O trabalho no mundo contemporâneo ocupa cada vez mais nosso tempo. Hoje, praticamente vivemos em função do trabalho, pois as novas tecnologias, a internet, permitem que o trabalho seja realizado até mesmo fora do ambiente do trabalho, como é o caso do home office. Mensagens de e-mail e whatssapp são enviadas depois da jornada de trabalho e muitas vezes nas folgas e fins de semana. Isso gera estresse, pois o trabalho invade a vida pessoal e o direito ao descanso. Por outro lado, a mudança radical que se esta implementado no serviço público, com a aplicação das técnicas gerênciais da iniciativa privada, com o foco na produtividade e cumprimento de metas, agravou ainda mais a questão da saúde mental e do desgaste psíquico e emocional dos servidores públicos, pois há um aumento da carga de trabalho e da intensidade do ritmo do trabalho.
Segundo Edith Seligmann-Silva, pesquisadora, médica com doutorado em medicina preventiva pela USP “ a carga de trabalho representa o conjunto de esforços desenvolvidos para atender às exigências das tarefas. Este conceito abrange os esforços físicos e os mentais, que por sua vez compreendem os cognitivos e os psicoafetivos (mobilização de sentimentos, controle emocional). Estes últimos constituem a carga psíquica.” O desgaste mental acontece quando a carga psíquica é maior que a capacidade do trabalhador executar sua (sobre) carga de trabalho. Para a autora “Os componentes da carga psíquica podem ser constituídos pelos mais variados sentimentos — medo, repugnância, raiva, vergonha, ou resultam ainda do sentimento de impotência e/ou fracasso na realização das próprias expectativas de desempenho”.
Percebo nos atendimentos psicológicos que realizo no Sinjus/MG, nos debates após palestras e nas rodas de conversa esta sensação do trabalhador de que por mais que se esforce o servidor ou servidora não consegue dar conta do trabalho, e por isso, a autocobrança, internalização do medo de não dar conta, e da culpa, o que leva a sentimentos de ser incapaz, incompetente, ou seja, transferindo uma questão que é da organização do trabalho para si, trabalhador, em vez de questionar se as metas impostas são possíveis, e que a produtividade tem de ser do grupo, pois pessoas são diferentes.
Além disso, quando direitos como data base, plano de carreira, auxilio saúde não são negociados entre a direção do tribunal e o Sinjus/MG — sindicato que representa a categoria—, temos mais um fator que gera ansiedade e desmotivação. Sabemos que, neste caso, a luta é coletiva e o estado de greve a única arma do trabalhador, para pressionar a instituição, sob a liderança da direção do sindicato, o qual atua a partir das deliberações dos servidores nas assembleias.
Frente a esta série de questões, a força do coletivo tem que prevalecer. Mas, o que cada servidor pode fazer para evitar o desgaste psíquico provocado pelo trabalho?
Neste artigo, focaremos a importância das pausas e que a prevenção a saúde seja uma luta de cada servidor, pois já esta provado, que sem pausas na digitação, a probabilidade do trabalhador desenvolver lesões por esforço repetitivo e doenças osteomusculares (Ler dort) é maior, do que se o mesmo fizer a ginástica laboral, praticar as pausas como forma de prevenção ao adoecimento.
Todos os estudos e pesquisas apontam para a necessidade de parar a digitação por 10 minutos a cada 50 minutos, no entanto o trabalhador faz isso? A resposta é não. Por que? Um dos motivos é que os métodos gerenciais atuais querem transformar o ser humano em uma máquina. Se o servidor para, interrompe seu trabalho, para fazer as pausas, as próprias chefias, não apoiam esta atitude que é de prevenção ao adoecimento e diminuição do desgaste psíquico, que vai inclusive aumentar a produtividade.
A ginástica laboral também não é bem aceita por chefias que acham que esta atividade não é necessária e que atrapalha o andamento do trabalho, como se as pessoas fizessem ginástica laboral para fugir do trabalho, quando na realidade a ginástica laboral, auxilia o trabalhador, evita seu afastamento como conseqüência do excesso de atividades sem pausas.
Com relação a ficar em frente a um monitor de computador as pesquisas apontam para a necessidade de tirar o foco da tela a cada 50 minutos, olhar para longe, para que o nervo ótico não fique irritado ou com ardência, nem com a vista “embaralhada”, sem foco no que esta escrito na tela do computador. A recomendação é sair de frente da tela do computador e olhar para objetos a longa distancia, inclusive olhar pela janela, seria uma “ginástica” para o globo ocular mas se o trabalhador faz isso a chefia já chega repreendendo, sem perceber que estas pequenas atitudes são em prol da prevenção da saúde deste servidor, o que vai diminuir o absenteísmo e aumentar a produtividade.
Alertamos, portanto, que o desgaste mental causado pela sobrecarga de trabalho, a ausência de pausas na digitação e a necessidade de deslocar o olhar do computador de tempos em tempos é uma NECESSIDADE, e, que a estas pequenas atitudes são uma forma de prevenir a saúde do servidor e diminuir o adoecimento e consequentemente o absenteísmo, ou seja, ausência do trabalho por motivo de saúde, o que gera por outro lado uma sobrecarga de trabalho para o grupo, pois não há substituições, logo o serviço será feito por quem está trabalhando.
As recentes mudanças no judiciário mineiro, como o aumento da jornada para oito horas, a implementação do PJE (processo judicial eletrônico), com pouco treinamento e a ausência de simulação para um melhor aprendizado, já são fatores que aumentam a carga e a intensidade do trabalho, com seus reflexos no corpo, mente e emoções.
Neste momento tenso, de possíveis perdas de direitos conquistados com muita luta, que os servidores do TJMG vivenciam, cuidar de sua saúde é um dever e para isso cada servidor deve ser ousado e exercer seu direito às pausas, pois os gestores devem entender que esta pequena atitude é benéfica ao servidor e tem relação direta com a produtividade e com o adoecer do trabalhador. O Sinjus esta elaborando uma cartilha sobre virtualização do trabalho suas consequências sobre a saúde do servidor, com uma série de dicas de como trabalhar sem adoecer. As pausas são um pequeno exemplo de como é importante uma mudança nesta organização do trabalho, humanizando as relações, melhorando assim o clima organizacional. Entretanto, sem a participação dos servidores, chefias e magistrados neste processo, o adoecer no judiciário tomará índices ainda mais alarmantes e com o servidor adoecido, não se tem produtividade, nem celeridade, tampouco cumprimento das metas.
Pelo direito de trabalhar sem adoecer, esta é uma luta que começa com a prevenção, com atitudes pequenas como as relatadas acima, mas que devem ser respeitadas e apoiadas pelas chefias e pela instituição.
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