quarta-feira, 28 de maio de 2014

Prevenção do assédio moral no trabalho ganha espaço no site do TJMG



Já está disponível na Intranet do TJMG material de divulgação da política preventiva referente ao assédio moral no trabalho no Tribunal, que visa informar servidores, estagiários e funcionários comissionados e terceirizados sobre o tema, além de orientá-los quanto aos procedimentos para registro de reclamações. A criação da página foi uma solicitação da Comissão Paritária de Prevenção e Combate ao Assédio Moral do TJ, que tem por objetivo coordenar ações de prevenção, promover conciliação e buscar soluções para os casos de assédio moral no trabalho. O diretor de formação e assuntos intersindicais do SINJUS-MG, Robert França, representa o Sindicato no grupo, que é presidido pela juíza auxiliar da Presidência do Tribunal, Flávia Lanari.

A página fica na seção “Saúde no Trabalho”, dentro do menu “Programas e Projetos”. Lá, podem ser encontradas informações sobre a composição e os objetivos da Comissão, ações preventivas realizadas por ela, relatórios, notícias, publicações sobre conciliação e acompanhamento psicológico, perguntas frequentes sobre o tema, além do formulário de reclamações, que depois de preenchido, impresso e assinado, deve ser protocolado no Tribunal, direcionado ao grupo. Também pode ser encontrada uma coletânea de atos normativos como a Resolução 748/2013, a Lei Complementar 116/2011 e o Decreto 46060/2012.
Outras informações ainda serão aprimoradas e incorporadas ao espaço, entre elas a divulgação das jurisprudências sobre o tema, a inclusão de links para sites especializados e as parcerias entre a comissão, a Escola Judicial Desembargador Edésio Fernandes (EJEF) e o setor de mediação do TJMG, ligado à 3ª Vice-Presidência. Em breve, os servidores também vão ter acesso ao vídeo do seminário de assédio moral realizado em novembro de 2013 no TJ.


Ações
A Comissão Paritária também solicitou que a EJEF amplie a divulgação dos canais de comunicação, do planejamento e do cronograma sobre o assédio moral, e que promova palestras mais aprofundadas sobre o assunto nos encontros administrativos realizados no Judiciário, bem como no Programa Servidor Integrado (Serin).
Em abril, a Escola ofereceu uma palestra durante o Programa de Desenvolvimento Gerencial (PDG) para os gestores da 1ª e 2ª instâncias ministrada pela renomada professora e psicóloga Lis Andréa Pereira Soboll (UFPR), que esteve no seminário de combate ao assédio moral de 2013. “Esse tipo de iniciativa é muito importante e precisa ser contínua, afinal, é necessário um olhar multidisciplinar do problema, ou seja, além da visão de direito e justiça, é preciso verificar questões psicossociais e de gestão e liderança”, afirma o diretor de formação e assuntos intersindicais do SINJUS-MG, Robert França.


Cenário nacional
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) enviou ao TJMG uma solicitação de sugestão de meta nacional para combate ao assédio moral no trabalho. Como nem todos os tribunais possuem, a Comissão sugeriu ao Conselho a instituição de comissões paritárias de estudos, prevenção e recebimento de reclamações acerca do assédio moral no trabalho. A solicitação do CNJ foi originada de um pedido de providências solicitado pela Federação Nacional dos Servidores do Judiciário nos Estados (Fenajud) à qual o SINJUS-MG e o Serjusmig são filiados. A Federação foi convidada pelo CNJ para elaborar o texto de uma meta nacional sobre saúde do trabalhador que será apresentada no VIII Encontro Nacional do Judiciário, que acontece no segundo semestre deste ano. Confira a resposta do TJMG ao Conselho na íntegra:
“Atendendo à solicitação de que nos manifestemos quanto à proposição de meta nacional com o tema de combate ao assédio moral, declaramos que o Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais é favorável a tal proposição diante da importância do tema.
Sugerimos, portanto, que a fixação de meta para o Judiciário Estadual seja uma proposta de nivelamento entre os Tribunais, de modo que se estabeleça a obrigatoriedade do estabelecimento de comissão paritária e multidisciplinar de estudos, prevenção e recebimento de reclamações e que tal comissão tenha como atribuições coordenar ações de prevenção, de conciliação e de busca de soluções para os casos de possível assédio moral no trabalho. Além disso, o escopo da meta pode envolver também o desenvolvimento de programas de prevenção como cursos, seminários, palestras e outros. Nos colocamos à disposição para esclarecimentos adicionais”.

Publicado em: http://www.sinjus.org.br

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Prêmio Braskem de Saúde e Segurança no Trabalho


Arthur Lobato - psicólogo

Em nome dos jurados, agradeço o convite para participar deste primeiro Prêmio Braskem de Saúde e Segurança no Trabalho, realizado em parceria com o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Alagoas, Sindjornal, o Ministério Público do Trabalho e o Ministério do Trabalho e Emprego.

Recebemos os trabalhos inscritos nas categorias impresso, TV, rádio, web , estudante e assessoria de imprensa pela internet. Em seguida, selecionamos os melhores trabalhos. Em reunião presencial definimos a classificação das reportagens.

O trabalho ocupa grande parte de nosso tempo e, com as novas tecnologias, ficamos 24 horas conectados, diminuindo nosso tempo para o lazer e a família. Por isso, é importante a preservação de nosso maior patrimônio: a saúde física, mental e emocional.

O Brasil tem mantido média histórica indesejável de mais de 700 mil acidentes do trabalho e doenças ocupacionais por ano, segundo dados de 2012 do INSS. Cerca de 3 mil trabalhadores morrem no Brasil todos os anos. Isso coloca o país no quarto lugar em números absolutos em mortes no trabalho, atrás da China, dos Estados Unidos e da Rússia. Entre as causas desses acidentes estão maquinário velho e desprotegido, tecnologia ultrapassada, mobiliário inadequado, ritmo acelerado, assédio moral, cobrança exagerada e desrespeito a diversos direitos.

No ambiente de trabalho, saúde e segurança caminham juntos. É preciso mudar a mentalidade sobre os
equipamentos de proteção individual, ainda colocados em primeiro plano. Hoje, trabalhadores e empregadores começam a perceber que a gestão dos riscos e o uso de equipamentos de proteção coletiva são mais relevantes. A proteção do meio ambiente de trabalho é responsabilidade da empresa, do trabalhador e de toda a sociedade. Algumas matérias inscritas neste prêmio abordam essa visão.

O concurso incentivou a produção de pautas nos diversos meios de comunicação. Além das denúncias, divulgaram os acertos e as soluções, as intervenções e as alternativas que patrões e empregados estão encontrando para um ambiente saudável no trabalho em busca de uma melhor qualidade de vida.

Importante ressaltar que hoje a maior parte das doenças provocadas ou agravadas pelo trabalho afeta o psiquismo e o emocional do trabalhador e, diferentemente do acidente
no qual o corpo ferido e mutilado apresenta marcas visíveis, a dor emocional e psíquica é subjetiva, invisível aos olhos do outro. Lançado este alerta, ressaltamos, mais uma vez, a importância desta parceria entre a Braskem, o Sindicato dos Jornalistas de Alagoas, o Ministério Público do Trabalho, o Ministério do Trabalho e Emprego e os trabalhadores da imprensa.

Muito obrigado.
26 de abril de 2014





terça-feira, 6 de maio de 2014

Quando o trabalho é pesadelo


Triste constatação do 1º de Maio: os processos por assédio moral multiplicam-se a ponto de caracterizar uma epidemia. Chamam a isso de "precarização"


Escrito por: Cynara Menezes - Carta Capital


Temos hoje as moças e mulheres da fábrica, insignificantes flores de pálidas cores, com um sangue sem rutilância, com o estômago deteriorado, com os membros sem energia!", lamentava Paul Lafargue no clássico O Direito a Preguiça, em 1880, ao descrever as condições de trabalho na Europa de então: mulheres e jovens explorados em jornadas de até 14 horas, vítimas de doenças e acidentes, sob a ameaça de castigos e punições.

Houve mudanças decisivas na vida de mulheres e homens que no próximo 1º de Maio celebram o seu dia, por incrível que pareça, um ambiente hostil voltou a se estabelecerem grandes empresas, fábricas e bancos nos últimos dez anos, em um quadro que os especialistas definem como "precarização do trabalho".

Os processos por assédio moral multiplicam-se na Justiça. Só existem números isolados, indicam, porém, uma epidemia. Na Bahia, por exemplo, em 2001 houve apenas uma queixa por assédio moral em 2010 fora m 081. Pressionados por metas excessivas, trabalhadores são submetidos a xingamentos e constrangimentos pelos superiores. Com medo de perder o emprego, calam-se até o limite do "dano existencial", que começa a ser reconhecido na Justiça trabalhista: depressão, pressão alta, síndrome do pânico e até o suicídio.

Tudo isso oculto em um ambiente à primeira vista limpo, onde são chamados não de "empregados" mas de "colaboradores", um eufemismo para cooptar o operário a aceitar jornadas longas sem sequer se dar conta de que está sendo explorado.

"A pessoa acorda de manhã pensando que vai para o inferno", diz o procurador do Trabalho Valdir Pereira da Silva, autor de uma ação coletiva contra a rede americana de supermercados Walmart, alvo de vários processos por dano moral. "Com a adoção do sistema de metas, o mundo do trabalho hoje é onde tem mais psicopatas e as empresas permitem. Para mim esta é uma visão amadorística, porque o maior patrimônio da empresa é o empregado. O lucro não pode estar acima da dignidade da pessoa humana"

Em outubro do ano passado, o Walmart foi condenado a pagar 22,3 milhões reais de indenização por danos morais coletivos, a maior do País até hoje (a empresa está recorrendo). Há dois meses, a rede anunciou o fechamento de 25 lojas no Brasil, e uma das razões que a própria empresa apontou está no "aumento significativo das reivindicações trabalhistas nos últimos anos".

Na denúncia, os funcionários narram humilhações, xingamentos constantes, preconceito racial e a imposição de cantar hinos motivacionais e dançar nas reuniões. A rede varejista limitaria até mesmo as saídas ao banheiro. Em março do ano passado, um ex-vendedor do Walmart conseguiu no Tribunal Superior do Trabalho (TST) uma indenização de 6 mil reais por ter sido submetido a "castiguinhos" quando não cumpria as metas estabelecidas pela empresa, como limpar o chão do supermercado ou descarregar produtos.

O rapaz "passou a apresentar um quadro de ansiedade, depressão e síndrome do pânico, indo diversas vezes ao banheiro para chorar". Em nota, o Walmart disse a CartaCapital que "os procedimentos adotados em suas unidades ocorrem em total respeito aos funcionários e à legislação vigente no Brasil". Também nos EUA, as denúncias trabalhistas contra a rede são frequentes, sobretudo no que diz respeito a salários.

Perto de 15% dos funcionários do Walmart são obrigados a recorrer aos tíquetes-alimentação fornecidos pelo governo norte-americano para complementar a renda.

Em fevereiro deste ano, o banco britânico HSBC foi multado em 67,5 milhões de reais, em primeira instância, por espionar empregados em Curitiba. Entre 1999 e 2003, a instituição financeira teria contratado detetives para descobrir a "real" razão do alto número de afastamentos por licença médica. Disfarçados de entregadores de flores ou pesquisadores, os investigadores abordavam os empregados, seguiam-nos, filmavam e fotografavam, e remexiam o lixo de suas casas. O banco vai recorrer.

Na semana passada, o HSBC sofreu nova condenação, desta vez no TST, pelas metas abusivas, cobranças exageradas e perseguição a uma ex-funcionária.

Na denúncia, a bancária reclamava que o chefe nem sequer lhe dirigia a palavra e a expunha publicamente dizendo que ia demiti-la. De acordo com uma pesquisa feita em 2009 na Universidade de Brasília, a categoria bancária tem índices de suicídio alarmantes, motivados sobretudo pela pressão para cumprir metas e as ameaças de demissão.

"Por trás desta aparente melhora no mundo da produção, a precarização do trabalho vem aumentando em escala muito ampliada", diz o sociólogo Ricardo Antunes, professor da Unicamp. "Acabou o tempo poroso, os minutos de pausa. A redução do número de trabalhadores significa que passaram a produzir em um ritmo muito mais intenso." De fato, na época em que o ex-presidente Lula liderava as greves no A BC, entre 1978 e 1980, a Volkswagen chegou a ter 40 mil empregados na fábrica de São Bernardo do Campo. Hoje, com a implantação de maquinário, são 13 mil, produzindo cada vez mais.

Torneiro mecânico, Lula perdeu o dedo mínimo da mão esquerda quando trabalhava no turno da madrugada e um colega, ao cochilar por cansaço, acabou soltando a prensa e causando o acidente. Atualmente, a própria profissão de torneiro mecânico está em extinção, já que os tornos são programáveis, e a máquina executa quase todo o processo sozinha. Operários raramente perdem membros trabalhando, mas as lesões invisíveis a olho nu aumentam a cada dia, com o nome de LER/Dort (Lesão por Esforço Repetitivo/Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho).

Estamos em Campinas, a 100 quilômetros da capital paulista. Na sede do sindicato dos metalúrgicos, ouço o testemunho de funcionárias e ex-funcionárias das indústrias de tecnologia que proliferam pela região. Como trabalham em linha de produção, os problemas acontecem em cascata: Luzia dos Santos tem 57 anos e montava placas de computador na norte-americana Sanmina, uma das maiores fabricantes terceirizadas de componentes eletroeletrônicos do mundo. À seu lado, Fátima de Oliveira, de 51, preparava as placas para a inspeção. Por último, Fátima de Araújo, de 48, inspecionava as placas e as colocava no carrinho para irem ao forno.

Tudo isso repetido até 400 vezes por turno causou dores nos ombros, mãos e braços das três, que não conseguem realizar tarefas prosaicas em casa, como varrer o chão ou passar roupa. Duas meninas entram na sala para contar sua história. Carina Jeremias tem 24 anos e Karolline Yukari, 21.

Ambas trabalharam na filial da gigante da tecnologia sul-coreana Samsung em Campinas durante pouco mais de 2 anos e meio. Carina parafusava placas de LCD para notebooks. Três parafusos de cada lado, durante oito horas por dia, e passava para a próxima colega, até começar a sentir dores crônicas nos ombros e mãos.

Karolline montava a tela e o teclado, também parafusando. De 150 a 200 aparelhos diários, sem parar. A ociosidade não é bem-vinda. "Fica um coreano passando e falando "palado por quê?", imita. O polegar da mão direita, um dia, deixou de mexer. Foi operado, mas perdeu o movimento. Ela mostra o dedo, inerte. E o que você vai fazer no futuro se não consegue nem segurar uma caneta para escrever? "Não sei", diz.

Patrocinadora da Copa. a Samsung é alvo de um processo do MPT em Manaus no valor de 250 milhões de reais, com relatos semelhantes: "Realiza a mesma atividade o dia todo, fazendo 2,7 mil aparelhos embalados por dia", "às vezes perde o tato, por insensibilidade". O procurador autor da denúncia compara a situação com o filme Tempos Modernos, de Charles Chaplin, e diz que, se a atual situação se mantiver, 20% dos trabalhadores da empresa terão doenças ocupacionais. A LER/Dort atinge mais as mulheres e, como elas são maioria ali, o trabalho nas fábricas de eletroeletrônicos é uma bomba-relógio.

Há relatos de operários que acordam exaustos, porque sonham a noite inteira que estão montando e montando, sem parar. Os acidentes físicos se reduziram, mas os problemas atípicos, sobretudo os psicológicos, sobem vertiginosamente, "0 governo estabeleceu como prioridade o número de trabalhadores com carteira assinada, mas não pergunta como é esse trabalho", critica o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas, Jair dos Santos. "A fiscalização em cima das empresas é praticamente nula."

Jair conta que, em 2011, uma mãe acionou o sindicato dizendo que a filha, empregada da Samsung, estava sendo mantida de castigo em uma sala, olhando para a parede, porque havia cometido um erro. Após aceitar pagar uma indenização de 500 mil reais por danos coletivos em um acordo com o MPT, a empresa sul-coreana comprometeu-se a acabar Com o assédio aos funcionários, "O problema é que o próprio modelo é assediador, porque o trabalhador funciona como um robô, em linha de produção. Com menos de 30 anos, o trabalhador está estragado", diz o presidente do sindicato.

Procurada por nossa reportagem, a Samsung negou irregularidades. "A Samsung tem a confiança de que trata seus funcionários com dignidade, proporcionando um ambiente de trabalho que assegura os mais elevados padrões da indústria sob os aspectos de saúde, segurança e bem-estar", disse a empresa em nota, informando que a ação do MPT em Manaus está suspensa, porque as partes estão tentando um acordo. A Sanmina não quis se pronunciar.

"Descobriu-se que era impossível substituir todo o trabalho vivo por máquinas, mas ele foi reduzido ao máximo. Por isso, os patrões extraem dos funcionários o máximo possível. São seres humanos sugados até o caroço" diz a procuradora Renata Coelho, do M PT em Campinas. "Os anos 2000 são aqueles em que os empresários buscam recuperar a chamada "década perdida", os anos 1990, 0 ritmo se acelerou tanto que se passou a regular até o tempo que os empregados gastam indo ao banheiro,"

De fato, casos de assédio por não ter o direito de ir ao banheiro pipocam na Justiça trabalhista. Em outubro do ano passado, o TST condenou a Seara Alimentos a indenizar em 5 mil reais uma funcionária que tinha horários preestabelecidos para ir ao toalete, com um tempo cronometrado de 14 minutos, e, como trabalhava na desossa de frangos, precisava antes se desvencilhar de todo o equipamento: avental, luvas e botas.

Outro problema que acarreta queixas e consequentemente ações na Justiça são as revistas na saída da fábrica. O Ministério Público do Trabalho em Pernambuco acionou a Unilever, dona da Kibon, por submeter os empregados a sorteio na portaria para ver quem seria revistado: quem tirasse a bola vermelha dentro de uma bolsa teria de abrir seus pertences.

As táticas de "motivação" também são questionadas. Em Mato Grosso, a Renosa, engarrafadora da Coca-Cola, foi condenada em 2011 por distribuir troféus "tartaruga" e "lanterna" aos piores funcionários. No mesmo ano, a multinacional brasileira de bebidas AmBev, que já sofreu outras condenações por submeter funcionários a situações consideradas vexatórias, teve de indenizar um ex empregado por obrigá-lo a se deitar num caixão quando não atingia a meta fixada pela empresa.

No mês passado, a construtora baiana Vertical Engenharia foi condenada pelo TST a pagar indenização por danos morais coletivos ao estampar no holerite dos funcionários a seguinte frase: "Não desanime, pois até um pé na bunda te empurra pra frente". Em agosto do ano passado, a rede de lanchonetes McDonalds foi multada em 7,5 milhões de reais e fez um acordo se comprometendo a acabar com a jornada flexível, pela qual é alvo de protestos em várias partes do mundo.

Enquanto as condições de trabalho se precarizam, os empresários fazem lobby junto ao Congresso para modificar a Consolidação das Leis do Trabalho. Às vésperas de completar 71 anos, é unanimidade entre os procuradores do trabalho que a CLT precisa ser modernizada. mas as propostas nesse sentido são vistas como mais uma forma de precarização.

Há dois anos, a Confederação Nacional da Indústria lançou um documento contendo 101 propostas para "modernização da CLT. Um dos objetivos seria flexibilizar a jornada e colocar os acordos coletivos acima do que diz a lei, o que chegou a ser proposto no governo Fernando Henrique Cardoso e foi engavetado por Lula.

O projeto foi ressuscitado pelo deputado federal Irajá Abreu (PS D-TO), filho da senadora Kátia Abreu, e está atualmente em apreciação pela Comissão de Trabalho da Câmara. Para quem está do lado dos trabalhadores, oficializar o fim da jornada fixa de 8 horas, o que já ocorre na prática em muitas empresas, seria como jogar 200 anos de lutas pelo ralo e voltar de vez aos tempos pré-Revolução Industrial.

domingo, 4 de maio de 2014

O assédio moral no meio sindical: uma contradição na luta de classes


Por Marcela Cornelli.
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Falar em Assédio Moral já não é tão novo, mas abordar o tema no meio sindical ainda é um desafio. Desafio este que a Fites (Federação Nacional dos Trabalhadores em Entidades Sindicais e órgãos de Classe), com o apoio do Sindes (Sindicato dos Trabalhadores em entidades sindicais da Grande Florianópolis e Região Sul), encarou ao lançar, no dia 30 de outubro, a cartilha “O Assédio Moral no Meio Sindical”. O lançamento foi realizado no auditório da Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina, em Florianópolis, com o apoio da Frente Parlamentar Estadual em Defesa da Saúde do Trabalhador.

“O Assédio Moral fere os direitos e retira a identidade dos trabalhadores. A Frente surgiu com o objetivo de debater e combater esta prática. Para acabarmos com o assédio moral precisamos construir várias ações, mas, principalmente, conscientizar os trabalhadores e as trabalhadoras. A Frente parlamentar tem buscado avançar nesta luta”, disse o deputado Neodi Saretta (PT), presidente da Frente, que abriu a mesa do debate.

“A atual gestão da Fites priorizou esta luta. A cartilha traz alguns diferenciais de outras cartilhas sobre o assunto. A cartilha da Fites fala do assédio cometido pelo sindicalista, traz um depoimento de uma trabalhadora em sindicato e um questionário a ser respondido pelos trabalhadores e encaminhado à Federação”, disse Janilde Franco de Araújo, Diretora de Política Social da Fites, trabalhadora do Sindsprev/RJ e uma das elaboradoras da cartilha.

Na opinião de Janilde, “alguns sindicatos começaram a se transformar em grandes escritórios. É como se o sindicalista passasse a ter uma grande empresa para administrar. Ele não vai mais para a base fazer política e começa a disputar espaço com o funcionário dentro da entidade. Toda relação de trabalho tem conflitos. Isto é inerente à sociedade capitalista na qual vivemos onde há hierarquia, relação de poder e luta de classes. Mas o que deve imperar é o respeito.”

Emocionada, a diretora da Fites e do Sindes, Sivandra Krauspenhar, trabalhadora de sindicato e vítima de Assédio Moral, fez um relato do assédio que sofreu. Ela falou a dificuldade de denunciar o assédio e buscar a Justiça.“Fiquei três meses para poder escrever sobre o que aconteceu comigo. Escrever era relembrar o assédio”, conta. “Sempre trabalhei com amor e carinho. Foram 13 anos e não três dias. Não foram todos os diretores que me assediaram, mas os que não se manifestaram foram coniventes. Tive sintomas como depressão profunda, paralisia da cintura para cima, dores nos braços, entre outros. Quando retornei de uma licença médica eles tiraram minhas funções. Apesar de vítima, você se sente culpada pelo assédio. O apoio doa amigos da família é fundamental. É preciso também que o trabalhador que sofre assédio procure o seu sindicato para ser orientado. O Sindes me apoiou muito.”

“Assédio moral dói. Mas, quando vem de pessoas, sindicalistas, que dizem combater esta prática, dói mais ainda”, disse Schirlei Azevedo, Representante da Rede de Combate ao Assédio Moral no Trabalho. “Em uma empresa privada, a gestão visa o lucro e para isso oprime os trabalhadores. Dentro das entidades sindicais é ainda mais sofrido. Quando o trabalhador é também um militante, ele sonha com uma mudança na sociedade e quando o assédio acontece dentro do espaço que deveria ser de transformação e luta, ele perde sua identidade, desanima. Viver estas contradições é muito difícil. A solidariedade de classe precisa ser resgatada”. Para Schirlei, as relações de trabalho estão desumanizadas. Isso é resultado da sociedade capitalista que oprime os trabalhadores. “Não existe capitalismo humanizado. O capitalismo oprime e até mesmo ceifa vidas”.

“O trabalho continua sendo central nas nossas vidas e quando acontece alguma coisa negativa no trabalho, isso nos abala muito. Os trabalhadores em sindicatos se questionam o porquê sofreram algum tipo de violência se não estão em uma empresa privada. Em uma empresa, se o trabalhador se submete ao assédio, é um processo rápido até a sua demissão. No sindicato leva o tempo que a pessoa aguentar”, argumentou a palestrante Margarida Barreto, médica do trabalho, professora da Universidade de São Paulo (USP) e vice- coordenadora do NEXIN (Núcleo de Estudos Psicossociais da Dialética Exclusão/Inclusão Social).

“Em uma empresa privada os trabalhadores compram a ideia de que se a empresa crescer eles crescerão juntos. Em uma entidade sindical os trabalhadores compraram a ideia de que podem transformar o mundo”, ponderou a palestrante. “Não é possível aceitar que a solidão e o sofrimento do trabalhador sejam uma coisa normal. Que a injustiça impere no local de trabalho”.

O presidente da Fites e do Sindes/SC, Edilson Severino, que coordenou a mesa, disse que o desafio da Fites está só começando. “É um primeiro passo. Há muito o que fazer. A cartilha será lançada em outros estados no intuito de iniciarmos um combate a esta prática nefasta aos trabalhadores”.
Texto e fotos: Marcela Cornelli, jornalista e Diretora do Sinde 

Fonte: Sindes.