segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Conflitos no trabalho

Por Arthur Lobato, psicólogo, responsável técnico pelo Departamento de Saúde do Trabalhador e Combate ao Assédio Moral (DSTCAM) do SITRAEMG


Quando pensamos nos conflitos no trabalho, que muitas vezes evoluem para o assédio moral, devemos analisar a natureza humana – afinal, somos seres do conflito, como já diziam os filósofos e os reformadores religiosos. Um dos textos mais antigos do mundo, o hindu Bhaghavad-gitã, mostra a luta do guerreiro Arjuna contra outros guerreiros, mas, principalmente, contra si mesmo. Neste texto milenar encontramos a definição de Arjuna sobre a mente dividida, uma das características do ser humano: “A natureza da mente é vacilante, às vezes ela aceita algo e imediatamente rejeita a mesma coisa. O aceitar e o rejeitar constituem o processo da mente”. Este pensamento que revela o ser clivado, dividido, tão bem analisado por Freud, encontramos também nos textos de um dos fundadores do cristianismo, o apóstolo Paulo, que escreveu na carta aos romanos: “Porque o que faço não o aprovo; pois o que quero, isso não faço, mas o que aborreço isso faço”. Assim, temos o primeiro tipo de conflito, o conflito intrapsíquico, ou seja, conflito entre eu e eu mesmo. Uma das causas do conflito intrapsíquico é a realidade da morte, que não podemos negar, mas que buscamos através da religião, da arte, da loucura, subterfúgios para escapar desta dura realidade, nossa mortalidade, esse conflito entre viver e morrer, que gera o pânico, o desespero, a ansiedade, a depressão e este conflito só termina com nossa morte. Entretanto, segundo as religiões, ainda seremos julgados por nossos atos e pensamentos, e assim, vivos ainda imaginamos nosso conflito pós-morte. Se somos seres do conflito, como conviver um com o outro?
A resposta é o poder absoluto do Estado sobre o indivíduo, fruto do pacto social, como Thomas Hobbes escreveu em sua obra “O Leviatã”. O Estado, na pessoa do soberano e de suas instituições, será mais forte e poderoso que o indivíduo e julgará e punirá os conflitos entre seus súditos. Mas nos conflitos entre estados, que levam às guerras, conflito entre nações, que são na realidade conflitos entre seres humanos de países diferentes, não é mais a violência de um indivíduo, mas a violência da comunidade. Afinal, por que tamanha violência de um ser humano contra outro ser humano? Por que é tão difícil “amar o próximo como a ti mesmo”? Freud, em sua obra “O mal estar na cultura”, já avisava: “fora da civilização somente existe a barbárie”, ou seja, ou o ser humano reprime seus instintos agressivos ou uma sociedade realmente humana jamais existirá, pois, como disse o psicanalista, fome e sexo são nossas pulsões primárias, e para satisfazê-las o ser humano realiza todas as transgressões – principalmente, matar, eliminar quem se opõe ao seu desejo, por isso a sociedade é construída no recalque destas pulsões primárias. Freud destaca, em sua obra o “conflito de opinião”, que ocorre entre pessoas, e que pode levar à agressão verbal, agressão física e, no ambiente do trabalho, evoluir para o assédio moral. No nosso campo de trabalho, a saúde do trabalhador, são muito comuns no ambiente de trabalho os conflitos interpessoais, conflitos entre colegas de trabalho, por diversos motivos, principalmente os conflitos de opinião. É o conflito interpessoal, conflito entre duas ou mais pessoas. Se somos seres do conflito, tanto ontogenicamente (o indivíduo) como filogeneticamente (a espécie humana), o que diremos nos conflitos que acontecem no trabalho? E o que dizer do serviço público, onde concursados de diferentes idades, formação cultural, religião, gênero, devem trabalhar juntos e conviver entre si por anos e anos?  Só vendo o outro ao mesmo tempo como meu semelhante, mas respeitando sua alteridade, suas diferenças, características da subjetividade humana e praticando a tolerância, podemos sobreviver enquanto espécie.
Por isso, é importante que saibamos que os conflitos interpessoais no trabalho são normais, pois o conflito é explícito, diferente do assédio moral que é feito de forma oculta. Dejours, fundador da psicodinâmica do trabalho, a qual analisa a relação de prazer e sofrimento no trabalho, afirma que o conflito é positivo, quando explicitado, debatido e que as partes envolvidas aceitem o que vai ser melhor para o trabalho a partir da análise do conflito e propostas de solução. O mesmo não pode ser dito do assédio moral, pois há uma intenção de prejudicar, com atos, gestos e palavras direcionadas contra uma pessoa, atos e palavras feitas de forma dissimulada, ambígua, gerando dúvidas na autoestima e na capacidade laboral do assediado. Importante no assédio moral é como o modelo de gestão e a organização do trabalho são componentes deste processo. Um modelo de gestão que pregue a competitividade e o individualismo transforma colegas em adversários, e muitas vezes vale tudo para ter uma promoção ou um cargo ou função comissionada. Sempre é bom lembrar o que é assédio moral: “e? uma conduta abusiva, intencional, frequente e repetida, que ocorre no ambiente de trabalho, e que visa diminuir, vexar, constranger, desqualificar e demolir psiquicamente um indivíduo ou um grupo, degradando as condições de trabalho, atingindo sua dignidade e colocando em risco sua integridade pessoal e profissional” (Freitas, Heloani, Barreto – 2008). Quando lutamos contra o assédio moral, trabalhamos com a prevenção e com um processo educativo no qual é importante lidar com conflitos, respeitando o outro, para também ser respeitado. Queremos dar visibilidade a este inimigo invisível no ambiente no trabalho, combater o psicoterror, a gestão por stress, e a organização de trabalho que favorece o adoecimento dos trabalhadores, seja por permitir ou não coibir o assédio moral, esta é uma luta política do SITRAEMG, através do DSTCAM, que  oferece ao sindicalizado atendimento psicológico e jurídico para enfrentar as adversidades no trabalho.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Sobre o medo da morte

É preciso saber lidar com as adversidades e a grande adversária da vida é a morte. O medo da morte é a raiz da nossa crise existencial, mas pode nos levar a ter uma existência significativa.
Por Arthur Lobato - psicólogo

Precisamos saber lidar com a adversidade e a grande adversária que a vida nos reserva é a morte. Este medo da morte é a raiz da nossa crise existencial. Este medo paralisante é encoberto em nossa sociedade por atividades como o trabalho, o consumo, os passatempos. Muitas vezes, é sublimado pela arte e religião. No entanto, segue como um mal-estar permanente.
Este mal estar que Freud chama de pulsão de morte e o filósofo Kierkegaard, de desespero humano, significa o encontro da consciência com a morte, sendo vista como uma realidade inevitável. O filósofo Karl Jasper afirmava que a morte é  a única experiência que não pode ser vivenciada pelo indivíduo, pois apenas pode-se refletir sobre ela a partir da realidade da morte do outro. Assim, pela lógica da razão, sabe-se que “ eu sou homem e todo homem é mortal. Logo eu também vou morrer”. Daí vem a crise existencial, a angústia insuportável, que se manifesta no mal-estar consigo mesmo/a e com os outros.
Não somos eternos e nem insubstituíveis
Nosso processo mental é regido pelas relações sociais, familiares, pela genética, pelo país em que se nasce, pela cultura, normas, leis e tabus. É nessa interação entre indivíduo, seu semelhante, sua sociedade e sua cultura, que surge o sujeito pensante, a razão e emoção. Pensar e ter consciência de nossa finitude é também o que nos move para a ação.



É o que nos levar a viver a vida, a entender que não somos eternos nem insubstituíveis. Aliás, há um ditado que diz que “o cemitério está cheio de pessoas que  eram insubstituíveis”,  mas que no outro dia após a morte já havia alguém ocupando seu posto no trabalho ou na sociedade. Se quem morre é um homem que ocupa um cargo público importante, por exemplo, logo ele será substituído por um suplente.
Como dizia Freud, somos definidos enquanto sujeito pela forma como lidamos com nossas pulsões, tanto as pulsões de vida quanto as de morte. E para lidar com elas, temos que nos relacionar com o mundo e com nossos semelhantes.
A certeza da nossa finitude deveria nos fazer sempre questionar a forma em que vivemos. Deveria nos ajudar a dar um basta quando somos obrigado a ser um ator social, representando um personagem que é falso. Quando agimos no trabalho obedecendo ordens absurdas, dizendo sempre “sim senhor”. Quando nosso potencial não está sendo bem aproveitado e mesmo assim continuamos levando uma vida desmotivadora, convivendo com fatores que geram tristeza, desanimo, melancolia. Quando somos pressionados a ser alguém que não queremos ser, simplesmente para sobreviver. Por mais que pense, esforce ou batalhe, não há nenhuma expectativa de melhora. Por isso, procura-se manter a imagem, a família, o emprego, mesmo não estando satisfeito ou feliz, e aos poucos, o desanimo, a frustração constante pode evoluir para um quadro depressivo.
Por isso, se você deseja levar uma vida mais satisfatória, com mais significado, e percebe que não está sendo capaz de encontrar seu caminho sozinho, talvez seja o momento de procurar um psicólogo para enfrentar suas questões.
Artigo escrito pelo psicólogo Arthur Lobato, que também realiza  atendimento online, licenciado pelo Conselho Federal de Psicologia 
Fotos: MundoPsicologos.com

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Definidas ações a serem providenciadas pelo Sindicato para demandas dos servidores do TRE



O conjunto das ações aprovadas nesse sábado serão disponibilizadas nos próximos dias para o segmento.


“Reunião com os diretores de base e, onde não houver, representante do setor ou cartório, para traçar estratégias de ações e listar demandas da categoria (proposta de realização no segundo fim de semana de fevereiro 09/02/2019)”. Cumprindo esse que foi o primeiro item das pautas específicas dos servidores do TRE aprovadas na Reunião do Conselho Deliberativo (membros da Diretoria Executiva e Diretores de Base) do SITRAEMG realizada no período de 23 a 25 de novembro passado (detalhes AQUI), filiados da Justiça Eleitoral, juntamente com os coordenadores Igor Yagelovic, Adriana Mesquita e Sando Luis Pacheco, que também são lotados no TRE, e ainda Hélio Ferreira Diogo, Nestor Santiago e Artalide Lopes, reuniram-se nesse sábado (9 de fevereiro), na sede do Sindicato, para discutir as demandas e definir as devidas ações a serem executadas pelo SITRAEMG relativamente às mesmas em busca das soluções necessárias. A reunião de ontem foi conduzida pela coordenadora Adriana Mesquita. O conjunto de ações deliberadas será disponibilizado pelo SITRAEMG nos próximos dias.

Muitas demandas e apreensões

Ao longo de aproximadamente cinco horas, os participantes do encontro falaram sobre os diversos problemas que enfrentam no dia de trabalho, antes de aprovarem as ações a serem executadas pelo SITRAEMG. Dentre outras questões, reclamaram que o quadro de servidores da Justiça Eleitoral está cada vez mais reduzido e que o Tribunal, com a redução do orçamento, justificado pela imposição da Emenda Constitucional 95 (congelamento dos gastos públicos por 20 anos), não sinaliza que realizará novo concurso público tão cedo. E para agravar ainda mais a situação, como também condiciona a promoção de concursos de remoção a novas nomeações, há uma fila enorme de servidores à espera de uma transferência para outra localidade, para ficarem mais próximos de seus familiares, muitas vezes até pela necessidade de dar assistência, in loco, a entes adoentados.
Outra apreensão destacada foi em relação a como ficará a situação dos servidores que estão lotados nos postos de atendimento que serão fechados. Em reunião realizada no final do ano passado (veja detalhes AQUI), a administração do Tribunal informou ao Sindicato que está realizando um estudo sobre esses postos para regularizar a situação funcional dos servidores afetados com as mudanças ocorridas a partir da Resolução TRE-MG 1.039/2017 (do rezoneamento), devendo ser avaliados individualmente, caso a caso – segundo a administração, para que nenhum servidor seja prejudicado em eventuais transferências.  O Tribunal também informou que esse estudo seria concluído até o final de março.
Também foram incluídas no conjunto de propostas de ontem sugestões de providências a serem tomadas pelo Sindicato junto à administração em relação às horas extras trabalhadas durante períodos eleitorais e para combater as fake news (informações falsas), que foram muito difundidas sobretudo nas últimas eleições, colocando em dúvida a confiabilidade das urnas eletrônicas.

Todos unidos na luta contra a retirada de direitos

Durante a reunião, representantes do Sindicato reforçaram a importância da figura do diretor de base dentro de cada local de trabalho, para estabelecer o elo entre os colegas e a entidade e, assim, facilitar a busca das soluções para os problemas. E o psicólogo Arthur Lobato, coordenador técnico do Departamento de Saúde do Trabalhador e Combate ao Assédio Moral (DSTCAM), fez várias intervenções para dar informações e esclarecer dúvidas a respeito desse trabalho desenvolvido pelo Sindicato em prol dos filiados.
Em sua avaliação final, a coordenadora Adriana Mesquita, depois de agradecer a presença de todos, afirmou que a reunião foi muito proveitosa e pediu que a categoria procure se aproximar mais do Sindicato, lembrando que a entidade não é de sua diretoria, mas de todos seus filiados. “O Sindicato é de todos nós. Esperamos caminhar juntos daqui para frente, sempre”, Concluiu. O coordenador Nestor Santiago, fazendo coro às palavras de Adriana, fez um apelo para que os servidores se envolvam de corpo e alma na luta que recomeça contra a Reforma da Previdência e também para exigir respeito do governo, que se utiliza do falso discurso de que os servidores gozam de privilégios para justificar suas políticas de retirada de direitos desses trabalhadores do serviço público. O coordenador Hélio Ferreira Diogo fez uma alerta para a armadilha que o governo ameaça incluir em sua proposta de reforma previdenciária, que seria substituição do atual regime de Previdência, de repartição, para o sistema de capitalização. “(Esse sistema) vai acabar com a aposentadoria”, denunciou. “Todo governo é contra o servidor, o trabalhador. Temos que enfrentar o governo”, exortou o filiado Sandro Brum, servidor lotado no cartório eleitoral de Lagoa Santa. Ressaltando que está sempre presente nos eventos e debates promovidos pelo SITRAEMG, ele fez um apelo aos colegas para que procurem se mobilizar pelas redes sociais, chamando os colegas para as lutas, e também se inteirar das informações divulgadas pelo Sindicato e dos serviços oferecidos aos seus filiados, como a assistência do DSTCAM em casos de assédio moral e adoecimento decorrente das condições de trabalho.

Publicado em: http://www.sitraemg.org.br

CFP manifesta repúdio à nota técnica “Nova Saúde Mental” publicada pelo Ministério da Saúde

Documento libera financiamento para compra de aparelhos de eletroconvulsoterapia e incentiva ampliação de leitos em hospitais psiquiátricos

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) vem a público manifestar repúdio à Nota Técnica Nº 11/2019 intitulada “Nova Saúde Mental”, publicada pela Coordenação-Geral de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas, do Ministério da Saúde, na última segunda-feira (4). O teor do documento aponta um grande retrocesso nas conquistas estabelecidas com a Reforma Psiquiátrica (Lei nº 10.216 de 2001), marco na luta antimanicomial ao estabelecer a importância do respeito à dignidade humana das pessoas com transtornos mentais no Brasil.
A nota apresenta, entre outras questões que desconstroem a política de saúde mental, a indicação de ampliação de leitos em hospitais psiquiátricos e comunidades terapêuticas, dentro da Rede de Atenção Psicossocial (RAPs), incentivando assim o retorno à lógica manicomial. O Ministério da Saúde também passa a financiar a compra de aparelhos de eletroconvulsoterapia.
A representante do CFP no Conselho Nacional de Saúde (CNS), conselheira Marisa Helena Alves, explica que a medida rompe com a política de desisntitucionalização e incentiva a hospitalização e o tratamento desumanizado. Ela ressalta a gravidade da desconstrução da Rede de Atenção Psicossocial (RAPs), com a inclusão dos hospitais psiquiátricos entre os mecanismos.
“Consideramos um retrocesso a inclusão dos hospitais psiquiátricos nas RAPs. Com a Reforma Psiquiátrica, o paciente psiquiátrico passava a ter essa atenção fora dos muros do manicômio e consequentemente em liberdade, podendo ter todo o seu direito de cidadão de ir e vir preservado”, explica Marisa.
“Este modelo coloca o hospital no centro do cuidado em saúde mental, priva o sujeito da liberdade, dentro de um sistema que não favorece a recuperação, mas simplesmente o isolamento”, conclui.
São diretrizes da Rede de Atenção Psicossocial: o respeito aos direitos humanos, garantindo a autonomia, a liberdade e o exercício da cidadania; Promoção da equidade, reconhecendo os determinantes sociais da saúde; Garantia do acesso e da qualidade dos serviços, ofertando cuidado integral e assistência multiprofissional, sob a lógica interdisciplinar; Ênfase em serviços de base territorial e comunitária, diversificando as estratégias de cuidado, com participação e controle social dos usuários e de seus familiares.
*Carta do Encontro de Bauru*
Outro marco na luta antimanicomial é o Encontro de Bauru, que completou 30 anos em 2017.
Em dezembro de 1987, trabalhadores da saúde mental reunidos na cidade de Bauru (SP) redigiram o manifesto que marca o início da luta antimanicomial no Brasil e representa um marco no combate ao estigma e à exclusão de pessoas em sofrimento psíquico grave. Com o lema “Por uma sociedade sem manicômios”, o congresso discutiu as formas de cuidado com os que apresentam sofrimento mental grave e representou um marco histórico do Movimento da Luta Antimanicomial, inaugurando nova trajetória da Reforma Psiquiátrica brasileira.
Para marcar os 30 anos do Encontro, Bauru sediou outro congresso em  dezembro de 2017, onde aprovou uma nova carta, na qual reafirma que uma sociedade sem manicômios é uma sociedade democrática, uma sociedade que reconhece a legitimidade incondicional do outro como o fundamento da liberdade para todos e cada um.
Diante da atual conjuntura de avanço do conservadorismo e de redução de recursos para as políticas públicas sociais, com violento ataque ao Sistema Único de Saúde (SUS), é preciso reforçar a desconstrução do modelo asilar e combater a cada dia o manicômio em suas várias formas, do hospital psiquiátrico à comunidade terapêutica, incluindo o manicômio judiciário.
Publicado em: https://site.cfp.org.br/

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

SITRAEMG participa de ato público em defesa dos direitos sociais, trabalhistas e previdenciários







O SITRAEMG participou de um ato público nessa terça-feira (05/02), às 17 horas, na Praça Sete, em Belo Horizonte. A mobilização foi em defesa do serviço público, do Ministério do Trabalho, do Ministério Público do Trabalho (MPT), da Justiça do Trabalho, dos direitos sociais e das estatais, contra a Reforma Previdenciária e a PEC 300/2016, e em protesto pelo crime ambiental e trabalhista de Brumadinho. Durante a mobilização, promovida pelo Movimento em Defesa dos Direitos Sociais, Trabalhistas e Previdenciários, que envolve as centrais sindicais, sindicatos (incluindo o SITRAEMG), associações, movimentos sociais e outras entidades da sociedade civil, foi distribuída uma carta aberta à população (veja por meiodeste link).

O coordenador geral do SITRAEMG Célio Izidoro Rosa destacou que um dos objetivos do ato foi dialogar com a população. “O que vemos no Brasil é uma política de retirada de direitos, querendo acabar com a Justiça do Trabalho e deixar nas mãos dos patrões a negociação com os trabalhadores, sem a representação dos Sindicatos. Esse movimento é só o início de uma luta que não vai ser fácil, onde nós, trabalhadores, devemos estar juntos em defesa da permanência dos nossos direitos”, disse.
Célio Izidoro também ressaltou que o que aconteceu em Brumadinho e em Mariana tem um culpado que se chama Vale: “queremos em público cobrar que a responsável seja punida, pois milhares de trabalhadores e cidadãos foram mortos, além do meio ambiente que também foi prejudicado.”


Publicado em: http://www.sitraemg.org.br/

sábado, 2 de fevereiro de 2019

Vídeo - Janeiro Branco


Novas tecnologias no mundo do trabalho e sua relação com a saúde do trabalhador

Por Arthur Lobato, psicólogo, responsável técnico pelo Departamento de Saúde do Trabalhador e Combate ao Assédio Moral (DSTCAM) do SITRAEMG.
A partir deste, será iniciada uma série de artigos sobre os impactos das novas tecnologias sobre a saúde do trabalhador, com foco no serviço do Poder Judiciário Federal. Começarei esta série com a definição de dois conceitos que serão constantes nos próximos artigos: automação e IA (Inteligência Artificial).
Automação seria o uso de uma máquina para execução de serviços. O computador é um exemplo que segue os princípios da automação, ou seja, é necessário um ser humano para operá-lo. A máquina potencializa o serviço, agiliza o tempo, ou, a partir de uma série de comandos, executa o serviço de forma automática.
A automação já existe no mundo do trabalho há décadas, mas agora, com o avanço da banda larga da internet, que amplia a velocidade do processamento de dados, e com a nanotecnologia, que possibilitou a construção de pequenos aparelhos digitais como o smartphone (que contem texto, áudio, imagens, com  conexão em rede para qualquer país), junto com o barateamento desta tecnologia via massificação industrial, ficou mais viável a todos possuírem uma máquina que lhes permite realizar trabalho ou atividade de lazer, além de se conectar com o mundo, com pessoas, pesquisas.
Entretanto, o processo de automação nas fábricas evoluiu para a robotização, ou seja, máquinas que executam tarefas pré-programadas. Ainda estamos falando de automação, pois esta máquina deve ser programada por um ser humano para executar as tarefas em setores como a indústria automobilística.
O PJE (Processo Judicial Eletrônico) é um exemplo da automação no serviço público. O processo deixa de ser físico, com suas dezenas e às vezes centenas de páginas, em um espaço físico, para se transformar em um processo digital arquivado em HDs, ou em “nuvens”.
Voltando ao PJE, pesquisas realizadas no Poder Judiciário Federal, demonstram uma série de novas doenças pelo uso excessivo do computador, como dores musculares, lesões por esforço repetitivo quando não há pausas para descanso, visão com ardência ou ressecamento dos olhos pelo uso excessivo do computador, e mesmo o chamado “espelhamento”, quando após muito tempo em frente ao computador o cérebro não consegue mais trabalhar com a informação na tela e o que vemos nela é nosso próprio reflexo.
O SITRAEMG participa do comitê gestor de saúde do TRT e TRE, criado pela resolução CNJ 207/2015, e editou, em 2017, uma cartilha com dicas para preservar a saúde no ambiente do trabalho, ressaltando a necessidade e a importância das pausas no uso do computador.
Outros problemas relatados pelos servidores ao DSTCAM são: a dificuldade dos servidores públicos mais velhos se adaptarem às novas tecnologias, que mudam radicalmente a maneira de se trabalhar; e os problemas operacionais do sistema de informatização dos tribunais, que será abordado em outros artigos.
Quando falamos de inteligência artificial, já um outro modelo, seria uma evolução da automação. No caso da IA, um programador cria um algoritmo a partir da demanda do cliente. Um algoritmo, segundo tese de doutorado do juiz Geraldo Magela Melo, “é nada mais que uma receita que mostra, passo a passo, os procedimentos necessários para a resolução de uma tarefa. Ele não responde à pergunta – o que fazer? -, mas, sim, como fazer? Em termos mais técnicos, um algoritmo é uma sequência lógica, finita e definida de instruções que devem ser seguidas para resolver um problema ou executar uma tarefa (PEREIRA, 2009)”. Este algoritmo, no entanto, têm inteligência própria e pode criar novos algoritmos para alcançar seus objetivos. O grande sucesso do facebook deve-se a algoritmos que atualizam dados sem que o usuário tenha que fazê-lo, como era o caso de outras redes sociais como o Orkut, por exemplo, que foi uma febre na internet e hoje não existe mais, pois toda tecnologia faz com que o que era novo rapidamente fique ultrapassado.
Um exemplo de inteligência artificial criada por algoritmos são as fakes news, em que os algoritmos de buscam, de forma lógica, detectam preferências, contidas no perfil de usuários de redes sociais para enviar mensagens tendenciosas. Citemos alguns exemplos do uso dessa estratégia nas últimas campanhas eleitorais: se o usuário for motorista de uber, por exemplo, os algoritmos enviam a mensagem dizendo que o candidato “x” regulamentou o uso do Uber; se for defensor de  valores morais conservadores, o algoritmo das fake news envia mensagens afirmando que o candidato “y” obrigaria todos na escola a terem um “kit gay”, entre outras mentiras. Caso você queira saber mais sobre fake news e como eleições em diversos países foram manipuladas com algoritmos dotados de IA, veja o excelente vídeo sobre a Cambridge Analytics (https://vimeo.com/295813940).
Um exemplo positivo e revolucionário dos algoritmos de IA são os mecanismos de busca do Google através dos quais, em questão de segundos, os algoritmos pesquisam na internet os assuntos a partir de palavras-chave.
Se o PJE representa a automação, a IA já está presente em escritórios de advocacia para fazer petições mais simples. Nesse caso, bancos e empresas que têm computadores com IA separam ações trabalhistas, civis, penais e previdenciárias e enviam diretamente para os escritórios de advocacia de cada tema. O TST possui um computador com IA, chamado Viktor, que ordena jurisprudências.
O Tribunal Superior Eleitoral – TSE – conseguiu, através desta tecnologia, analisar dados de prestação de contas, doações de campanhas com cruzamento de dados da Receita Federal, identificando centenas de casos de possíveis fraudes.

Em tempo

Nos próximos artigos, abordaremos também a IA e seus impactos sobre a saúde do trabalhador. E não se esqueça: agora, uma máquina é seu concorrente ou parceiro na realização do serviço.