sexta-feira, 26 de abril de 2013

O sofrimento no trabalho segundo Christophe Dejours

Especialista fala sobre o sofrimento no trabalho em sua coluna mensal



Dando continuidade à série “A palavra dos Especialistas”, o SINJUS-MG traz nesta quarta-feira (24/4), um artigo sobre as palestras realizadas por Marie France Hyrigoen, especialista em Assédio Moral, e Chistopher Dejours, que estuda a relação prazer-sofrimento no trabalho.
Os estudiosos são franceses e estiveram no Brasil, a convite da Escola Judicial do Tribunal Regional do Trabalho 4ª Região (TRT4), em Porto Alegre, em abril de 2012. As análises foram feitas pelo psicólogo e coordenador da Comissão de Combate ao Assédio Moral do SINJUS/Serjusmig, Arthur Lobato, que participou do evento.
No artigo de hoje, Arthur Lobato fala sobre o sofrimento de quem se envolve muito com o trabalho, as consequências desse problema e as estratégias defensivas do trabalhador.
Clique aqui e leia o artigo no site do Sinjus. Boa leitura!

O sofrimento no trabalho segundo Christophe Dejours




Segundo Dejours, as contradições da relação entre capital e trabalho são os motivos que conduzem ao adoecer do trabalhador e ao sofrimento físico, psíquico e emocional. A dignidade humana, portanto, tem que ser o valor supremo no mundo do trabalho e para isso é necessário resistir e vencer as dificuldades do trabalho, mas nem todos conseguem, daí o adoecer, o sofrimento e o fracasso.

Dejours considera que as estratégias de defesa podem ser conscientes ou inconscientes, mas representam em ambos os casos uma recusa de sofrer, uma elaboração psíquica sobre o que faz sofrer aprofundando a contradição entre a realidade vivenciada pelo trabalhador e a organização do trabalho, já que neste “real do trabalho” a vivencia é de fracasso e sofrimento. Isto se manifesta no burn-out, que é o sofrimento de quem se envolve muito com o trabalho, ou na insônia e sonhos com o trabalho. Curiosamente o especialista afirma que “muitas vezes é preciso fracassar para se ter boas ideias”, ou seja, aprender com o erro, para poder resistir e vencer as dificuldades do trabalho, mas isso nem todos conseguem, daí o adoecer, o sofrimento, o fracasso.

“Trabalhar é sofrer resistências” e o trabalhador se engaja nos esforços, em toda sua subjetividade, e nos relacionamentos com os colegas, portanto, afirma Dejours, “falar ao colega é um modo de nos reapropriarmos de nossa inteligência”, pois somos seres relacionais, o outro constrói minha subjetividade, e tanto no amor como no trabalho a construção da identidade é através do reconhecimento. Entretanto, como evitar sofrimento do trabalhador e ao mesmo tempo manter as regras rígidas da organização do trabalho?

O trabalhador não é uma máquina, portanto, precisa interpretar as ordens e não apenas obedecer regras e normas. O perigo é a interpretação individual, que pode causar riscos à segurança, por isso deve haver este espaço para falar do trabalho e discutir as contradições entre a teoria e a prática. Só assim se chega a uma arbitragem sobre as deliberações e opiniões dos trabalhadores para adaptar a norma à experiência do trabalhador.

No SINJUS-MG, a comissão de combate ao Assédio Moral e a todo tipo de violência laboral, da qual participo como coordenador, percebe claramente que muitos casos que levam ao adoecer do trabalhador estão no conflito, quando o superior hierárquico não aceita o diálogo e usa da hierarquia para práticas autoritárias, negando o saber do trabalhador, e muitas vezes a pratica do servidor agiliza o processo produtivo, mas, pela recusa ao diálogo, este servidor é perseguido pois até hoje a instituição TJMG continua com o autoritarismo como forma de domínio sobre os servidores, não se importando com as consequências para a saúde do trabalhador.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Entrevista "ping-pong"com o psicólogo Arthur Lobato

advogado Antonio Isnaldo, desembargadora Camilla Guimarães, psicólogo Arthur Lobato
 e o professor da PUC Minas, Pe. Márcio Paiva

O programa Horizonte Debate de quinta-feira 04/04 teve como tema o assédio moral. Além do psicólogo Arthur Lobato, estiveram debatendo o advogado Antonio Isnaldo, e a desembargadora Camilla Guimarães. O programa é apresentado pelo mestre e doutor em filosofia, professor da PUC Minas, Pe. Márcio Paiva.

Tema: violência laboral que prejudica a saúde do trabalhador.


É possível traçar um perfil das causas dessa violência?
Arthur Lobato: O trabalho no mundo globalizado caracterizado por competitividade, individualismo e uso de novas tecnologias; o autoritarismo nas organizações, vivemos em   uma sociedade onde o importante é ter, consumir, isto faz com que  se perca os valores como a solidariedade entre as pessoas.
 

Quais os principais efeitos do assédio moral sobre a vítima?
Arthur Lobato:O assédio moral afeta psiquismo e o emocional das pessoas, causando queda na auto estima,  e os sintomas podem evoluir para um quadro depressivo ou de extrema ansiedade.

Como os empregadores podem agir para eliminar o assédio moral?
Arthur Lobato:  Isso depende da vontade da organização do trabalho de coibir e punir praticas que levam ao adoecer do trabalhador.

A ação relacionada ao assédio moral difere de acordo com o sexo ou a idade da vítima?
Arthur Lobato: Geralmente o assedio é feito contra pessoas competentes e questionadoras.
 

O que as pessoas, como sociedade, podem fazer para acabar com o assédio moral?
Arthur Lobato: Dar visibilidade a este inimigo invisivel,  atraves de palestras, debates, reportagens,   e denunciar na justiça do trabalho, ministério público,  e justiça cível.
 

O que o trabalhador que se sente assediado pode fazer?
Arthur Lobato: Dependendo da empesa, conversar com as chefias, caso contrario deve procurar o sindicato e os órgãos citados acima.
 

Quais são os principais atos caracterizados como assédio moral?
Arthur Lobato: O importante é que o assédio moral é um conjunto de praticas perversas e desumanas, direcionados ao longo de um tempo contra um pessoa que se torna o alvo. Ha recusa da comunicação, ordens contraditórias, excesso de serviço sem prazo para executar, criticas constantes ao trabalho, reuniões não sao avisadas criando uma imagem de incopetente na vítima,  fofocas, brincadeiras ofensivas, o que leva o isolamento da vítima.
 

Há setores onde o assédio moral é mais recorrente?
Arthur Lobato: Para isso é necessário ver as pequisas e denuncias, mas o setor de serviços, vendas serviço público, tanto o setor bancario, como o de telemarketing possuem pesquisas, assim como os quimicos de sp, metalurgicos, jornalistas,  enfim ha categorias que estão ha mais tempo nesta luta.
 

O que difere o assédio moral das outras formas de violência?
Arthur Lobato: O assédio moral é uma das violências no ambiente de trabalho, e se diferencia por ser feito de uma forma sutil, diferente do conflito, que é explícito.
 

10- O que leva ao assédio moral?
Arthur Lobato:  Geralmente desmotivar uma pessoa competente, vista como ameaça para uma chefia incopetente, ou  infernizar o ambiente de trabalho de forma que a vitima peça demissão.
 
Como a vítima pode vencer a barreira do medo e denunciar?

Arthur Lobato: Para isto é importante o vinculo de solidariedade e apoio ente os trabalhadores.
 

Qual o perfil de assediadores e assediados?
Arthur Lobato: Os assediados são pessoas competentes, responsáveis, e, os assediadores são pessoas que tem prazer em fazer mal aos outros, para se manter no poder ou ocultar sua incompetência.
 

Como estabelecer um nexo causal entre os sintomas da vítima e o ambiente de trabalho?
Arthur Lobato: Como assedio é feito de forma sutil o importante são as provas documentais e testemunhais.


Quais são os danos psicológicos que os assediados podem sofrer?
Arthur Lobato: Depressão, ansiedade, stress pós traumático, tendencias suicidas e suicídio.
 

Assédio moral pode causar depressão?
Arthur Lobato: Sim o assédio é um processo realizado ao longo do tempo que adoece o trabalhador.

 
Confira o programa na íntegra:

 

Funcionária de sacolão é indenizada após assédio sexual no ambiente de trabalho

20/03/2013

Mesmo sabendo dos acontecimentos, o patrão não tomou qualquer atitude para evitar que se repetissem

Escrito por: Portal Uai


A empregada do Sacolão Mais Ltda em Contagem, na Grande BH, conseguiu na Justiça do Trabalho uma indenização por danos morais no valor de R$3 mil reais por causa do assédio sexual de um colega no ambiente de trabalho. Segundo o processo, a funcionária E.M.G. era tratada de forma desrespeitosa que a expunha perto dos outros colegas e de clientes da loja. Uma testemunha chegou a dizer que o colega chamou E. de “burra e lerda”. O pior era que todos os outros trabalhadores riam da empregada quando ela era assediada.

Como o agressor não era chefe da vítima, a Justiça considerou que houve assédio por intimidação (chamado ambiental) e não o assédio por chantagem, como é mais conhecido. O assédio levado em conta no processo “caracteriza-se por incitações sexuais importunas, ou por outras manifestações da mesma índole, verbais ou físicas, com efeito de prejudicar a atuação laboral de uma pessoa ou de criar uma situação ofensiva, hostil, de intimidação ou abuso no trabalho”, conforme consta na argumentação do juiz relator, Frederico Leopoldo Pedreira.
Em 2011, a funcionária ajuizou ação e levou à Justiça várias testemunhas que comprovaram o tratamento recebido por ela no serviço. Ela processou a empresa por não fazer nada para mudar a situação vivida no horário de expediente. Diante dos depoimentos, o juiz considerou o caso "descabido, humilhante, de conotação sexual, imposto às escâncaras". Em primeira instância, ela ganhou direito a indenização, mas o sacolão recorreu e a 3ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho de Minas Gerais manteve a decisão.

O juiz Frederico Leopoldo apurou que o ambiente de trabalho estava bastante degradado, não apenas para E., mas para todas as mulheres que trabalham no sacolão, pois “ parte considerável dos empregados tratava as colegas mulheres de forma aviltante”.

Uma testemunha confirmou ter visto E. na situação humilhante por quatro vezes e disse que até ela mesma já passou por constrangimentos na loja. Em uma dessas ocasiões, o colega de trabalho chegou a segurar a funcionária pelo braço, dizendo obscenidades, o que a fez sair chorando. Em outra oportunidade o homem xingou E., de "burra e lerda".

Decisão

“E o patrão? O que fez diante disso?”, perguntou-se o juiz relator. Para ele, houve omissão do empregador em relação a situação da funcionária. Segundo o processo, uma das testemunhas disse que o chefe ameaçou dispensar quem depusesse na Justiça a favor de E.

Assim, o magistrado identificou os três requisitos da responsabilidade do sacolão: o dano em razão do assédio sexual sofrido pela empregada; a omissão da empresa e o nexo de causalidade, pois tudo se deu sob os olhos do empregador dentro das dependências do sacolão. O relator não teve dúvidas de que o cenário obriga o proprietário da loja a indenizar a funcionária e fixou o valor.

"A conduta reprovável dos empregados ultrapassou qualquer limite do mero chiste, para atingir o grau de agressão psicológica, com a violência moral que mais vilipendia a vítima, que é a certeza de que o agressor não será punido pelas suas atitudes. O que nos faz diagnosticar, com a mesma visão, mais uma vez, a abominável impressão de que persiste a ideia de submissão sexual da mulher pelo 'sexo forte'," ponderou o relator no voto. A turma de julgadores acompanhou o relator. Essa é uma decisão de segunda instância com acórdão publicado e não cabe mais recurso.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Assédio Moral - Opinião Minas




Entrevistado:









O psicólogo Arthur Lobato fala sobre as origens do sofrimento no trabalho, o assédio a mulheres grávidas no telemarketing e sobre os elementos essenciais para o diagnóstico do assédio moral.

Clima de horror nas redações


* Luciano Martins Costa

Tem grande repercussão nas redes sociais a reportagem publicada na segunda-feira (11/3) pelo Portal Imprensa(ver aqui) sobre o aumento dos casos de depressão, infidelidade conjugal e uso abusivo de drogas e álcool entre profissionais de jornalismo. O estudo foi realizado pelo doutor em Psicologia
Psicólogos Arthur Lobato (MG) e Roberto Heloani (SP)
José Roberto Heloani, da Unicamp
, cobrindo um período de dez anos.

Segundo o pesquisador, na última década os jornalistas brasileiros se tornaram mais sujeitos a pressão por causa de circunstâncias de trabalho, tornando-se mais vulneráveis a assédio moral e sexual, além de outras condições capazes de produzir desequilíbrio emocional e doenças mentais. No período mais recente de seu estudo, Heloani trabalhou com uma amostragem de 250 jornalistas, analisando aspectos de suas vidas como saúde mental, identidade e subjetividade e resiliência a situações estressantes. Ele encontrou um grande número de profissionais trabalhando em estados de pré-exaustão ou exaustão na maioria das redações.

A concentração da propriedade dos meios de comunicação, que torna crucial a aceitação de um jornalista no restrito e concorrido mercado da imprensa, o transforma em um indivíduo passivo diante de circunstâncias indignas de trabalho. “No Brasil, há seis grandes grupos de comunicação. Você precisa ter muita coragem para fazer uma denúncia formal de assédio se quiser permanecer no mercado. A pessoa pode até pensar em mudar de área, ir para assessoria ou área acadêmica, mas nenhuma alternativa é fácil”, resume o pesquisador.

O uso de drogas aumentou cerca de 25% no período estudado, como uma das consequências das condições opressivas de trabalho. Em função das longas e extenuantes jornadas, muitos dos entrevistados também relatam dificuldades de relacionamento, insegurança e medo de tomar decisões. Essa realidade, confrontada com a imagem idealizada da profissão, produz uma sensação geral de vulnerabilidade e frustração, que levam aos casos de depressão.

Do assédio ao crime

Co-autor do livro Assédio moral no trabalho (Editora Cengage), com Maria Ester de Freitas e Margarida Silveira Barreto, Heloani tem grande experiência no estudo de processos de expropriação da dignidade no ambiente de trabalho. Um de seus ensaios, publicado em 2004 (ver aqui), relata o processo em que, submetido a constante assédio moral e depreciação, o trabalhador acaba por emular a personalidade que lhe é atribuída, com a consequente redução de sua autoestima e de suas ambições profissionais e pessoais. Essa foi a circunstância encontrada por ele no acompanhamento de três grupos diferentes de jornalistas, o primeiro formado em 2003 por profissionais atuando no eixo Rio-São Paulo.

Heloani considera que o fato de os profissionais de imprensa terem que enfrentar, progressivamente, mais desafios e complexidades, por exemplo, com a exigência de desenvolver habilidades multifocais, agrava a situação. No primeiro grupo estudado, ele não encontrou tantos casos de estresse patológico grave, mas nos grupos acompanhados mais recentemente sua pesquisa revelou a presença de profissionais debilitados, extenuados, muitos recorrendo a drogas lícitas e ilícitas para suportar o ritmo de trabalho.

Interessante observar que, tendo sido publicada na segunda-feira (11), a pesquisa não despertou interesse nos grandes grupos de comunicação, justamente os lugares que concentram o problema. Há vinte anos ou mais, essas empresas tinham comissões internas de qualidade no trabalho, com programas de prevenção que protegiam os jornalistas dos riscos mais comuns da profissão. Com o fim da exigência do diploma específico para o exercício do jornalismo e o desmanche das atividades sindicais, as redações ficaram submetidas ao arbítrio de editores e diretores nem sempre habilitados para a gestão de pessoas.

Os casos de assédio se multiplicam mas não são relatados publicamente, porque as vítimas têm medo de perder o emprego e entrar numa lista negra dos grandes jornais. O mais grave deles se transformou em escândalo com o assassinato da jornalista Sandra Gomide pelo ex-diretor de redação do Estado de S. Paulo.


O episódio sangrento, que evoluiu do assédio ao homicídio, é minuciosamente investigado no livro Pimenta Neves – Uma reportagem (Editora Scortecci), de autoria de Luiz Octávio Lima, lançado na semana passada em São Paulo.


 
O estudo de José Roberto Heloani mostra que esse crime covarde não ensinou nada às redações.

* Jornalista

Publicado no Observatório da Imprensa em 13/03/2013


http://www.fenaj.org.br