sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Artigo: "Sofrimento no trabalho e suas consequências"


A Organização Mundial de Saúde afirma: “A depressão é a principal causa de problemas de saúde e incapacidade em todo o mundo. De acordo com as últimas estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 300 milhões de pessoas vivem com depressão, um aumento de mais de 18% entre 2005 e 2015. A falta de apoio às pessoas com transtornos mentais, juntamente com o medo do estigma, impedem muitas pessoas de acessarem o tratamento de que necessitam para viver vidas saudáveis e produtivas. ”
Ainda segundo a OMS, “A depressão é um transtorno mental comum, caracterizado por tristeza persistente e uma perda de interesse por atividades que as pessoas normalmente gostam, acompanhadas por uma incapacidade de realizar atividades diárias por 14 dias ou mais. Além disso, as pessoas com depressão normalmente apresentam vários dos seguintes sintomas: perda de energia, alterações no apetite, dormir mais ou menos do que se está acostumado, ansiedade, concentração reduzida, indecisão, inquietação, sentimentos de inutilidade, culpa ou desesperança e pensamentos de autolesão ou suicídio. A depressão também é um fator de risco importante para o suicídio, que acaba com centenas de milhares de vidas a cada ano.”
Vivemos em permanente tensão. Exemplo disso é quando somos obrigados a ser um ator social representando um personagem que é falso. Quando agimos no trabalho obedecendo ordens absurdas, dizendo sempre “sim, senhor”. Quando nosso potencial não está sendo bem aproveitado e mesmo assim continuamos trabalhando em um ambiente desmotivador. Convivemos com fatores que geram tristeza, desanimo, melancolia, sentimentos que se agravam, quando não há nenhuma expectativa de melhora ou mudança.
Hoje é inegável o fator trabalho como componente de análise entre as possíveis causas de depressão. No Tribunal de Justiça de Minas Gerais os estudos sobre absenteísmo apontam os transtornos mentais e emocionais como o principal fator de afastamento do trabalho.
Segundo Edith Seligmann-Silva, pesquisadora, médica com doutorado em medicina preventiva pela USP “O desgaste mental acontece quando a carga psíquica é maior que a capacidade do trabalhador em executar a (sobre)carga de trabalho.”  Para a autora, “Os componentes da carga psíquica podem ser constituídos pelos mais variados sentimentos — medo, repugnância, raiva, vergonha, ou resultam ainda do sentimento de impotência e/ou fracasso na realização das próprias expectativas de desempenho.”
Afinal, o que tenho que suportar para sobreviver?
Quais são os limites entre sanidade, sofrimento e adoecimento?
Os transtornos mentais e emocionais se manifestam em diferentes sintomas (choro, insônia, ideia fixa, tristeza…), e apresentam quadro clínico que evolui do sofrimento para um quadro depressivo.
O desequilíbrio emocional pode ser causado pela mágoa, pela impotência de reagir. Perceber-se sozinho frente a apatia dos colegas, pois o individualismo, que é outra característica do trabalho no mundo globalizado, rompe os laços de solidariedade.
O SERJUSMIG desenvolve um projeto de saúde do trabalhador e combate ao assédio moral. Procure o sindicato para apoio psicológico caso você estiver vivenciando sofrimento no ambiente de trabalho.
Arthur Lobato é psicólogo/saúde do trabalhador
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quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

O Trabalho Liberta? (Parte 2)

Por Arthur Lobato, psicólogo, coordenador-técnico do Departamento de Saúde do Trabalhador e Combate ao Assédio Moral (DSTCAM) do SITRAEMG.
“EU SÓ CUMPRO ORDENS” era a frase do nazista gerente de campos de extermínio, Adolf Eichmann, no seu julgamento em Israel, que Hannah Arendt tão bem chamou de banalização do mal. Cumprir ordens sem pensar, sem questionar, este é o desejo dos chefes despreparados para lidar com a alteridade. É o poder que existe nas organizações fundadas em uma hierarquia vertical, militarizada. É do poder excessivo das chefias que surgem os grandes conflitos e o adoecimento no trabalho em pleno século XXI, já que humanidade deixou de ser uma relação entre humanos para se tornar uma palavra vazia no vale tudo das empresas e instituições. Assim, ao fazer o que é mandado, qual o sentido de se estar trabalhando?
O capitalismo pós-guerra aprendeu muito com o modelo de produção nazista, onde tecnologia e trabalho humano eram a forma de sempre aumentar as metas e a produtividade, mesmo com a exaustão mental, física e emocional dos trabalhadores, que hoje não morrem no trabalho, mas adoecem e são descartados pois existem milhões de desempregados.
A obsessão por metas e produtividade, até hoje modelo do sistema bancário, adoece e mata, conforme vários estudos e pesquisas, e o trabalhador fica com a culpa de não ter dado conta, de que ele é incompetente, ou seja, introjeta o discurso da organização do trabalho, sem perceber que ele dá o máximo de si, e não foi reconhecido seu limite enquanto ser humano, e o pior, existem milhares para ocupar o seu lugar e adoecer e morrer como nos campos de extermínio nazistas. Só que atualmente a morte não é a realidade principal, mas o adoecimento, a sensação de fracasso, de que podia ter se esforçado mais, de não ter dado conta, em vez da morte a culpa e a vergonha dominam corações e mentes destes trabalhadores adoecidos pelo sistema onde o capital é tudo, e o ser humano simplesmente um meio para ser explorado em busca de mais capital para uma elite que controla o mundo com o capital especulativo financeiro. É como no filme de Fritz Lang, Metrópolis (1) , Moloch, o devorador de almas através do trabalho até a exaustão total do trabalhador.
No pós-guerra, o economista britânico John Keynes foi um dos criadores do estado do bem-estar social que fixou a jornada de 8 horas com intervalo de almoço, seguro-desemprego, previdência e seguro-saúde como dever do estado e direito do cidadão. Estado que deveria cuidar dos feridos, dos mutilados, dos adoecidos, e preservar a vida na velhice de quem trabalhou a vida inteira.
O “welfare state” ou Estado do bem-estar social foi a resposta humanista para criar condições de trabalho e de vida que fossem o oposto do modo de produção nazista. Mas o capitalismo com Margaret Thatcher, Ronald Regan na década de 80 do século passado começou o desmonte do bem-estar social e implantou a terceirização, a previdência privada, a  perda de direitos dos trabalhadores, pois o que importava era o capital. No Brasil hoje, quando o projeto neoliberal avança com força máxima através de um governo ilegítimo, em minha opinião, e de um congresso afoito por reformas trabalhista e previdenciária, para mim, são como os nazistas, mas, se antes o que interessava era o poder absoluto através da guerra, hoje vemos o poder absoluto do capital sobre a classe trabalhadora com o apoio da mídia que muito aprendeu com seu grande líder, o ministro da propaganda de Hitler, Goebbels. Seu lema é o mesmo da imprensa vendida aos interesses do capital internacional: uma mentira dita milhares de vezes vira verdade.
Mas sempre restará aqueles que, como nós, queremos um mundo melhor para nossos filhos, que pensamos como Abraham Lincoln: “você pode enganar uma pessoa por muito tempo; algumas por algum tempo; mas não consegue enganar todas por todo o tempo”.
Trago essas reflexões, radicais para alguns, mas fundamentais pela história, para que cada um de nós reflita e tenha plena consciência de que o trabalho só vai libertar a humanidade quando for um trabalho que tenha sentido para quem executa esse trabalho, quando o trabalhador for respeitado em suas diferenças. Quando a voz do trabalhador estiver presente na política de metas, quando o coletivo se organizar em busca de mais produtividade sem que os envolvidos adoeçam por isso. Para isto, o trabalhador deve ser respeitado, amparado, ter o direito de adoecer ou de a mulher engravidar sem ser punida por isso, principalmente, vocês, servidores públicos, alvos da mídia, do Estado, do Congresso Nacional. Nunca se esqueçam de que vocês são concursados, com estabilidade, para fazer com que o interesse público não se transforme em mais um lote de exploração da iniciativa privada. Através da terceirização dos serviços públicos, transformarão o que é público em privado, beneficiando como sempre as elites e os poderosos.
Portanto, neste momento da Blitzkrieg (guerra relâmpago) do capital sobre nossos direitos sociais, do trabalho e previdenciários, cujos efeitos sobre as vidas de cada um de nós serão no mínimo nefastos, que ressurjam o eco da frase escrita em 1848 e que deve ser o lema de TODOS, não só brasileiros:TRABALHADORES UNI-VOS!


 1 Filme de 1927, retratando uma possível sociedade futura, onde há a exploração do trabalho e diferença de classes.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

De que adoecem e morrem os trabalhadores na era dos monopólios

Lançamento do Volume II do livro DE QUE ADOECEM E MORREM OS TRABALHADORES NA ERA DOS MONOPÓLIOS - 1889/2016 e DEBATE com autores.

A violência do trabalho no Brasil
 
Data: 19 de Janeiro
Horário 18h30
Local: Fundação Perseu Abramo
Rua Francisco Cruz, 234 - Vila Mariana - São Paulo

 


 

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Lançamento Livro: Assédio Moral, Saúde do Trabalhador e Ações Sindicais


Apresentação de Roberto Heloani*



Esta coletânea de artigos do psicólogo Arthur Lobato trata de temas que têm instigado não somente acadêmicos e pesquisadores em Administração, Psicologia, Sociologia, Direito, Medicina do Trabalho, Ciências Sociais e ciências correlatas.
Há algo em comum em todos os capítulos: o sofrimento a que são submetidas as pessoas que passam pelo processo de assédio moral. Este afeta a saúde e viola os direitos fundamentais do trabalhador. É um risco não visível que gera mal-estar e reação social, causa danos psíquicos, desencadeia doenças e pode levar à morte por suicídio. Como se não bastasse a forte conceituação, o pesquisador demonstra que este mal pode ocorrer no seio de qualquer grupo, até de pessoas com ilibado conhecimento científico, isto é, em um grupo de pesquisadores ou servidores da justiça.

O autor aponta para os novos desafios que a nova ordem da economia mundial, instaurada nas sociedades capitalistas neoliberais demandam. Esta tem sido marcada pela intensa competição entre as organizações e apoiada no uso expressivo de novas tecnologias de produção em constantes transformações, criando um ambiente mutável e de grande instabilidade nas organizações modernas.

Da leitura desse texto, para mim, uma pergunta não se cala: será possível professarmos um esboço de modelo de gestão baseado no genuíno respeito pelas pessoas, nesta ordem capitalista selvagem?

Convidamos aos leitores para aproveitarem as reflexões sugeridas em cada parte desse livro, e desejamos a todos uma excelente leitura. 


* Roberto Heloani

(Formado em Direito pela Faculdade de Direito São Francisco-USP ; formado em Psicologia pela PUC-SP ; mestrado em Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas-FGV-SP ; doutorado em Psicologia Social pela PUC-SP ; livre-docente e professor pesquisador da Faculdade de Educação da UNICAMP ; professor pesquisador da FGV-SP.)




JAL Maresfield Garden

Sobre o Autor
Arthur Lobato é Psicólogo, coordena a Comissão de Combate ao Assédio Moral de sindicatos de servidores da justiça de Minas Gerais e o Departamento Saúde e Combate ao Assédio Moral dos Servidores da Justiça Federal - SITRAEMG. Colaborou na redação do projeto da Lei Complementar 116/2011 – combate ao assédio moral no serviço público do Estado de Minas Gerais.





Para comprar envie um e-mail para taiswebjornalismo@gmail.com


O Trabalho liberta? (parte 1)

Por Arthur Lobato, psicólogo, coordenador-técnico do Departamento de Saúde do Trabalhador e Combate ao Assédio Moral (DSTCAM) do SITRAEMG.

O TRABALHO LIBERTA - Portão de entrada de Auschwitz.

Começo citando a frase que estava no portão de Auschwitz— as fábricas da morte do regime nazista —, sempre em busca de mais produtividade e metas, ou seja, matar mais rápido e em maior número  judeus, e quem era contra o regime nazista. O racionalismo é aliado da busca tecnológica por mais “produtividade”, como o gás Zyklon-B fabricado por uma das maiores indústrias químicas alemãs que existe até hoje. Quando os prisioneiros entravam nos campos de concentração eram iludidos que ali teriam trabalho e condições de vida e que o trabalho seria sua redenção. Uma mentira tão grande como o banho obrigatório para os mais velhos e doentes, onde em vez de água saía o gás mortal, que exterminava em minutos.
Aliás, os nazistas inventaram várias modalidades de trabalho tendo como premissa o trabalho escravo, usando trabalhadores dos países conquistados para trabalhar até a exaustão, até a morte, em atividades perigosas e insalubres. Toda a energia física, mental e emocional era sugada pelo modo de produção nazista.
 É um modelo de exploração sobre a força de trabalho que o capitalismo pós segunda guerra utilizou, assim como a propaganda nazista, modelo para o domínio dos meios de comunicação sobre corações e mentes de várias gerações. Racionalismo científico, produtividade, bater metas com o uso de tecnologia, essa foi a principal herança do modelo nazista de produção para o capitalismo. Sim, o trabalho libertou da vida o escravo, mas com sua morte.
Hoje o capitalismo, através do projeto neoliberal, vai explorando corpos e mentes até a exaustão, mesmo sabendo que o adoecer não é uma fraqueza do sujeito mas um efeito do modo de produção que vivemos hoje, por exemplo, quando o trabalho assume o lugar central de nossas vidas. Antes trabalhávamos para viver, hoje vivemos para trabalhar e coitado do adoecido e do desempregado pois eles são excluídos do processo produtivo e a culpa é jogada nele, e não no modelo como se organizou o trabalho após a segunda guerra mundial.
Se os nazistas usavam a força de trabalho até a morte, hoje o capitalismo com seu discurso neoliberal usa a força de trabalho humano até a exaustão, até o adoecimento, e o assédio moral é um modelo de gestão adoecedor, que tira toda a energia física, psíquica e emocional do trabalhador, que adoecido é descartado e com a culpa introjetada de ser um fraco, de não ter dado conta de se superar diariamente na produtividade que é a exploração da mais valia do trabalhador e dos coletivos do trabalho.
Quando a política de metas e produtividade é lançada como um furacão no serviço público, não se estuda o que aconteceu quando este modelo foi implementado nas privatizações dos bancos estaduais, com o alto índice de adoecimento dos bancários e elevado suicídios no ambiente de trabalho. Esconde-se os efeitos deste modelo, para elogiar o “sucesso” do aumento da produtividade.
Edith Seligmann-Silva, psiquiatra, doutora em medicina, afirma que:
O assédio moral em casos de pessoas adoecidas, menos produtivas, pode ocorrer devido a reabilitação inadequada que pode levar, inclusive ao assédio grupal, com a participação de colegas, o que pode ser explicado pelo sentimento de que a pessoa, por produzir menos, sobrecarrega os demais, que podem, de fato, sentir-se sobrecarregados. É uma situação na qual na verdade, quem adoeceu deveria ser reabilitado em uma função adequada a suas outras capacidades.(SELIGMANN-SILVA, 2011)
Por isso o discurso que a previdência é deficitária e tem que mudar, que terceirização, a qual chegará ao serviço público, é boa, por isso necessária, e outras mentiras que vemos, ouvimos e lemos diariamente nos jornais, rádio e TV, afinal a mentira repetida mil vezes vira verdade, já afirmava o ministro da propaganda nazista Goebbels.
Cabe aos sindicatos, serem o nosso “Bunker” contra estas reformas neoliberais, diria mais, nazistas, contra todo o povo brasileiro. Somente nossa união, sair às ruas, conscientizar amigos, filhos e desconhecidos, de que enfrentamos o massacre do capital contra nós trabalhadores, aposentados e desempregados. Pois, se não lutarmos contra o mal ele dominará e destruirá o que ainda resta de humanidade neste planeta.
Em 2018 o SITRAEMG e o DSTCAM reafirmam seu compromisso de lutar contra o assédio moral e todo tipo de violência no ambiente de trabalho. Servidores do Judiciário Federal em Minas Gerais: contem conosco!

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

REVISTA 238 - Expressão SINJUS - JANEIRO 2018

Na primeira revista do ano — Expressão SINJUS 238 - janeiro 2018 —, três páginas sobre a importância de políticas de promoção da saúde, destacando o trabalho do psicólogo à frente da Clínica do Trabalho e Rodas de Conversa  coordenadas pelo psicólogo Arthur Lobato até dezembro de 2017. 
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