segunda-feira, 3 de outubro de 2016

A importância das pausas na jornada de trabalho


Por Arthur Lobato, responsável técnico pelo Departamento de Saúde do Trabalhador e Combate ao Assédio Moral (DSTCAM) do SITRAEMG

A política de prevenção à saúde do servidor e magistrado do Judiciário Federal em Minas está em mais uma etapa de sua consolidação no Estado – a criação dos comitês regionais que vão elaborar políticas de prevenção à saúde de servidores e magistrados, buscando diminuir o número de adoecimentos na instituição. O SITRAEMG participa do Comitê Gestor do TRT-MG e participou da primeira reunião do Comitê Gestor do TRE. Na Justiça Federal de Minas, o Comitê Gestor Local foi criado em Brasília, sede do Tribunal Regional Federal 1ª Região-TRF1, que tem Minas Gerais sob sua jurisdição.
O Departamento de Saúde e Combate ao Assédio Moral do SITRAEMG tem proposto algumas parcerias com a direção local, buscando, assim, unificar esforços para que as orientações e benefícios sejam para os servidores de todos os tribunais. Esses comitês são fruto da Resolução 207/15, do CNJ, que institui a Política de Atenção Integral à Saúde do Servidor e Magistrado (PAISSM). O trabalho realizado pelo Departamento de Saúde do Trabalhador e Combate ao Assedio Moral (DSTCAM) do SITRAEMG entra neste processo como uma interface em prol da saúde dos servidores. Confluência de saberes, esta é a nossa proposta, o saber institucional e o saber do trabalhador em busca de soluções preventivas em prol da saúde do servidor e servidora.
O SITRAEMG encampa a saúde enquanto luta política, focando o combate ao assédio moral, em defesa do resgate da honra, da dignidade e da saúde do assediado. Em pouco mais de 1 ano e meio, o DSTCAM participou de oito encontros regionais, em diversas comarcas de Minas. Levamos a discussão sobre o assédio moral através de palestras, debates, rodas de conversa. Participamos de seminários e congressos cuja temática é a saúde do trabalhador. Estivemos na caravana rumo a Brasília, protestando, debatendo, ouvindo a categoria, ficamos juntos no sol do planalto central, ao som das vuvuzelas, até o anoitecer. Também foram realizadas rodas de conversa em Belo Horizonte e atendimentos individuais psicológicos, focando a clínica do trabalho, além da  análise de casos enviados por e-mail. Para maior informação da categoria sobre a temática saúde do trabalhador, publicamos artigos, impressos, temos um link no site do SITRAEMG com mais informações e participação do servidor ou servidora. Para não conflitar com uma série de eventos que serão realizados pelos tribunais federais em prol da saúde do servidor, o SITRAEMG realizará um seminário sobre saúde do trabalhador, nos dia 4 e 5 de novembro, na sede do Sindicato. Estas são algumas de nossas ações em prol da saúde como prevenção. além disso, o SITRAEMG oferece uma série de convênios de saúde e de lazer para os servidores.
Nosso projeto é elaborado, pensado e estratégias de ação são realizadas, focando a temática saúde do trabalhador com ações a partir do saber e da demanda dos trabalhadores do judiciário federal, afinal, são vocês que fazem o serviço e as contribuições para os comitês gestores dos tribunais devem passar pelo olhar do trabalhador, aquele que executa o serviço, e que pode apresentar soluções práticas em prol da prevenção da saúde, visando diminuir o estresse, melhorar os relacionamentos interpessoais, criando um ambiente de trabalho saudável.
Agora vamos analisar o porquê da necessidade de uma política de prevenção, e como pequenas atitudes podem diminuir o desgaste mental e físico causados pelo trabalho.
O comitê gestor do TRT foi o primeiro a ser criado em Minas. Portanto, é o que se encontra mais adiantado, tanto em reuniões como em ações. Foi publicado, em parceria com o SITRAEMG, um folheto do TRT-MG sobre o Comitê Gestor Local de Atenção Integral à Saúde dos servidores e magistrados do Tribunal. Pretendemos disponibilizá-lo no nosso site, pois apresenta duas páginas que são importantes para todos os servidores e magistrados — as ilustrações, passo a passo —, para uma boa postura e a importância das pausas na digitação por 10 minutos para cada 50 minutos trabalhados, além de ressaltar a necessidade do alongamento e de mudar de posição. O próprio TRT tem a Instrução Normativa nº 10, de 19/10/2012, focando as pausas tanto na digitação quanto no uso do processo eletrônico judicial. Mas, será que em um tribunal que possui a instrução normativa, estas medidas em prol da prevenção da saúde são cumpridas?
Diversos estudos e pesquisas apontam para a necessidade de parar a digitação por 10 minutos a cada 50 minutos. No entanto, o trabalhador faz isso? A resposta é não. Por quê? Um dos motivos é que os métodos gerenciais atuais querem transformar o ser humano em uma máquina. Se o servidor para, interrompe seu trabalho para fazer as pausas, as próprias chefias não apoiam esta atitude que é de prevenção ao adoecimento e diminuição do desgaste psíquico, o que vai, inclusive, aumentar a produtividade.
A ginástica laboral também não é bem aceita por chefias que acham que esta atividade não é necessária e que atrapalha o andamento do trabalho, como se as pessoas fizessem ginástica laboral para fugir do trabalho, quando, na realidade a ginástica laboral auxilia o trabalhador, evita seu afastamento como consequência do excesso de atividades sem pausas.
Com relação a ficar em frente a um monitor de computador, as pesquisas apontam para a necessidade de tirar o foco da tela a cada 50 minutos, olhar para longe, para que o nervo ótico não fique irritado ou com ardência, nem com a vista “embaralhada”, sem foco no que está escrito na tela do computador. A recomendação é sair de frente da tela do computador e olhar para objetos a longa distância, inclusive olhar pela janela. Seria uma “ginástica” para o globo ocular, mas, se o trabalhador faz isso, a chefia já chega repreendendo, sem perceber que essas pequenas atitudes são em prol  da prevenção da saúde deste servidor, o que vai diminuir o absenteísmo e aumentar a produtividade.
Segundo Edith Seligmann-Silva, pesquisadora, médica com doutorado em medicina preventiva pela USP , “a carga de trabalho representa o conjunto de esforços desenvolvidos para atender às exigências das tarefas. Este conceito abrange os esforços físicos e os mentais, que por sua vez compreendem os cognitivos e os psicoafetivos (mobilização de sentimentos, controle emocional). Estes últimos constituem a carga psíquica.” O desgaste mental acontece quando a carga psíquica é maior que a capacidade do trabalhador executar sua (sobre)carga de trabalho. Para a autora, “Os componentes da carga psíquica podem ser constituídos pelos mais variados sentimentos — medo, repugnância, raiva, vergonha, ou resultam ainda do sentimento de impotência e/ou fracasso na realização das próprias expectativas de desempenho”.
Alertamos, portanto,  que o desgaste mental causado pela sobrecarga de trabalho, a ausência de pausas na digitação e a necessidade de deslocar o olhar do computador de tempos em tempos é uma NECESSIDADE, e, que a estas pequenas atitudes são uma forma de prevenir a saúde do servidor e diminuir o adoecimento e consequentemente o absenteísmo, ou seja, ausência do trabalho por motivo de saúde, o que gera  por outro lado uma sobrecarga de trabalho para o grupo, pois não há substituições, logo o serviço será feito por quem está trabalhando.
Num momento de possíveis perdas de direitos conquistados com muita luta, que os servidores do judiciário federal vivenciam, cuidar de sua saúde é um dever, mas também uma ação política dentro da organização do trabalho, sensibilizando colegas e chefias da necessidade dessas atitudes. Para isso, cada servidor deve ser ousado e procurar o Sindicato, como base de apoio. No trabalho, exercer seu direito às pausas, pois os gestores devem entender que essa pequena atitude é benéfica ao servidor e tem relação direta com a produtividade e com a prevenção de doenças do trabalhador. As pausas são um pequeno exemplo de como é importante a mudança na organização do trabalho, humanizando as relações, melhorando assim o clima organizacional. Entretanto, sem a participação dos servidores, chefias e magistrados neste processo, o adoecer no Judiciário tomará índices ainda mais alarmantes, e com o servidor adoecido, não existe produtividade, celeridade ou cumprimento de metas.
Pelo direito de trabalhar sem adoecer, esta é uma luta que começa com a prevenção, com atitudes pequenas como as relatadas acima, mas que devem ser respeitadas e apoiadas pelas chefias e pela instituição.
Arthur Lobato é psicólogo/saúde do trabalhador, responsável pelo Departamento de Saúde do Trabalhador e Combate ao Assédio Moral (DSTCAM) do SITRAEMG.

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