sábado, 22 de julho de 2017

O TRABALHO LIBERTA? PARTE 2


“EU SÓ CUMPRO ORDENS” era a frase do nazista gerente de campos de extermínio, Adolf Eichmann, no seu julgamento em Israel, que Hannah Arendt tão bem chamou de banalização do mal. Cumprir ordens sem pensar, sem questionar, este é o desejo dos chefes despreparados para lidar com a alteridade. É o poder que existe nas organizações fundadas em uma hierarquia vertical, militarizada. É do poder excessivo das chefias que surgem os grandes conflitos e o adoecimento no trabalho em pleno século XXI, já que humanidade deixou de ser uma relação entre humanos para se tornar uma palavra vazia no vale tudo das empresas e instituições. Assim, ao fazer o que é mandado, qual o sentido de se estar trabalhando?
O capitalismo pós-guerra aprendeu muito com o modelo de produção nazista, onde tecnologia e trabalho humano eram a forma de sempre aumentar as metas e a produtividade, mesmo com a exaustão mental, física e emocional dos trabalhadores, que hoje não morrem no trabalho, mas adoecem e são descartados pois existem milhões de desempregados.
A obsessão por metas e produtividade, até hoje modelo do sistema bancário, adoece e mata, conforme vários estudos e pesquisas, e o trabalhador fica com a culpa de não ter dado conta, de que ele é incompetente, ou seja, introjeta o discurso da organização do trabalho, sem perceber que ele dá o máximo de si, e não foi reconhecido seu limite enquanto ser humano, e o pior, existem milhares para ocupar o seu lugar e adoecer e morrer como nos campos de extermínio nazistas. Só que atualmente a morte não é a realidade principal, mas o adoecimento, a sensação de fracasso, de que podia ter se esforçado mais, de não ter dado conta, em vez da morte a culpa e a vergonha dominam corações e mentes destes trabalhadores adoecidos pelo sistema onde o capital é tudo, e o ser humano simplesmente um meio para ser explorado em busca de mais capital para uma elite que controla o mundo com o capital especulativo financeiro. É como no filme de Fritz Lang, Metrópole, Moloch, o devorador de almas através do trabalho até a exaustão total do trabalhador.
No pós-guerra, o economista britânico John Keynes foi um dos criadores do estado do bem-estar social que fixou a jornada de 8 horas com intervalo de almoço, seguro- desemprego, previdência e seguro-saúde como dever do estado e direito do cidadão. Estado que deveria cuidar dos feridos, dos mutilados, dos adoecidos, e preservar a vida na velhice de quem trabalhou a vida inteira.
O “welfare state” ou Estado do bem-estar social foi a resposta humanista para criar condições de trabalho e de vida que fossem o oposto do modo de produção nazista. Mas o capitalismo com Margaret Thatcher, Ronald Regan na década de 80 do século passado começou o desmonte do bem-estar social e implantou a terceirização, a previdência privada, a perda de direitos dos trabalhadores, pois o que importava era o capital. No Brasil hoje, quando o projeto neoliberal avança com força máxima através de um governo ilegítimo, em minha opinião, e de um congresso afoito por reformas trabalhista e previdenciária, para mim, são como os nazistas, mas, se antes o que interessava era o poder absoluto através da guerra, hoje vemos o poder absoluto do capital sobre a classe trabalhadora com o apoio da mídia que muito aprendeu com seu grande líder, o ministro da propaganda de Hitler, Goebbels. Seu lema é o mesmo da imprensa vendida aos interesses do capital internacional: uma mentira dita milhares de vezes vira verdade.
Mas sempre restará aqueles que, como nós, queremos um mundo melhor para nossos filhos, que pensamos como Abraham Lincoln: “você pode enganar uma pessoa por muito tempo; algumas por algum tempo; mas não consegue enganar todas por todo o tempo”.
Trago essas reflexões, radicais para alguns, mas fundamentais pela história, para que cada um de nós reflita e tenha plena consciência de que o trabalho só vai libertar a humanidade quando for um trabalho que tenha sentido para quem executa esse trabalho,  quando o trabalhador for respeitado em suas diferenças. Quando a voz do trabalhador estiver presente na política de metas, quando o coletivo se organizar em busca  de mais produtividade sem que os envolvidos adoeçam por isso. Para isto, o trabalhador deve ser respeitado, amparado, ter o direito de adoecer ou de a mulher engravidar sem ser punida por isso, principalmente, vocês, servidores públicos, alvos da mídia, do Estado, do Congresso Nacional. Nunca se esqueçam de que vocês são concursados, com estabilidade, para fazer com que o interesse público não se transforme em mais um lote de exploração da iniciativa privada. Através da terceirização dos serviços públicos, transformarão o que é público em privado, beneficiando como sempre as elites e os poderosos.
Portanto, neste momento da Blitzkrieg  (guerra relâmpago) do capital sobre nossos direitos sociais, do trabalho e previdenciários, cujos efeitos sobre as vidas de cada um de nós serão no mínimo nefastos, que ressurjam o eco da frase escrita em 1848 e que deve ser o lema de TODOS, não só brasileiros: TRABALHADORES UNI-VOS!
*Arthur Lobato é psicólogo/Saúde do trabalhador.

Publicado em: http://sinjus.org.br


quarta-feira, 5 de julho de 2017

Depressão e absenteísmo no trabalho

Por Arthur Lobato, psicólogo, responsável pelo Departamento de Saúde do Trabalhador e Combate ao Assédio Moral (DSTCAM) do SITRAEMG e representante do Sindicato no Comitê Gestor de Saude TRT.
Alguns conceitos referentes à saúde do trabalhador já se tornaram assuntos corriqueiros em conversas e a depressão é um tema que todos comentam. Segundo a OMS — Organização Mundial da Saúde —, a depressão é o mal do século. Os estudos referentes à saúde mental têm fornecido dados importantes para entender esse fenômeno que pode acometer qualquer um de nós. Hoje, é inegável o fator trabalho como componente de análise entre as possíveis causas de depressão, e quando falamos de trabalho, falamos do empregado e do desempregado, pois não conseguir trabalho em nossa sociedade de consumo é sinal de fracasso e exclusão, consequentemente um fator importante na depressão.
Se o trabalhador empregado vive a angústia de poder ficar desempregado, o servidor público concursado, com estabilidade, teoricamente, deveria apresentar um quadro de maior sanidade mental e emocional, pois seu emprego está garantido. Mas, não é isso que aponta o estudo de absenteísmo realizado pelo TRT e TRE. O absenteísmo — a ausência do funcionário no ambiente de trabalho –, ou o número de horas de trabalho perdidas, por transtorno mental e emocional, ocupam o primeiro lugar nos motivos de afastamento, seguido pelas doenças osteomusculares (LER – DORT).
Segundo Bruno Farah, psicólogo do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, e Doutor em Teoria Psicanalítica (UFRJ/Université Denis Diderot – Paris 7), é preciso interferir na contramão dos mecanismos de gestão que individualizam o trabalho, que criam a competição extremada, produzem uma autonomia enganosa, deterioram as possibilidades de um trabalho comum. Para ele, a saúde no trabalho deve estar no centro da gestão do trabalho. “A gestão precisa ver a abundância de competências e não sua carência, deve ser capaz de promover uma autonomia compartilhada e uma interdependência entre sujeitos e não a enganosa autonomia prescrita de uma independência solitária e impotente”.
A OMS define depressão como um transtorno mental comum, caracterizado por tristeza, perda de interesse, ausência de prazer, oscilações entre sentimentos de culpa e baixa autoestima, além de distúrbios do sono ou do apetite. Também há a sensação de cansaço e falta de concentração. Estimativas da OMS apontam que em 2020, a depressão será a maior causa de afastamento nas empresas do mundo inteiro.  A depressão tornou-se um problema social, “o mal do século XXI”.
Bruno Farah em seu livro “A Depressão no Ambiente de Trabalho: prevenção e gestão de pessoas”1, correlaciona a depressão como sintoma social e analisa como o poder paradoxal de um modelo de gestão, compreendido por Gaujulec, como doença social, e por Ehrenberg que analisa a depressão como doença da autonomia. Bruno analisa  a depressão e sua relação com o modelo de gestão. Importante é sua constatação que o “enfrentamento do problema precisa dar-se na ordem do coletivo do trabalho”, já que “ninguém evolui – instituição, empresa ou pessoa – sem a participação coletiva” afirma o William Douglas, juiz federal, e que a “saúde no trabalho, deve estar no centro da gestão do trabalho” conclui Bruno. Quando um psicólogo e um juiz entendem que a questão da saúde do trabalhador envolve os coletivos de trabalho, entendo que a organização do trabalho tem sua responsabilidade na prevenção em prol da saúde do trabalhador, ou seja, entendo que o trabalho é um significante importante na vida de todos nós, e que más condições de trabalho, exigências absurdas por metas e produtividade, competição entre os colegas são fatores que levam ao sofrimento e ao adoecimento.
Segundo Bruno, a depressão apresenta os seguintes sintomas:
– Humor deprimido na maior parte do tempo;
– Interesse diminuído ou perda de prazer nas atividades diárias;
– Sensação de inutilidade ou culpa excessiva;
– Indecisão ou diminuição da capacidade de concentração;
– Fadiga ou falta de energia;
– Insônia ou sono excessivo;
– Agitação ou lentidão de movimentos;
– Perda ou ganho significativo de peso;
– Ideias recorrentes de morte ou suicídio.
Cinco destes sintomas, juntos, por mais de duas semanas, caracterizam o transtorno depressivo maior, mas, apenas um sintoma pode ser extremamente desagradável. Farah afirma que a depressão contemporânea deflagra um sofrimento relacionado a responsabilidade de si, uma doença da autonomia, onde prevalecem sentimentos de insuficiência (não consegui o suficiente) e vergonha por ter fracassado, por não ter dado conta. Assim, segundo o autor, “a responsabilidade e a vergonha são dois ingredientes centrais para entendermos o sofrimento manifesto na depressão”.
O SITRAEMG, através do departamento de saúde esta com as portas abertas para atendimento individual, no projeto Clínica do Trabalho. Participe e ajude o Sindicato na elaboração de uma política de prevenção à saúde em busca de um ambiente saudável de trabalho, onde as relações interpessoais tenham por base o respeito, a honra e a dignidade da pessoa humana.
1 Farah, Bruno. A depressão no ambiente de trabalho: prevenção e gestão de pessoas: um estudo sobre as empresas contemporâneas a luz do Judiciário Federal. São Paulo: Ltr, 2016. Pág. 33)

Publicado em: http://www.sitraemg.org.br/

terça-feira, 4 de julho de 2017

Servidores da 1ª Instância se unem a milhares de trabalhadores e fortalecem a Greve Geral

Publicado em:http://site.serjusmig.org.br/