A preocupação e medo já fazem parte do dia a dia de toda a população brasileira desde a chegada da pandemia do novo coronavírus no país. Para os Servidores do Judiciário mineiro, a apreensão se agrava ainda mais após a ocorrência de conflitos envolvendo o Poder Judiciário do estado nos últimos dias.
Como exemplo, preocupou a categoria o caso em que a juíza Letícia Drumond, da Comarca de Itajubá, após revogar o decreto municipal que liberava o funcionamento de bares, igrejas e academias, foi ameaçada em frente à sua casa por empresários locais que exigiam o retorno das atividades, na noite de quarta-feira, 13.
Na mesma semana, na sexta-feira, 15, um ato de impulsividade e desespero levou uma mãe a depredar o Fórum Bárbara de Oliveira Miranda, em Lagoa da Prata, após a prisão em flagrante do filho de 19 anos, acusado de cometer homicídio.
Foto: Jornal Estado de Minas
As crises política e sanitária no Brasil ainda estão longe de ser solucionadas, e ainda mais distante está a possibilidade de se findar a insegurança dos brasileiros. A cada semana são distribuídas milhares de ações na Justiça para discutir, por exemplo, a abertura ou não do comércio e outros setores da economia nos municípios e estados brasileiros. Com isso, aumenta também a possibilidade de haver outras ações como a ocorrida na porta da casa da juíza de Itajubá.
“Infelizmente o Brasil não é um país pacífico. São quase 70 mil assassinatos por ano. O país possui elevadíssimos índices de criminalidade, sobretudo a violenta. No entanto, ainda existem fóruns com a segurança fragilizada, sem detector de metais e que não exigem a identificação das pessoas na entrada, por absoluta falta de estrutura física e/ou humana. Essa cultura de que ‘nada acontece’ pode levar a erros fatais, tragédias terríveis”, aponta Eduardo Couto, vice-presidente do Sindicato.
O SERJUSMIG repudia atos de ameaça e violência e reforça a necessidade de proteção aos Servidores do Judiciário mineiro em atuação presencial ou não. O Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) deve redobrar a segurança e garantir essa proteção aos Trabalhadores em atuação interna e externa, além de garantir a disponibilização de EPIs para todas as Comarcas do estado.
O psicólogo Arthur Lobato avalia os casos de Itajubá e Lagoa da Prata
Arthur Lobato, psicólogo, especialista em Saúde do Trabalhador e consultor do SERJUSMIG, aponta que os casos são diferentes entre si, uma vez que o surto da mãe em Lagoa da Prata pode ser caracterizado como um caso de saúde pública, enquanto as ameaças à juíza de Itajubá apontam de fato uma questão para ser tratada com o apoio da polícia.
Ele explica que a depredação do Fórum na sexta-feira foi um ato de violência, mas irracional. “Temos que entender porque essa mulher cometeu essa ação violenta contra o Fórum. O filho não estava no local, não havia uma razão aparente. Provavelmente é uma pessoa que teve um surto, ou alguém que já tem transtorno mental. Ou seja, o que ela precisa é de atendimento especializado”, explica.
No entanto, o especialista se preocupa com o caso da manifestação na porta da casa da juíza de Itajubá, Letícia Drumond, que caracteriza como ação racional e coordenada. “Quando a decisão correta de uma juíza, amparada pelas orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e entidades sanitárias, acaba por contrariar interesses econômicos e políticos, as manifestações de insatisfação se voltam para ela e não para o Tribunal, devemos nos preocupar. Isso sim é violência”, afirma.
O psicólogo acredita que a pandemia gera medo e insegurança na sociedade, mas alerta para a diferença entre o medo real e o medo neurótico, que causam diferentes reações. O medo real é aquele que temos de contrair coronavírus ao sair de casa para algum tipo de tarefa. Já o medo neurótico é o que chega a nos imobilizar e IMPEDIR de sair de casa, por exemplo.
“O contágio por coronavírus é um perigo real. Se for preciso sair de casa, que seja em último caso e tomando as precauções”, reforça Arthur, acrescentando ainda que há diversos outros medos reais com que os servidores têm que lidar no dia a dia, como o medo do trabalho presencial, atendimento ao público, conflitos e diversos outros.
Ele acredita que a ansiedade tende a aumentar nesse período, e orienta para o que chama de “trabalho mental”, que deve ser exercido por todos. “Se perceber uma aumento na ansiedade, é preciso cada um procurar o melhor caminho para si que possa ajudar. Atividades de lazer, yoga, algo que te distraia e dê prazer. Para alguns pode até ser varrer a casa, fazer comida”, sugere o psicólogo.
Imagem: Portal TJRJ
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