segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Em seu primeiro dia, seminário do DSTCAM tem peça de teatro e palestra do professor Roberto Heloani

A abertura do “Seminário de Saúde do Trabalhador e Combate ao Assédio Moral”, acontecido nessa sexta-feira (04/11), no Hotel Normandy, contou com forte presença de servidores do interior e lideranças sindicais de outras categorias, como a CSP-Conlutas, Fasemp, Sinjus e o Sindees. O Evento, promovido pelo Departamento de Saúde do Trabalhador e Combate ao Assédio Moral (DSTCAM/SITRAEMG), teve inicio às 20h, com a peça de teatro “Rei do Pedaço”, baseada em relatos de diferentes formas de assédio vivenciados por servidores dentro dos Tribunais.


Após a peça, se instalou a mesa de abertura composta pelo psicologo responsável pelo DSTCAM, Arthur Lobato, os coordenadores do departamento Vilma Lourenço e Célio Izidoro e o coordenador geral do SITRAEMG, Alexandre Magnus.

Lobato, iniciou sua fala saudando todos os presentes e explicando o funcionamento do Departamento, que tem como objetivo o empoderamento dos servidores. “Segundo o psicologo, o DSTCAM não tem respostas prontas, pois seu trabalho é construí-las diretamente com os servidores que denunciam os casos de assédio”. Em menos de 1 ano, o departamento esteve presente em todos os encontros regionais, e realizou atendimentos presenciais, por e-mail, por telefone. Além de participar com cadeira cativa nos comitês gestores do TRT, do TRE, e com um intervenção na Justiça Federal, que por ser sessão judiciária do estado, não tem comitê gestor instalado. Lobato afirmou que é necessário “superar os limites dos Tribunais e pra isso a saúde do trabalhador é uma pauta política do Sindicato”, e concluiu com uma frase que se tornou uma verdadeira palavra de ordem do mundo do trabalho: “Queremos ter o direito de trabalhar sem adoecer”.


O Coordenador Alexandre Magnus coordenador geral do SITRAEMG explicou que o departamento de saúde foi inaugurado em 2015, após o Congresso do SITRAEMG em Juiz de Fora, e que desde então tem se tornado uma das principais bandeiras do Sindicato. “Temos que superar o sindicalismo pauta única, que luta apenas por salário, e olhar para o bem estar de nossos filiados”, disse. Citando a tramitação do PL 5698/16, de autoria intelectual do SITRAEMG, que visa transformar a prática do assédio moral em improbidade administrativa, o coordenador afirmou que a luta contra o assédio moral vai além do departamento.

Assumindo o microfone, a coordenadora Vilma Lourenço agradeceu a presença de todos no seminário, afirmando que “a sua realização é um importante passo, mas que esse debate não pode ficar só na teoria”. Segundo a sindicalista, o SITRAEMG tem que ser um espaço que pode acolher o servidor para que ele seja um lugar de segurança e proteção.

Fechando a mesa, o coordenador Célio Izidoro. Célio falou que o capitalismo tem desumanizado as pessoas, e por isso a luta sindical também tem que passar pela luta pela humanização do trabalho. Para ele, o assédio tem origens anteriores ao mundo do trabalho, mas se intensifica com ele, citou o seu exemplo como trabalhador negro, que o coloca em uma situação de desigualdade, pois o racismo é uma das faces em que se demonstra o assédio moral.

 Após o fechamento da mesa de saudação, a primeira palestra foi proferida pelo Professor Doutor da Unicamp, Roberto Heloani, em que foi explorado o tema da mercantilização da sociedade como um dos fundamentos principais do uso do assédio moral como uma prática de gestão. Por toda sua explicação, Heloani usou de casos concretos utilizados na iniciativa privada que reforçam a lógica do assédio moral na gestão empresarial. Já no inicio de sua palestra ele apresentou um vídeo de 2 minutos, em que um jogador de futebol americano cuida da produtividade de uma empresa batendo e aterrorizando os seus funcionários. Após a apresentação, o professor explicou que o vídeo foi usado no treinamento de novos funcionários da Reebook. O que reforça a ideologia do vale-tudo pela produtividade. Também foi citado casos da Oi, Ambev, Itaú e Carrefour, que respondem processos coletivos por assédio moral.

Cartaz de recrutamento do Itaú: o vale tudo da produtividade

 Nesse modelo, o assédio passa a ser uma ferramenta necessária para garantir o crescimento da produção. A quarta maior empresa do Brasil é campeã em assédio moral. Além disso, ela coleciona condenações, mas apesar das multas, a prática continua, pois o modelo é lucrativo. As multas passam a ser parte do custo de produção, o bem estar do trabalhador não.




Mandamentos da telefonia/ Condenação trabalhista à Oi
 O professor explicou que essa lógica tem sido transferida para o serviço público, desde o tratado de Washington, através de nomes do neo-liberalismo internacional como Ronald Reagan, Margaret Thatcher e outros lideres de conglomerados internacionais da década de 80, que pregavam o “desinchamento” do estado e sua “adequação” aos termos da iniciativa privada. Para o Heloani, a intenção desses líderes é a de acabar com a lógica do “estado que garante direitos”, e instituir a lógica do “estado que garante o fluxo de capital”. Pois “um bom serviço público, que garanta direitos sociais atrapalha o mercado”. O professor também citou as ferramentas midiáticas utilizadas para garantir essa ideologia, como a imagem do “servidor marajá”; a utilização de informações mentirosas para justificar o congelamento de salários; o “risco Brasil”, que afirma que o estado Brasileiro é inchado e burocratizado, mesmo apresentando um número de servidores por habitante muito menor do que a maioria dos países europeus.


Número de servidores por mil habitantes desmistifica a teoria de que o Brasil é um país inchado

Para essa gestão, não interessam as pessoas, mas sim o resultado. O processo não precisa ser levado em consideração. O que implode o processo coletivo do trabalho. “Pois a busca pela sobrevivência faz com que o ‘puxão no tapete’, ou ‘pisar em cima’ do colega, se torne prática aceitável”, afirmou. Heloani afirmou que essa lógica no serviço pública ainda está em implementação, e conclamou os servidores presentes a se rebelarem contra ela “A gente não pode permitir que o assédio se torne um instrumento para a privatização da vida”, concluiu.

Com o fim da palestra Arthur Lobato, finalizou as atividades do dia agradecendo a contribuição do professor Roberto Heloani, e reafirmando que o apoio da comunidade científica é fundamental para o combate ao assédio moral, porque “autoridades só aceitam argumentos de outras autoridades”. Os debates continuam hoje com mais cinco palestras de temas ligados ao Assédio Moral e a saúde do trabalhador. O seminário vai até às 20h. Os presentes receberão certificado desenvolvido pelo SITRAEMG.



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