O CNJ apresentou os resultados da 2ª pesquisa sobre o Diagnóstico da Saúde Mental dos Magistrados e Servidores do Poder Judiciário, realizada por solicitação do Comitê Gestor Nacional de Atenção Integral à Saúde dos Magistrados e Servidores do Poder Judiciário com o objetivo de identificar os impactos da pandemia na saúde desses grupos.
A pesquisa foi realizada durante o mês de dezembro de 2021 e apresentada durante o 4º Seminário Nacional sobre a Saúde dos Magistrados e Servidores do Poder Judiciário, realizado no dia 7 de fevereiro de 2022.
Feita de forma online, a pesquisa contou com participação de 21.646 servidores e magistrados, com média de idade de 44 anos. Ressalta-se que a análise a seguir irá focar nos aspectos negativos que interferem no trabalho durante a pandemia, e seus impactos na saúde mental dos trabalhadores.
A participação de Minas Gerais constitui apenas 6% do total (1.315 respostas), com média de idade de 46 anos. No total da amostra, o segmento da justiça com maior participação foi a Justiça Estadual, com 63,1%, enquanto os servidores do quadro efetivo do Poder Judiciário correspondem a 81,8% dos participantes. O público feminino foi majoritário, com 56,9%.
O resultado também apontou que 97,4% tomaram duas doses da vacina para Covid-19. Os fatores de risco mais comuns foram: pressão alta (14,6%); obesidade (6,7%); doenças respiratórias (5,3%).
Outro dado que chama atenção: 56,5% perderam amigos ou parentes durante a pandemia, o que gera sérios impactos na saúde mental e emocional dessas pessoas, que precisam continuar trabalhando, muito além da jornada, para conseguir cumprir as metas em um momento difícil da vida pessoal. 26,7% dos entrevistados relataram o aumento do uso de álcool e outras substâncias.
Em relação ao impacto do isolamento social no ambiente doméstico, enquanto 44,3% relataram melhora e aproximação nas relações familiares, 39,3% relataram a ocorrência de desgastes nas relações.
Já quanto ao estado de saúde comparado a antes da pandemia, 39,5% dos participantes relataram que “piorou um pouco”. Já no tópico “Rede de apoio em busca de conselhos ou consolo”, a maioria se sustentou no apoio de familiares, amigos e apoio espiritual, enquanto apenas 21% procuraram ajuda psicológica/médica e 15,1% procuram não expressar seus sentimentos.
A percepção sobre a melhor forma de trabalho demonstrou que:
- preferem a modalidade híbrida, com predominância virtual: (49,6%)
- preferem o ambiente de trabalho totalmente virtual: (21,1%)
- preferem a forma híbrida com predominância presencial: (19,9%)
Sintomas que não sentia antes da pandemia:
- sensação de cansaço e/ou sonolência durante o dia: (52,0%)
- alterações da rotina de sono: (47,6%)
- dificuldade de concentração e/ou de memória: (46,3%)
É importante destacar também o aumento de sintomas como taquicardia e pressão no peito (19,2%) e sonhos ruins e pesadelos (17,8%), que já são indícios de sintomas de estresse e esgotamento.
Em relação aos sentimentos relatados com maior frequência ou intensidade durante a pandemia:
- medo: (49,5%)
- desânimo: (43,5%)
- tristeza e/ou melancolia: (31,0%)
- raiva e irritação: (26,9%)
- desespero: (5,9%)
Tais dados demonstram a fragilidade da saúde mental do trabalhador durante a pandemia.
Temores em razão das mudanças nas condições de vidas causadas pela pandemia:
- temor com o falecimento de familiares considerados grupos de risco: (70,7%)
- ter sequelas da doença: (60,7%)
- contagiar outras pessoas: (59,7%)
- adoecer: (57,0%)
- necessidade de internação: (53,7%)
- vir a falecer: (49,5%)
- faltar tratamento/leitos hospitalares: (42,9%)
Volume de trabalho recebido:
- é maior do que no período pré-pandêmico: (54,8%)
- é igual ao período pré-pandêmico: (35,0%)
Sobre as iniciativas que os servidores gostariam que fossem tomadas para segurança na retomada do trabalho presencial, é importante essa contribuição para ações sindicais, em prol da saúde psíquica do servidor e servidora do judiciário federal, observando as seguintes demandas:
- obrigação de apresentar comprovante vacinal: (66,1%)
- obrigação do uso de máscara dentro e fora da unidade: (65,1%)
- fornecimento de EPIS por parte do tribunal: (65,1%)
- rodízio de servidores que trabalham no mesmo ambiente: (63,4%)
- manter servidores do grupo de risco em trabalho remoto: (63,1%)
- manter servidores em trabalho remoto quando morarem com pessoas que são do grupo de risco: (52,4%)
- fornecimento de testagem prévia antes do retorno ao trabalho presencial: (43,2%)
- realização de reuniões somente no formato online, independente dos integrantes estarem na modalidade presencial: (35,3%)
- não se sente a vontade de retornar ao trabalho presencial, mesmo com as medidas listadas acima: (21,4%)
Em relação às atividades que estão tomando maior parte do tempo dos servidores, 97,3% relatam o trabalho como principal atividade.
Portanto, concluímos a necessidade de uma política envolvendo a humanização do trabalho, com a adaptação da política de metas e produtividade à realidade de cada tribunal, e que os gestores tenham sensibilidade com relação à saúde mental dos trabalhadores, que estão com medo, sofrimento, inseguros existencialmente e com excesso de trabalho.
É importante ressaltar que os sindicatos continuem atuando em prol da saúde e segurança do trabalhador, e que sejam debatidos os direitos de quem está em teletrabalho, já que essa modalidade misturou jornada de trabalho e produtividade, o que tem gerado mais trabalho, mais cansaço, menos tempo livre, entre outros fatores conforme abordado na pesquisa.
Acesse a pesquisa completa aqui.
Saiba mais sobre o Seminário na matéria disponível no site do CNJ.
Assista ao vídeo do seminário no YouTube.
Artigo de Artur Lobato - Psicólogo da área de saúde do trabalhador. Participou de Congressos Internacionais sobre o tema no Brasil, Argentina e México. Membro da Associação Brasileira da Saúde do Trabalhador e Trabalhadora (ABRASTT).
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