segunda-feira, 26 de maio de 2008

MATERNIDADE E ASSÉDIO MORAL

* Arthur Lobato

ASSÉDIO SEXUAL E ASSÉDIO MORAL
O assédio moral, muitas vezes, acontece com a mulher que negou o assédio sexual, ou, após término de um envolvimento afetivo/sexual. A mulher ao negar transformar-se em objeto sexual mantém sua dignidade, mas começa a sofrer o assédio moral, de forma perversa, uma vingança do homem que não respeita o ser feminino.
O assédio pode ser horizontal – entre colegas, e vertical – exercido pela chefia.
Em todo assédio moral há sempre uma questão ligada a não aceitação da diferença – gênero, idade, raça, religião, competência, estética, entre outros.
O feminino é objeto de ataques nos pontos vitais da mulher – como a questão da menstruação e da gravidez. As pesquisas científicas já colocam a TPM como causadora de vários sintomas nas mulheres, e neste momento de transformação hormonal, o assediador entra em ação. Por outro lado, na gravidez a mulher é questionada no seu desejo de ser mãe, é assediada na sua intimidade, como se o trabalho fosse mais importante que a vida, criando assim um sentimento de culpa durante a gravidez, na licença maternidade e na volta ao trabalho. Neste período além do assediador, alguém do grupo valida o discurso de que ela “abandonou” os colegas, insistindo na sua volta, e que “o chefe não esta nada satisfeito com sua gravidez”.
Na volta ao trabalho, a mulher é novamente assediada, pois é exigido dela evitar ter mais filhos, para “não prejudicar mais o trabalho da equipe”. Piadinhas, como: “nunca ouviu falar de pílula”; “descansou muito”; “você engordou...” – são comuns, causando baixa auto-estima na mulher vítima de assédio moral. O assediado é ridicularizado por aspectos subjetivos de sua personalidade.
A mulher ao sofrer o Assédio Moral começa a questionar sua subjetividade. Não percebendo ser vítima de assédio moral acha que o problema se deve ao fato dela ser feia, ou gorda ou velha – questões que não tem relação com seu trabalho, mas com o seu corpo e sua subjetividade. As vítimas de assédio moral mantêm um sentimento de terem sido rejeitadas, maltratadas, desprezadas, humilhadas.
O mal causado pelo assédio moral é irreversível, em muitos casos, causando paranóia, psicose maníaco-depressiva, fragmentação psíquica e desequilíbrio emocional. É fundamental que esta prática seja evitada para não provocar conseqüências graves no trabalho e na saúde do trabalhador.

* Psicólogo, jornalista e membro da Comissão de Combate ao Assédio Moral no Trabalho em sindicatos de trabalhadores

segunda-feira, 19 de maio de 2008

FORMAS DE SE DEFENDER DO ASSÉDIO MORAL

* Arthur Lobato

Estudos revelam que a estrutura de trabalho autoritária e centralizadora é campo fértil para o exercício do autoritarismo, que significa a prática da violência moral ou psíquica no ambiente de trabalho.

Tanto o homem como a mulher no poder, quando autoritários, têm o mesmo comportamento: praticam o assédio moral com a mesma intensidade contra homens e mulheres. Mantêm a ambivalência do discurso, negando que haja problemas com o assediado, sendo que alguém do grupo de trabalhadores referenda o assédio através de críticas, ironias, fofocas, isolando a vítima de assédio do grupo. É importante lembrar que em todo assédio há um problema com relação à diferença.

O assédio surge na maioria dos casos quando os gestores usam do autoritarismo e de práticas perversas sobre o grupo de trabalhadores, na busca de conseguir seus objetivos, tendo como conseqüência queda de produtividade devido ao absenteísmo, licenças médicas, desunião do grupo, e pedidos de mudança de setor.

Para evitar este mal estar no trabalho, além de evitar o conflito, é importante não se distanciar do grupo, criando alianças com os colegas, detectando assim quem referenda o assédio no grupo e quem está solidário. É necessário, também, que se levante provas – testemunhas, documentos, e-mail, bilhetes, atestados médicos. Deve-se ficar atento a violações dos direitos do servidor e, se possível, anotar em um caderno, com páginas numeradas, as palavras, os atos, os dias, as pessoas presentes e a repetição das agressões, humilhações e ironias, para que se caracterize o processo de assédio moral.

O servidor que sofre o assédio moral deve procurar o sindicato para que sejam tomadas as providências jurídicas necessárias a fim de preservar a integridade psíquica do servidor no ambiente de trabalho e defender seus direitos.

Para finalizar, uma reflexão sobre o pensamento de uma juíza sobre o assédio moral: “O assédio, coação ou violência moral está ligado ao direito fundamental à dignidade humana, à imagem, à honra, à personalidade e à saúde do empregado, todos, direitos da Constituição Federal”.
Claudia Reina, juíza do Tribunal Regional do Trabalho – 1ª Região (TRT/RJ).

Arthur Lobato é psicólogo, e membro da Comissão de Combate ao Assédio Moral no Trabalho do Sinjus e Serjusmig.

Artigo publicado no jornal Expressão Sinjus Nº 161, em 28 de abril de 2008

ASSÉDIO MORAL: O ASSEDIADOR

* Arthur Lobato

No assédio moral é sempre importante lembrar a questão da repetição, da sistematização e da intencionalidade do ato de assediar. Estes três elementos, além da não aceitação da diferença do “outro”, comprovam o ato de assediar moralmente.

Geralmente o assédio é praticado por chefes ou subchefes, às vezes cumprindo “determinação superior”, ou seguindo um plano de metas impossível de ser alcançado, mas muitas vezes agindo por conta própria.

Além do assediador (aquele que exerce o assédio), alguém no grupo valida o assédio, ridicularizando a vítima, agindo “pelas costas”, referendando o discurso do assediador sobre a vítima, quase sempre uma pessoa competente ou questionadora. No entanto, pode acontecer o assédio moral entre grupos de funcionários que se unem em busca de poder e exclusão de outros funcionários.

O objetivo do assediador é desestabilizar psiquicamente, emocionalmente e profissionalmente um funcionário após um extenuante processo de assédio moral, transformando a vítima em alguém que se sinta incapaz, incompetente, desmotivado, o que justifica a demissão, perda do cargo de chefia, ou mudança de setor.

Na execução do assédio moral existe a ambivalência do discurso do assediador, sempre com duplo sentido, e a negação da verdade. As reprimendas são constantes assim como as múltiplas pequenas agressões, zombarias, sobrecarga de tarefas, sem que haja tempo hábil de executá-las ou retirada de tarefas e funções, e falta de condições materiais de trabalho (computador, mesa, telefone,...). As observações são sarcásticas, irônicas, cáusticas, há uma crítica sistemática do trabalho, recados e avisos não são repassados e muitas vezes como forma de humilhação há o desvio de função.

A vítima é vigiada, pressionada e aos poucos vai sendo isolada do grupo e do processo produtivo. Ridicularizada por aspectos subjetivos de sua personalidade, criando dúvidas e queda da auto-estima. Com a falta o apoio do grupo de trabalhadores é cada vez maior o isolamento da vítima. Pressionada, a vítima de assédio moral adoece. As faltas no serviço e licenças médicas servem como munição para o assédio continuar. Por outro lado, o assediador nega e deturpa os fatos, evidencia os erros, criando uma imagem de incompetência da vítima.

Na próxima edição trataremos do sofrimento psiquíco da vítima de assédio moral e a seguir as formas de defesa para quem é assediado.

* Psicólogo da comissão de combate ao assédio moral no Sinjus, Serjusmig e Sitraemg.

Artigo publicado no jornal Expressão Sinjus Nº 160, em 7 de abril de 2008

ASSÉDIO MORAL NO SERVIÇO PÚBLICO

* Arthur Lobato

O trabalho no mundo globalizado, caracterizado por competitividade, individualismo e produtividade é campo fértil para disseminação de um dos grandes males para a saúde física e mental dos trabalhadores: o Assédio Moral.
O que é?
Segundo Mary France Hirigoyen, uma das maiores estudiosas do assunto, o assédio moral é toda conduta abusiva e repetitiva, manifestada por comportamentos, palavras ou gestos, que possam trazer danos à dignidade, integridade física e psíquica de uma pessoa no ambiente de trabalho.
Como é?
O Assédio Moral se manifesta, por exemplo, quando o funcionário é sobrecarregado; retirado de suas funções, com tarefas que não condizem com seu cargo; é isolado e tem seu trabalho subestimado. Trata-se de uma prática autoritária, desumana, que adoece física e psicologicamente, incapacitando o assediado, até que ele peça demissão, ou, seja demitido por justa causa.
Setor Público
No serviço público, o assunto deve ser amplamente debatido, pois apesar da estabilidade, o assédio se apresenta de formas sutis: na avaliação de desempenho, nas promoções, no apostilamento, na obrigação de executar tarefas com prazos impossíveis de serem cumpridos.
Perseguida, a vítima é frustrada na possibilidade de ascensão funcional, se acomoda ou cai em depressão, necessitando, muitas vezes de licenças médicas.
Razão X Emoção
Quem já atendeu vítimas de assédio moral percebe, imediatamente, como o discurso racional está entrelaçado com o afeto. A palavra (significante) possui vários significados, remetendo a períodos de dor e frustração.
O dano psicológico e emocional está avançado e, muitas vezes, são necessários muitos anos de acompanhamento psiquiátrico e psicológico para a superação deste processo de agressão psicológica.
A vítima de assédio moral deseja mais do que tudo o resgate de sua dignidade.
Diante das conseqüências nocivas à saúde física e mental dos trabalhadores, o assédio moral tem sido motivo de preocupação de diversos setores da sociedade organizada.
Coibir a prática
Para coibir esta prática são necessárias campanhas de esclarecimento sobre o que é o Assédio Moral em palestras, seminários e grupos de estudos.
Além disso, é fundamental o fortalecimento e a união dos trabalhadores na denúncia dos abusos, dando visibilidade a essas práticas abusivas, pois a próxima vítima pode ser você.
Denúncias
O SINJUS-MG criou um grupo de estudos para debater, intervir e elaborar projeto de lei que coíba o Assédio Moral no serviço público.
Para isso, disponibilizou o email assediomoralnotjmg@yahoo.com.br , para denúncias, com sigilo absoluto, e um plantão de atendimento a vítimas de assédio moral, composto por psicólogo, advogado e sindicalista.
Somente unidos poderemos enfrentar este mal que assola a saúde dos trabalhadores. Se você é vítima ou testemunha de assédio moral, não seja conivente. Denuncie!

Arthur Lobato é psicólogo e pesquisador da questão do assédio moral

Artigo publicado no jornal Expressão Sinjus Nº 149, em 15 de junho de 2007

A IMPORTÂNCIA DA PREVENÇÃO NO COMBATE AO ASSÉDIO MORAL

* Arthur Lobato

Muitas vítimas de assédio moral só percebem que sofreram o processo doloroso do assédio quando este já foi executado, sua capacidade laborativa foi minada e já vivencia uma série de problemas somáticos, psíquicos e emocionais.
O sintoma é aquilo que emerge, é o que aparece. E os sintomas mais comuns nas vítimas de assédio moral são: baixa-estima, nervosismo, stress, insônia, taquicardia, perturbações gastro-intestinais, falta de desejo sexual, consumo indiscriminado de drogas lícitas e ilícitas, esgotamento físico e psíquico. Sintomas que podem levar a diagnósticos como depressão, ansiedade, síndrome do pânico, transtorno obsessivo compulsivo, paranóia, etc.
A causa de todo este mal é ter sido vítima de assédio moral.
No trabalho a vítima de assédio moral geralmente apresenta queda na produtividade e na qualidade do serviço, falta de motivação, atrasos, licenças médicas, isolamento do grupo e ambivalência dos sentimentos - como mecanismos de defesa.
Muitas pessoas não acreditam que o quadro descrito acima acontece. Por isso, faço uma comparação: pode-se não acreditar que um simples mosquito transmita uma doença que leva até à morte, como no caso da dengue hemorrágica, mas é uma realidade. O doente vítima da dengue precisa de cuidados médicos, assim como a vítima de assédio moral. Nos dois casos o mais importante é a prevenção, pois a doença já é o sintoma.
A prevenção da dengue se faz com campanhas educativas e orientação para impedir que o mosquito transmissor da dengue se prolifere, eliminando suas larvas e impedindo o aumento de casos da doença. Da mesma forma, no assédio moral é importante a divulgação do tema em campanhas educativas de esclarecimento, palestras, debates, leituras sobre o assunto e principalmente na atuação dos sindicatos na defesa da saúde do servidor. Tudo para que o assédio não tome proporções de uma epidemia. Somente com a prevenção e o combate poderemos impedir a proliferação deste mal: o assédio moral no trabalho.

* Psicólogo, jornalista e membro da Comissão de Combate ao Assédio Moral no Trabalho em sindicatos

Artigo publicado no jornal Expressão Sinjus nº 156, em 23 de novembro de 2007

MODALIDADES DE ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO

*Arthur Lobato

O assédio moral afeta a integridade psíquica e física de uma pessoa, incapacitando-a para o trabalho, e é caracterizado por ataques sistemáticos repetitivos com a intenção de prejudicar. Em todo assédio moral existe a discriminação e não aceitação da diferença.
Mas existem diversos tipos de assédio moral no trabalho.
O assédio moral vertical descendente é o mais comum. É aquele praticado pela chefia contra seu subalterno. Um gestor que constantemente desqualifica um servidor competente na avaliação de desempenho pode estar praticando assédio moral. Já o assédio moral vertical ascendente é quando algum subordinado pratica o assédio moral contra o chefe.
No serviço público, este tipo de assédio moral geralmente é exercido pelo grupo de servidores contra o gestor. Pode ser o caso do grupo que não aceita a nomeação de um novo gestor ou do grupo que se une contra o gerente por causa do excesso de rigor na avaliação de desempenho.
Uma avaliação de desempenho feita sem critérios, onde a nota máxima é dada para todos, pode trazer insatisfação de parte do grupo, que se revolta pelo benefício aos menos capacitados e a falta de valorização dos mais competentes.
Quando o assédio moral acontece entre colegas é chamado de assédio moral horizontal. Parte do grupo exerce o assédio contra outro grupo: mais novos contra os mais velhos; mais capacitados que almejam promoções e discriminam aqueles que consideram menos capacitados. Prática que causa danos a todos.
Em todo assédio moral há manipulação para se adquirir poder, sendo que a inveja, o ciúme e a rivalidade funcionam como combustível para o assédio moral.
O importante é perceber também a questão da vitimização - quando o servidor ou gestor utiliza-se de conceitos do assédio moral em benefício próprio ou para prejudicar outros, fazendo-se de vítima de assédio moral.
Independentemente dos tipos de assédio, é necessário denunciar esta prática, pois todo processo de assédio moral, se não for impedido, pode causar danos irreversíveis à saúde do trabalhador, prejudicando o ambiente de trabalho como um todo.
Arthur Lobato
psicólogo e pesquisador do assédio moral no trabalho


Canal de denúncias contra a prática do assédio moral:
assediomoralnotjmg@yahoo.com.br

Artigo publicado no jornal Expressão Sinjus Nº 155, de 5 de novembro de 2007

O ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO

* Arthur Lobato
Um dos significados da palavra assédio é "submeter sem tréguas a pequenos ataques repetidos". Na história das guerras de conquisas, o assédio era o cêrco a uma cidade fortificada, executado por um exécito assediador que bloqueava a comunicação da cidade com o mundo externo, minando assim a resistência da cidade e de seus cidadãos.
A execução do assédio moral no trabalho também vai minando a capacidade do trabalhador, que isolado do grupo, com o tempo, também "capitula", rende-se, desiste.

A marca da maldade

O assédio moral no trabalho deve ser compreendido como um processo perverso e autoritário por parte do assediador. Todo assédio é realizado de forma oculta, dúbia, maliciosa, dando margem a diversas interpretações por parte do assediado, causando um adoecimento psíquico/emocional da vítima.

Em todo assédio moral, há constantes agressões pontuais, sistematizadas, geralmente contra pessoas competentes e questionadoras. Há, por parte do assediador, uma intencionalidade em prejudicar, em fazer o mal. Existe uma ambivalência do discurso, na qual o que é feito é negado, o dito vira não dito. O assediador sempre conta com alguém do grupo de trabalhadores para validar o assédio.

Em todo assédio moral sempre há a questão de não se aceitar a diferença do outro, seja por gênero, crença, raça, estética, idade, etc. O assédio moral é uma prática autoritária e desumana, os danos psíquicos causados à vítima são, muitas vezes irreversíveis.

As vítimas de assédio mantém um sentimento de terem sido rejeitadas, maltratadas, desprezadas, humilhadas e desejam mais do que tudo o resgate de sua dignidade.

Somente a prevenção o debate e esclarecimento pode cortar este mal pela raiz.

* Arthur Lobato é psicólogo, pesquisador do assédio moral no trabalho

* Artigo publicado no jornal Expressão Sinjus Nº 154, em 10 de outubro de 2007