Uma triste história real, relatada pelo psicólogo Arthur Lobato
O jornal Expressão Sinjus 167 publicou o relato de um dos casos de Assédio Moral no trabalho trazidos à Comissão de Combate ao Assédio Moral do Sindicato dos Servidores da Justiça de segunda instância do estado de Minas Gerais.
Combater e denunciar o assédio moral não é uma opção é, isto sim, uma obrigação de cada um de nós.
É a impunidade que faz esse tipo de ocorrência continuar afetando a vida dos trabalhadores.
O SINJUS-MG vem trabalhando intensamente no combate a práticas que configurem assédio moral no ambiente deprofissional. Esse trabalho visa garantir qualidade de vida para o servidor nos diferentes setores do judiciário e evitar que fatos como estes, narrados a seguir, voltem a ocorrer.
O assédio moral é um processo longo e doloroso para quem sofre os ataques repetidos, sistematizados, com intencionalidade de prejudicar, humilhar e transformar um trabalhador ativo e competente em um doente crônico, improdutivo, inútil - um "lixo", conforme depoimentos no plantão de combate ao assédio moral.
A vítima deseja, mais do que tudo, resgatar sua dignidade. No caso relatado, a pessoa que adoeceu por causa do assédio concordou com esta publicação, para que aqueles que praticaram o assédio moral tenham consciência do mal que fizeram, e para que sirva de alerta para que outras pessoas não adoeçam, por não perceber que estão sendo vítimas da prática de assédio moral.
Tentemos nos colocar no lugar desta servidora, que, durante 25 anos, se dedicou ao seu serviço. "Minha vida era meu trabalho", disse ela no Plantão de Combate ao Assédio Moral. Após um longo e doloroso processo de assédio, ela, que ingressara como servidora por meio de concurso, foi "aposentada à força", segundo suas próprias palavras. Tendo curso superior, conseguiu ocupar um cargo de chefia, "com muita luta trabalho e competência, pois sempre gostei de trabalhar, apesar de estar em ‘um ninho de cobras’, cercada por pessoas improdutivas, nomeadas por ‘peixada’”. Ao assumir o cargo de chefia, começou a ser assediada - sem saber - pelas próprias colegas, e também por um "superior", que desejava a nomeação de outra funcionária.
Tentemos nos colocar no lugar desta servidora, que, durante 25 anos, se dedicou ao seu serviço. "Minha vida era meu trabalho", disse ela no Plantão de Combate ao Assédio Moral. Após um longo e doloroso processo de assédio, ela, que ingressara como servidora por meio de concurso, foi "aposentada à força", segundo suas próprias palavras. Tendo curso superior, conseguiu ocupar um cargo de chefia, "com muita luta trabalho e competência, pois sempre gostei de trabalhar, apesar de estar em ‘um ninho de cobras’, cercada por pessoas improdutivas, nomeadas por ‘peixada’”. Ao assumir o cargo de chefia, começou a ser assediada - sem saber - pelas próprias colegas, e também por um "superior", que desejava a nomeação de outra funcionária.
O assédio se manifestava por meio de fofocas, maledicências e desrespeito à hierarquia (nãocumprimento de ordens e de horários, faltas constantes). Apesar de ela ter um cargo de chefia, o grupo de servidores se recusava a aceitar ordens e regras. Com as recusas em executar o serviço, faltas e atrasos, o trabalho se acumulava. O grupo humilhava a diretora. Quando esta relatou aos superiores o acontecido, para seu espanto, a portas fechadas, foi tratada de forma ríspida, com gritos e termos de baixo calão. Humilhada, teve que ouvir calada que ela não era nada e estava implicando com amigas de gente poderosa e influente. Nesse momento do depoimento, o emocional acompanha as palavras, o choro é uma descarga motora para aliviar a dor, pois a humilhação deixa marcas permanentes em quem foi vítima de assédio moral. "Estou nervosa (...) até hoje estou em tratamento (...) tomo muitos medicamentos (...) estou muito triste com tudo (...) agora eu vejo, estava em um ninho de cobras".
Desde que ocupou o cargo de chefia, foram sete anos de luta, de sabotagem - "me infernizaram". Os fatos a levaram a constantes crises de choro, devido à sua impotência para mudar o acontecido, pois o grupo se recusava a trabalhar, ficavam ao telefone em ligações que tratavam de assuntos pessoais, saíam do local de trabalho quando bem queriam, e ela, como chefe, alternava sentimentos de impotência, raiva, frustração, caindo em depressão.
Além das humilhações, havia o excesso de trabalho. "Trabalhava por 10", conforme suas palavras, e o superior hierárquico "comendo meu fígado", quando reclamava. Assim, foi obrigada a suportar o insuportável, com todas as conseqüências somáticas, psíquicas e emocionais.Consolidando a tática do assédio moral, alguém do grupo se fez de "amiga" desta servidora, mas, conforme se descobriu mais tarde, era tudo fingimento, pois essa "amiga" queria o cargo de chefia. Foi quando aconteceu a ruptura emocional: durante as férias, morreu o “amado” pai dessa diretora.
Em muitos casos, o assediador, ou seja, aquele que pratica o assédio moral, se aproveita de um momento de fragilidade emocional da vítima para intensificar o ataque. Sabemos a dor que nos causa a perda de um ente querido, e o tempo de luto que é necessário para tentar superar essa dor. É justamente nesse período de luto, de dor, de perda, em que o choro é um demonstrativo de nossa fragilidade, que o assédio moral é executado com mais intensidade, de forma perversa, com objetivo de destruir a pessoa.
A vítima foi, então, convocada a ir ao Tribunal, apesar de estar de férias e ter acabado de enterrar o pai. Tinha sido feita uma "armação" com o objetivo de lhe tirar o cargo de chefia. "Foi o pior dia de minha vida, pois perdi meu pai". Deprimida, não comia, não dormia, chorava muito. Depois das férias, pediu licença saúde, mas "se o luto se transforma em melancolia" (Freud), a depressão impera. Na volta ao trabalho, não teve solidariedade, foi constantemente humilhada e desrespeitada, "chorando muito, de cabeça baixa, abatida, assumiu tanto o trabalho como o apoio a sua mãe". Nesse momento de total fragilidade, o grupo e o superior hierárquico se uniram contra ela, para destruí-la de vez. Foi exigida, pelo superior, a instauração de um processo administrativo, com o objetivo de tirar-lhe o cargo de chefia. Ao conversar com ele, descobriu que seu cargo já tinha sido prometido para uma de suas funcionárias, já que ela estava há seis meses de licença. E a humilhação foi maior porque ela tinha curso superior, e a "nova" chefia tinha somente o primeiro grau de escolaridade, ou seja, não possuía nenhuma especialização da área do departamento. Ao tentar audiência com o chefe superior, este se recusou a recebê-la. Por meio de uma ligação anônima, ouviu ao telefone alguém dizer: "Você é uma batata-quente". Alguém do alto escalão assediou quem poderia ajudar essa servidora, e as portas foram se fechando, ninguém mais a recebia.
Desesperada, enviava correspondências, mas não recebia respostas. Para sobreviver a este brutal e impiedoso processo de assédio moral, teve que tirar mais licenças médicas; esgotada, deprimida, humilhada, impotente. As licenças serviam como combustível para que o assédio continuasse, denegrindo, assim, seu nome, sua honra, sua competência. Foi proibida de entrar no Tribunal e abalada emocionalmente. Sem apoio de ninguém, reforçava-se o discurso de a servidora ser "louca", portanto, tinha que ser afastada do cargo. O assédio moral está quase concluído. Destruiu emocionalmente uma pessoa, minou sua capacidade de trabalho e, agora, o seu afastamento do cargo era questão de tempo, pois ela "já não tinha mais capacidade de exercer o cargo".
Essa servidora contava tempo para o apostilamento, mas não para a aposentadoria. Foi aposentada por invalidez, com todas as perdas salariais que isso traz, e a humilhação, como um câncer, crescia a cada dia.
Assim, a servidora, após um longo e extenuante processo de assédio moral, de competente, virou incompetente; de produtiva no trabalho, virou uma servidora doente, incapacitada para o trabalho, destruída psíquica e emocionalmente. "Sujaram meu nome, sou honrada, concursada, competente e não uma batata-quente". "Não sou amiga degente poderosa, mas exijo respeito, pois nunca pude me defender, isto dói, magoa (...) Desenvolvi medo paranóico de que iriam me matar. Não passava nem no quarteirão de minha repartição. Parentes meus pegavam meu salário. Tinha direitos que não foram respeitados. Meu nome ficou sujo. Colegas do Tribunal passavam por mim pela rua e fingiam que não me conheciam, por causa de fofocas". O caso era evitado pelos que poderiam ajudar. Ela ficou com fama de ter desacatado superiores, ficou sabendo que funcionárias foram ameaçadas, "quem a ajudasse sairia fora".
Por tudo isso, essa servidora, adoecida por causa do assédio, apesar de envergonhada e humilhada, concordou em tornar público este depoimento. Mais do que a revisão de valores de sua aposentadoria, ela quer seu nome limpo. Quer que aqueles que lerem este texto reconheçam de quem se está falando, percebam o mal que fizeram a este ser humano, reflitam, e, pelo menos, se arrependam. Quer que sirva de exemplo também para quem está sofrendo assédio moral resolva denunciar essas práticas ao sindicato, antes que o mal seja irreversível. Essa servidora, além de ter perdido sua vida profissional, até hoje faz uso de medicamentos psiquiátricos e necessita de acompanhamento terapêutico para enfrentar a dor e suportar conviver com a humilhação, ferida que não se cicatriza, dor que a levou até mesmo a pensamentos suicidas - forma desesperada de por fim à dor.
Como profissionais de saúde, sindicalistas, seres humanos, não podemos permitir que tais práticas continuem acontecendo no ambiente de trabalho. Nesse caso, todos os esforços jurídicos serão utilizados. Mas, além da compensação financeira, o mais importante para essa servidora é o resgate de sua honra, de sua dignidade - "Sujaram meu nome e eu não pude me defender. Quero limpar meu nome", emociona-se. Por isso, antes que seja tarde demais, insistimos na prevenção, para evitar que o assédio ocorra.
Este relato segue a veracidade das palavras proferidas pela servidora e prova, na prática, o que já é comprovado por especialistas e pela literatura científica.
* Arthur Lobato
psicólogo e jornalista
psicólogo e jornalista
Artigo publicado no jornal Expressão SINJUS-MG 167 de 28 de agosto de 2008
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