sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Análise da importância da greve sanitária para a sáude mental, emocional e física dos servidores

 Por Arthur Lobato, psicólogo, responsável técnico pelo Departamento de Saúde do Trabalhador e Combate ao Assédio Moral (DSTCAM) do SITRAEMG.


Os artigos aqui publicados são de inteira responsabilidade do autor, não sendo esta  necessariamente a opinião da diretoria do SITRAEMG.


Uma análise da importância da greve sanitária do Sitraemg para a sáude mental, emocional e física dos servidores e servidoras concursados que trabalham no Judiciário Federal em Minas Gerais.

Para iniciar essa análise, vou argumentar dentro das premissas colocadas abaixo que contextualizam o artigo:

2 de Setembro de 2021, no Brasil:

  • 581 mil de mortos
  • 20,8 milhões de infectados
  • 136,4 milhões de vacinados com 1 dose
  • 63,5 milhões de vacinados com 2 doses.

Argumento 1: A pandemia continua existindo e, além do óbito, há sequelas para quem enfrentou o vírus.

Argumento 2: Paciência, a vacinação até o fim do ano terá imunizado a maioria da população com as duas doses, segundo prognóstico do governo.

Argumento 3:  O teletrabalho emergencial tem atendido as demandas do judiciário, já que a pandemia acelerou a viabilização do processo de trabalho a distância

Argumento 4: Houve uma enorme economia dos tribunais, com os gastos de serviços terceirizados – água, luz, internet, etc.

O teletrabalho veio para ficar. A pandemia acelerou esse processo, mas de forma emergencial, sem regulamentação dos direitos do teletrabalhador, ausência da cessão de equipamentos e aumento da jornada de trabalho para cumprir as exigências de produtividade, sem pagamento de horas extras. Apesar disso, o teletrabalho foi importante para preservação da vida dos trabalhadores, evitando o trabalho presencial e diminuindo a probabilidade de se contaminar com o coronavírus. Esse foi um dos objetivos das resoluções 227 (teletrabalho) 322, 371, 397 do teletrabalho emergencial.

Passados um ano e meio depois do período de adaptação à novidade, que foi a pandemia, o isolamento social, e a possibilidade de trabalhar a distância, fica a pergunta: porque voltar ao trabalho presencial e não regulamentar o teletrabalho para quem o executa bem e quer continuar nessa modalidade?

Entendo que o teletrabalho deva ser um direito de quem o executa com produtividade, e o retorno de um grande número de servidores que já se adaptaram ao teletrabalho, seria prejudicial, tanto para a organização do trabalho, quanto para saúde mental do servidor, afetando sua motivação para o trabalho, devido à necessidade de se expor ao vírus em um momento em que a pandemia ainda não acabou e com a vacinação da população ainda incompleta. Esses três itens se confundem no psiquismo e geram medo e ansiedade.

O social se entrelaça com o psicológico, tanto é que as pesquisas do CNJ revelam o medo, o desânimo e a insegurança que esse momento pandêmico trouxe para a humanidade.

A pandemia do Sars-Cov2 se disseminou rapidamente pelo mundo inteiro, com velocidade de contágio e mortes alarmantes. Felizmente, estamos vendo a luz no fim do túnel. O avanço científico possibilitou a fabricação de vacinas e as mídias sociais ajudaram no processo informativo, apesar dos grupos radicais negacionistas e produtores de fake news, que geraram dúvidas, desinformação e sofrimento.

Nada será como antes, tanto na vida social quanto no mundo do trabalho, já que variantes do vírus já estão acometendo alguns países. Dessa forma, as regras sanitárias estão sendo mantidas, como ocorreu no Vale do Silício, nos Estados Unidos, em que a alta taxa de contaminação pela variante Delta fez com que a volta ao trabalho presencial fosse questionada e o uso de máscaras e distanciamento social fossem recomendados novamente, mesmo em um país com alta taxa de vacinação.

Concluindo, como ainda vivemos em um período pandêmico, com diversas adaptações, o mundo trabalho não seria diferente. Logo, é necessário a manutenção do teletrabalho, já que a economia não pode parar e os servidores públicos possuem um compromisso com a população. E se temos uma pandemia que tudo mudou, o trabalho também teve que se adaptar, pois a economia não pode parar, e os servidores públicos têm que continuar. Mas, se no campo do trabalho existe o teletrabalho, por que devo arriscar minha vida e a de meus familiares enquanto a imunização total dos brasileiros já pode ser vislumbrada?

A pandemia trouxe mudanças radicais, como, por exemplo, a greve sanitária, a greve pela vida, em que o trabalhador continua a trabalhar, mas a distância. A greve sanitária significa uma recusa de ir trabalhar presencialmente, porque vivemos num mundo em que a tecnologia permite o home office para a maioria dos servidores do judiciário, enquanto a pandemia continua sendo uma realidade mortal.

Questões psicológicas que podem se passar no pensamento do servidor:

  • “eu não posso”: o trabalho forma a consciência do trabalhador, que, vivenciando uma estrutura hierárquica e vertical, introjeta normas e valores da instituição.
  • “tenho medo”: O medo é um sentimento necessário para a reflexão humana, pois sentimos medo quando testamos nossos limites ou nos envolvemos, por querer ou casualmente, em situações de conflito. A preocupac?a?o com a punição gera o medo paralisante, que impede a ação, que seria a adesão à greve.
  • “eu não quero”: por razões pessoais ou ideológicas, o indivíduo pode não considerar a greve sanitária a melhor opção; no entanto, a outra opção é voltar ao trabalho presencial.
  • “eu quero mas não consigo”: Demonstra um conflito entre o desejo de permanecer no trabalho presencial, a vontade de aderir à greve, mas, ao mesmo tempo, não conseguir dar o primeiro passo, que é ligar ao sindicato e aderir aos protocolos sanitários.

A greve sanitária foi decretada, já que o envio de ofícios aos tribunais, solicitando providências das demandas do servidor e os encaminhamentos administrativos e jurídicos, muitas vezes não surtiram os efeitos desejados, em prol da vida e da manutenção do teletrabalho.

A vacinação está evoluindo, temos que ter o pacto pela vida e não podemos aceitar que a burocracia administrativa definam quem volta ao trabalho ou não.

Nossas fraquezas e nossos medos fazem parte da dimensão humana, nos colocando frente aos nossos limites: individuais, laborais e sociais. O medo é um sentimento em que as pessoas ocultam e negam, para fugir do problema ou conflito. A ansiedade gerada pelo fato de ir trabalhar presencialmente e a preocupação com a transmissão do vírus a parentes e familiares com os quais convive não pode ser contida simplesmente com medicação. É necessário enfrentar a situação, e o sindicato lança a proposta de aderir à greve sanitária, um pacto pela vida.

Portanto, se há uma pandemia inédita, também temos uma proposta coerente em prol da saúde do trabalhador: a greve sanitária. Vamos sempre reforçar que a greve sanitária é uma greve pela vida, e pelo trabalho a distância.

Fica a questão:

Qual a necessidade de aumentar a volta da maioria dos servidores, que estavam em teletrabalho emergencial, ao trabalho presencial? Não seria regredir, diante dessa possibilidade tecnológica, que possibilita essa nova modalidade de trabalho, através da evolução das mídias e tecnologias?

Nos próximos artigos, continuaremos essa análise focando no teletrabalho no judiciário. Participe, dê sugestões, relate sua história no e-mail: lobato@sitraemg.org.br  Também debateremos mais esses temas, o porquê e quais interesses regem, no campo da organização do trabalho, a volta ao trabalho presencial.

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