquisa promovida pelo SINJUS-MG foi um dos mecanismos que ajudaram o Sindicato a identificar o que a categoria pensa sobre o Processo Judicial Eletrônico (PJe). 

Com seis alternativas, os servidores votaram no site do Sindicato, podendo opinar em uma das opções: A ("pouco tempo de treinamento para os servidores"); B ("nem todos servidores participam do treinamento"); C ("falta de simulação para melhorar o aprendizado"); D ("ergonomia e espaço físico dos monitores"), E (“sistema com muitas falhas”); F ("todas as afirmações acima"). A pesquisa coletou mais de 238 votos. Desse total, 66% marcaram a letra "F", ou seja, que o maior problema do PJe está relacionado a todas as alternativas.  

Sobre a implementação do PJe no TJMG, Arthur Lobato afirmou que precisa existir uma relação mais humana nas relações de trabalho. "A tecnologia veio para acelerar o ritmo de trabalho, demandando do nosso corpo condições físicas e psíquicas, que nem sempre conseguimos acompanhar. O que queremos são condições de trabalho que não levem o servidor ao adoecimento." 

Confira aqui os melhores momentos do painel "Saúde e Humanização das Relações de Trabalho: virtualização, home office e as doenças laborais",  com Rogério Dornelles e Arthur Lobato. 

Consinjus não acaba aqui 

Após o último painel, os delegados do Congresso e servidores que participaram como observadores foram divididos em Grupos de Trabalho (GTs) para discutir propostas de lutas baseadas nos temas das palestras. As proposições formuladas foram levadas para debate e aprovação na Plenária Final, originando o Plano de Lutas que vai nortear as ações da categoria nos próximos dois anos. A redação final do documento já está sendo analisada pela comissão revisora e redatora, e no prazo máximo de 60 dias, contados a partir do término do evento, estará disponível para consulta no site do SINJUS. Não deixe de consultá-lo assim que for publicado, pois lá estarão os eixos, objetivos e projetos que nortearão todas as lutas daqui para frente. 

Confira aqui o vídeo da Plenária Final na íntegra.


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