segunda-feira, 7 de novembro de 2016

“Traumas psicológicos no contexto laboral”

Carlos Eduardo Carrusca, doutor em Psicologia e professor da PUC/MG
 O sábado, 5 de novembro, segundo e último dia do Seminário do Departamento de Saúde do Trabalhador e Combate ao Assédio Moral (DSTCAM) do SITRAEMG, também contou a palestra sobre “Traumas psicológicos no contexto laboral”, proferida pelo doutor em Psicologia e professor da PUC/MG Carlos Eduardo Carrusca. O título da palestra é o mesmo do livro de autoria do palestrante. Ele comentou que recebe, na PUC/MG, vítimas de uma infinidade de violências relacionadas ao trabalho, e alertou para o fato de que, mesmo fora do trabalho, se pode sofrer violência relacionada a ele.


Segundo o palestrante, o que se vê, no mundo do trabalho, são as práticas de gestão dentro da lógica do capital, com mecanismos de controle cada vez renovados, exigências de produtividade e celeridade, cumprimento de metas, e a iniciativa e autonomia do trabalhador cada vez mais jogadas de lado. O trabalhador vive pressionado, propício ao adoecimento e, por vezes, até ao suicídio.

Também destacou a prática de assédio moral nos locais de trabalho, definindo o assédio como uma violência psicológica capaz de atingir a dignidade e a autoestima do trabalhador, expondo-o à humilhação e constrangimento, podendo ser praticado de forma vertical, mas também horizontal. Mas essa prática, ensinou, deriva da gestão e organização do trabalho.

Para ele, existe também o assédio organizacional, que é o decorrente de uma política de violência com a finalidade de melhorar a produtividade ou reforçar o controle à submissão, podendo se dar por estresse, injúria ou medo, e apresentando como principais sintomas a ansiedade, sensação de incompetência e isolamento.

O professor da PUC/Minas também mostrou o seguinte relato de um trabalhador assediado: “A consequência pior que fica não é fisicamente é a moralmente, psicologicamente é o trauma que você fica, você já fica cismado com todo mundo, você já vai com medo do que você possa ouvir e escutar de alguém. Fica o trauma mais é psicológico mesmo não é? A consequência que fica é psicológica, porque fisicamente você toma o remédio e cura, e psicologicamente você fica ali com isso”.

Citando um caso de um trabalhador que teria sido vítima de um trauma psíquico no trabalho, mas, na apuração do caso, apresentou uma explicação confusa, o palestrante disse que é preciso o profissional de saúde conhecer a fundo a história do reclamante, pois “cada caso é um caso diferente”.

São as seguintes as medidas de prevenção ao adoecimento psíquico que ele recomenda: a ameaça de morte sobre a qual falam os trabalhadores não se refere, apenas, às agressões físicas, geralmente, mais visíveis; ela se reporta às violências psicológicas, praticadas por meio da linguagem; a proteção da saúde dos trabalhadores deve passar pelo apoio aos trabalhadores e pela transformação dos modos de gestão e organização do trabalho. Os primeiros auxílios psicológicos: apesar da pesquisa incipiente, experiências de intervenção imediatamente após um evento traumático mostram que o apoio psicológico ajuda a suportar melhor os efeitos das situações, a pronta intervenção pode revelar-se vital para evitar danos psicológicos no futuro.

O palestrante recebe da coordenadora Vilma Lourenço uma lembrança da diretoria do SITRAEMG
O palestrante também informou que as primeira medidas preventivas devem ser: oferecer proteção, segurança e esperança; proporcionar ou aliviar de forma imediata os sintomas de stress agudo; facilitar a recuperação espontânea; identificar e encaminhar afetados por emergências psiquiátricas ou em risco de desenvolver algum transtorno psiquiátrico.

No espaço para debates, Francisca Reis da Silva Barros Menzel, servidora do TRT de outro estado que assina a “Declaração dos direitos de uma vítima de assédio moral”, publicada na primeira página do jornal do DSTCAM, editado dias atrás, disse que busca hoje a solidariedade, “que é não aceitar o assédio moral, é sair da caverna e ver a realidade”. E desabafou: “Se questiono algo, cale a sua boca, se estou insatisfeita, a porta está aberta; luto por justiça, e ela sé existe quando tratamos as pessoas por igual. Tudo passa pela valorização do ser humano, pelo respeito ao ser humano”.

O palestrante reafirmou que não se consegue eliminar o assedio moral sem mudar a estruturação organizacional: o modelo precisa ser transformado. Para o trabalhador reagir aos traumas psíquicos, é ter alguém para atendê-lo, e o psicólogo faz esse trabalho, de leitura das marcas.

Ao final, foram sorteados alguns exemplares do livro "O Juiz sem Toga", de Herval Pina Ribeiro, como brinde para alguns participantes do evento:







 Publicado em:  http://www.sitraemg.org.br



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