terça-feira, 31 de julho de 2018

Saúde do trabalhador: A importância da relação entre o sintoma e a origem do sofrimento no trabalho

Por Arthur Lobato, psicólogo, responsável técnico pelo Departamento de Saúde do Trabalhador e Combate ao Assédio Moral (DSTCAM) do SITRAEMG.
O professor doutor Christophe Dejours, especialista em psicanálise, saúde e trabalho é professor titular da cadeira de Psicanálise, Saúde e Trabalho do Conservatório Nacional de Artes e Ofícios, em Paris, na França, e diretor de pesquisa na Universidade René Descartes Paris V. Em palestra feita no TRT4, em Porto alegre, Dejours propõe uma mudança paradigmática: da análise do sintoma (efeito da doença) para a etiologia: a origem da doença. Segundo o pesquisador “todo problema na organização do trabalho é um problema político”.
Quando se constata que aumenta cada vez mais o número de doenças mentais ocasionadas pelo trabalho, temos um diagnóstico a partir do adoecer, por isso é importante entender as origens desde adoecer, para poder impedi-lo. Dejours propõe uma virada paradigmática:
“… em vez da análise do sintoma, partir para a etiologia: a análise das causas da doença, que deram origem ao sintoma” (ponta do iceberg/doença). Afinal, o sintoma é o que se manifesta, é o fenômeno que se analisa, de onde deve partir a análise para compreender suas origens (etiologia). É uma virada epistemológica, uma mudança do paradigma atual sobre o adoecer do trabalhador, reforçando a ênfase na descoberta da origem da doença para que a prevenção seja realmente eficiente.
Dejours ressalta a importância de um atendimento multidisciplinar no campo da saúde do trabalhador, discurso importante neste momento, quando no Brasil, o “ato médico” de forma autoritária consolidou o poder supremo da medicina sobre outras áreas de saber da saúde como um todo. Entretanto, sabemos que o psicólogo, o assistente social, o fisioterapeuta, o enfermeiro, o nutricionista, e outros profissionais de saúde, também possuem saberes inerentes a sua profissão, que não podem ser desconsiderados ou excluídos de um tratamento.
Queremos enquanto profissionais da saúde do trabalhador, entender os possíveis destinos da relação entre trabalho e subjetividade, com a multiplicidade de saberes em prol do ser humano.
Por isso, segundo Dejours “no ambiente de trabalho é importante a realização de pesquisas para entender a relação entre o trabalho e o adoecer do trabalhador”.
Afinal, a saúde mental é individual, mas também pertence ao coletivo de trabalhadores, e a prevenção é o tecido social, já que envolve a solidariedade e o respeito entre e para com os trabalhadores. Para Dejours, as principais questões/problemas/conflitos relatados em suas pesquisas envolvem a hierarquia, a disciplina e a autoridade. Constata-se que a autoridade diferente do autoritarismo, que é uma forma de abuso de poder, é uma aprendizagem que se faz na relação do trabalho. Na análise sobre a hierarquia e disciplina, constata-se que “quanto mais regras, maior é o medo”.
Em ambientes onde prevalecem o autoritarismo nas relações de trabalho, como no caso de alguns tribunais, o trabalhador desconectado do grupo, do coletivo, procura desenvolver estratégias de defesa individuais que representam uma recusa de sofrer, para “sobreviver” no trabalho. No entanto o sofrimento mental e emocional, represado pela estratégia de defesa individual, logo evolui para o adoecimento e para o transtorno psíquico emocional. Não podemos esquecer que na clínica do trabalho, a identidade do trabalhador é criada no campo do trabalho, por isso é importante um espaço para falar do trabalho, pois “só assim se chega a uma arbitragem sobre as deliberações e opiniões dos trabalhadores para a adaptação das normas da instituição, com a experiência e o saber do trabalhador”. Por isso, é importante a análise da etiologia (origens da doença) e não apenas tratar os sintomas, sem buscar a fonte do mal-estar, do adoecer do trabalhador. Que este seja um dos focos para as futuras pesquisas e ações das Comissões Paritárias dos Tribunais/Sindicatos, criadas para preservar a saúde dos servidores e magistrados: unir as normas da instituição com o saber do trabalhador, em busca de um ambiente saudável no trabalho.

Arthur LobatoPsicólogo/ Saúde  do trabalhador

quinta-feira, 26 de julho de 2018

Teletrabalho na Justiça Federal, uma realidade em todo judiciário

Por Arthur Lobato, psicólogo, responsável técnico pelo Departamento de Saúde do Trabalhador e Combate ao Assédio Moral (DSTCAM) do SITRAEMG.
O teletrabalho, trabalho a distância ou home office é uma realidade no mundo do trabalho, um elemento a mais da nova forma como trabalho se organizou no século XXI, e faz parte da categoria denominada virtualização do trabalho, pois não existe teletrabalho sem que a informática seja o suporte para realização desta atividade, além do uso da internet de alta velocidade.
O teletrabalho veio para ficar e já existe como modalidade de trabalho em diversas categorias. Por isso, o SITRAEMG desenvolve estudos críticos a esta modalidade de trabalho, como forma de orientar e prevenir os trabalhadores sobre os prós e contras desta atividade, abrindo o debate e a reflexão, útil e necessária. Os dois pontos cruciais importantes para análise são: o trabalho passa a ser realizado longe do coletivo do trabalho e, ao mesmo tempo, invade a vida privada ao se montar um escritório em casa. Outro fator importante é que em vez do controle pela jornada de trabalho, o controle se dá pela produtividade, que deve ser maior do que a praticada no tribunal referência.
Assim no teletrabalho temos o controle do tempo, do ritmo e da intensidade do trabalho pelo gestor, pelos relatórios estatísticos de produtividade e pela política de metas e produtividade.
O SITRAEMG já desenvolve uma série de ações visando analisar de forma crítica os pontos positivos e negativos do teletrabalho, conforme artigos publicados no site e a palestra no XI Congresso Ordinário do SITRAEMG. No evento, a tese sobre teletrabalho redigida por mim e pelo e coordenador-executivo do Sindicato e servidor do TRT Hélio Diogo foi aprovada por unanimidade pela plenária.
O SITRAEMG participa com estes dois representantes no comitê do teletrabalho do TRT e considero importante que possamos participar destes debates nos outros tribunais e colaborar de forma que a implementação do teletrabalho siga as orientações da instituição, mas que também preserve a saúde dos trabalhadores no quesito metas e produtividade, buscando evitar a total invasão do espaço privado e dos momentos de lazer pelo trabalho.
Assim o SITRAEMG disponibiliza informações para este debate, pois a nossa função é prevenir, ou seja, alertar, e para isso é necessário que o debate seja realizado, com a participação daqueles que vão ou já estão realizando o teletrabalho.

Arthur LobatoPsicólogo/ Saúde  do trabalhador


quarta-feira, 25 de julho de 2018

Dia 27 de julho: Dia Nacional da Prevenção de Acidentes de Trabalho

Para celebrar a data, o Tribunal, juntamente com o SITRAEMG e Amatra-3, promoverá ato público e palestras no prédio da Av. Getúlio Vargas, em BH.

A coordenadora do SITRAEMG Elimara Gaia e o psicólogo Arthur Lobato, responsável técnico pelo Departamento de Saúde do Trabalhador e Combate ao Assédio Moral (DSTCAM) do Sindicato, participaram de mais uma reunião do Comitê Gestor de Saúde do TRT na sexta-feira, 13/07. Nesse encontro, os integrantes do Comitê, seguindo diretrizes do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), agendaram, para o próximo dia 27 de julho, às 14 horas, um evento para celebrar a data, que é o Dia Nacional da Prevenção de Acidentes de Trabalho. Em parceria com o Sindicato e a Amatra-3, o Tribunal promoverá um ato público tendo como tema “Saúde e Segurança no Trabalho: enfrentamento e superação de violências”, no TRT da Getúlio Vargas, seguido por palestra e debate no 8º andar do mesmo prédio.
A desembargadora do TRT da 3ª Região e presidente do Comitê Gestor de Saúde, Denise Alves Horta, destaca que o objetivo do ato público é alertar e conscientizar os trabalhadores sobre a da necessidade de permanecerem atentos com a prevenção em acidente do trabalho. “É preciso também que eles se encorajem para o enfrentamento e a superação de violências no trabalho. A segurança e a dignidade neste ambiente são os pontos que a sociedade espera e reivindica. Por isso, a denúncia é essencial para que possamos alcançar condições mais seguras e dignas para todos os trabalhadores”, diz.
Já a coordenadora do SITRAEMG e representante do Sindicato no Comitê Gestor de Saúde do TRT Elimara Gaia está satisfeita com o fato do TRT3 ter abraçado a iniciativa e preocupado com a segurança de seus servidores e magistrados. “Estamos lutando por nossa segurança dentro dos locais de trabalho e nas ruas. A participação dos servidores no ato e na palestra é indispensável e extremamente importante para o bem-estar e saúde da categoria. Se todos fizerem a sua parte e comparecerem na sexta-feira, teremos avanços nos nossos benefícios e faremos a diferença na busca de um ambiente de trabalho sem violência”, ressalta.

O Comitê foi criado pela Portaria TRT3/GP nº 173/2016, em atendimento à Resolução CNJ 207/2015, que instituiu a Política de Atenção Integral à Saúde de magistrados e servidores do Poder Judiciário.

segunda-feira, 9 de julho de 2018

Especialistas e servidores debatem sobre preparar- se ao longo da vida profissional para uma maturidade saudável

A filiada e servidora Rosimare, em parceria com o SITRAEMG, promoveu ontem (04/07), a roda de conversa “Maturidade ativa e saudável: Preparando-se ao longo do curso da vida profissional”. O evento teve ínicio no começo da noite, e contou com a participação de oito especialistas, que compuseram a mesa de debate.
No inicio do evento, Rosimare deu boas vindas a todos os presentes e apresentou os resultados da pesquisa “Os principais desafios do envelhecimento no trabalho de servidores públicos” feita em Maio desse ano, também promovida com apoio do SITRAEMG. O estudo visou compreender e discutir os obstáculos enfrentados pelos servidores aposentados em seu ambiente de trabalho.  A pesquisa foi feita por meio de um questionário entregue aos aposentados, que  respondiam perguntas sobre as atividades exercidas no período de trabalho, as principais mudanças observadas nesse tempo e os aspectos positivos e negativos do envelhecer no trabalho. A pesquisa também contou com a participação de especialistas da área da ergologia, ramo da ciência que estuda as situações do trabalho.
Após apresentar os resultados, Rosimare lançou a nova pesquisa, voltada para os servidores ativos. A pergunta, homônima ao tema da Roda de Conversa,  era  “Como se preparar ao longo da vida profissional para uma maturidade ativa e saudável? (levando-se em conta os resultados da pesquisa e a experiência profissional)”.
A mesa de debate era formada pelos  coordenadores do SITRAEMG Célio Izidoro e Paulo José da Silva; Glausse Caetano Rosa, terapeuta ocupacional e gerontóloga;  Áurea Maria Parreira, aposentada e psicológa que atuou no TRT; Arthur Lobato, psicólogo e responsável técnico pelo Departamento de Saúde do Trabalhador e Combate ao Assédio Moral (DSTCAM) do SITRAEMG; Maria do Carmo Catalano, servidora da Justiça Federal e médica do trabalho; Rosilene Strecker, linguista e Vanilda de Souza, também servidora do PJU.
Célio Izidoro foi o primeiro a responder a pergunta. Ele destacou que a maturidade saudável, em um ambiente de trabalho, se inicia desde uma infância, que deve ser sadia. Paulo também se manifestou, abordando os impactos da mecanização do trabalho e as metas de produtividade impactam de forma negativa na saúde dos servidores.

Glausse ressaltou a importância das relações interpessoais. Para ela, manter as relações com amigos e família é importante para se ter um processo de envelhecimento saudável, além, claro de ser uma pessoa flexível quanto as mudanças externas do mundo. Maria do Carmo falou sobre a problemática da relação entre o trabalhador e a instituição.  Muitos servidores, ao se aposentarem, acabam perdendo vínculo com o local de trabalho e com os colegas, o que acaba gerando um sentimento de “abandono” do novo aposentado.  Os limites físicos que chegam com o envelhecimento do corpo, também foram lembrados durante o debate. Áurea Maria Parreira, a primeira psicóloga do TRT,  apontou uma alternativa:  “Adaptar aos limites e continuar evoluindo, buscando conhecimento.”
 O individualismo no ambiente de trabalho, também permeou a discussão.  Arthur Lobato mostrou preocupação com esse problema, provocado pelas novas formas de organização do trabalho.  Segundo ele, com a eliminação do “tempo morto”, o momento em que você pode tomar um café e conversar com seu colega, as pessoas acabam não criando vínculos, o que acaba levando a esse processo de individualização do trabalhador.
Rosilene Strecker, abordou a questão do ponto de vista da linguística. Para ela, a necessidade do aposentado se expressar,  o que é dificultado pela própria sociedade em que vivemos, é um dos pontos a serem considerados para uma maturidade saudável.
A discussão entre os especialistas e servidores foi finalizada por Vanilda, que está em processo de aposentadoria. Ela disse que está em busca de novas atividades para se preparar para a nova rotina.
Logo após, o público pode conversar com os debatedores, fazer perguntas e dar opiniões acerca do que foi discutido.
Ao final do evento, Rosemaire  lembrou aos presentes sobre a consulta pública “Propostas de Metas Nacionais para a Justiça do Trabalho” feita pelo TRT-3. Até amanhã, a pesquisa está aberta para que todos os cidadãos opinem sobre as metas de produtividade desse tribunal. A pesquisadora destacou a importância da participação de todos, para que a prestação jurídica seja eficaz, mas que preserve a qualidade de vida e saúde dos servidores.