terça-feira, 9 de janeiro de 2018

O Trabalho liberta? (parte 1)

Por Arthur Lobato, psicólogo, coordenador-técnico do Departamento de Saúde do Trabalhador e Combate ao Assédio Moral (DSTCAM) do SITRAEMG.

O TRABALHO LIBERTA - Portão de entrada de Auschwitz.

Começo citando a frase que estava no portão de Auschwitz— as fábricas da morte do regime nazista —, sempre em busca de mais produtividade e metas, ou seja, matar mais rápido e em maior número  judeus, e quem era contra o regime nazista. O racionalismo é aliado da busca tecnológica por mais “produtividade”, como o gás Zyklon-B fabricado por uma das maiores indústrias químicas alemãs que existe até hoje. Quando os prisioneiros entravam nos campos de concentração eram iludidos que ali teriam trabalho e condições de vida e que o trabalho seria sua redenção. Uma mentira tão grande como o banho obrigatório para os mais velhos e doentes, onde em vez de água saía o gás mortal, que exterminava em minutos.
Aliás, os nazistas inventaram várias modalidades de trabalho tendo como premissa o trabalho escravo, usando trabalhadores dos países conquistados para trabalhar até a exaustão, até a morte, em atividades perigosas e insalubres. Toda a energia física, mental e emocional era sugada pelo modo de produção nazista.
 É um modelo de exploração sobre a força de trabalho que o capitalismo pós segunda guerra utilizou, assim como a propaganda nazista, modelo para o domínio dos meios de comunicação sobre corações e mentes de várias gerações. Racionalismo científico, produtividade, bater metas com o uso de tecnologia, essa foi a principal herança do modelo nazista de produção para o capitalismo. Sim, o trabalho libertou da vida o escravo, mas com sua morte.
Hoje o capitalismo, através do projeto neoliberal, vai explorando corpos e mentes até a exaustão, mesmo sabendo que o adoecer não é uma fraqueza do sujeito mas um efeito do modo de produção que vivemos hoje, por exemplo, quando o trabalho assume o lugar central de nossas vidas. Antes trabalhávamos para viver, hoje vivemos para trabalhar e coitado do adoecido e do desempregado pois eles são excluídos do processo produtivo e a culpa é jogada nele, e não no modelo como se organizou o trabalho após a segunda guerra mundial.
Se os nazistas usavam a força de trabalho até a morte, hoje o capitalismo com seu discurso neoliberal usa a força de trabalho humano até a exaustão, até o adoecimento, e o assédio moral é um modelo de gestão adoecedor, que tira toda a energia física, psíquica e emocional do trabalhador, que adoecido é descartado e com a culpa introjetada de ser um fraco, de não ter dado conta de se superar diariamente na produtividade que é a exploração da mais valia do trabalhador e dos coletivos do trabalho.
Quando a política de metas e produtividade é lançada como um furacão no serviço público, não se estuda o que aconteceu quando este modelo foi implementado nas privatizações dos bancos estaduais, com o alto índice de adoecimento dos bancários e elevado suicídios no ambiente de trabalho. Esconde-se os efeitos deste modelo, para elogiar o “sucesso” do aumento da produtividade.
Edith Seligmann-Silva, psiquiatra, doutora em medicina, afirma que:
O assédio moral em casos de pessoas adoecidas, menos produtivas, pode ocorrer devido a reabilitação inadequada que pode levar, inclusive ao assédio grupal, com a participação de colegas, o que pode ser explicado pelo sentimento de que a pessoa, por produzir menos, sobrecarrega os demais, que podem, de fato, sentir-se sobrecarregados. É uma situação na qual na verdade, quem adoeceu deveria ser reabilitado em uma função adequada a suas outras capacidades.(SELIGMANN-SILVA, 2011)
Por isso o discurso que a previdência é deficitária e tem que mudar, que terceirização, a qual chegará ao serviço público, é boa, por isso necessária, e outras mentiras que vemos, ouvimos e lemos diariamente nos jornais, rádio e TV, afinal a mentira repetida mil vezes vira verdade, já afirmava o ministro da propaganda nazista Goebbels.
Cabe aos sindicatos, serem o nosso “Bunker” contra estas reformas neoliberais, diria mais, nazistas, contra todo o povo brasileiro. Somente nossa união, sair às ruas, conscientizar amigos, filhos e desconhecidos, de que enfrentamos o massacre do capital contra nós trabalhadores, aposentados e desempregados. Pois, se não lutarmos contra o mal ele dominará e destruirá o que ainda resta de humanidade neste planeta.
Em 2018 o SITRAEMG e o DSTCAM reafirmam seu compromisso de lutar contra o assédio moral e todo tipo de violência no ambiente de trabalho. Servidores do Judiciário Federal em Minas Gerais: contem conosco!

Um comentário:

Deborajunqueiracoach.blogspot.com.br disse...

Muito bom. Em tempos de retirada de direitos, a luta contra o assédio moral não pode ficar em segundo plano.