Sérgio Murillo, presidente da FENAJ apoia Campanha Nacional contra o assédio moral e cita trechos da tese a ser apresentada no 33° Congresso Nacional dos Jornalistas.
Assédio moral: anomalia ou necessidade?
* Sérgio Murillo de Andrade
Tão antiga quanto a relação de exploração do homem pelo homem, é a violência moral no mundo do trabalho. O desenvolvimento das forças produtivas aliado a uma espécie de “vazio ético contemporâneo” têm agravado o problema.
As mudanças na forma de produzir e acumular riqueza implantadas pelo capitalismo nos últimos 30 anos produziram um ambiente de trabalho que valoriza e estimula a competitividade e a submissão absoluta às metas de maior produtividade. As inovações introduzidas no processo produtivo não se fizeram acompanhar por um novo marco regulatório, capaz de impedir ou desestimular a coerção moral. Muito ao contrário, exigiram um processo sem precedentes de desregulamentação e flexibilização, em especial, das garantias trabalhistas.
Este novo velho mundo gerou valores ideológicos que moldaram um trabalhador que tem o dever de pensar antes de tudo em si mesmo, produzindo uma matriz ética própria que admite, inclusive, a total falta de ética nas relações humanas.
Acredito que esta nova situação não representa uma anomalia do sistema, mas o alimenta e é necessária para a sua sustentação material e ideológica.
A bibliografia informa que assédio moral é toda e qualquer conduta que caracterize comportamento abusivo, freqüente e intencional. Gestos, palavras, atitudes, mensagens que causem danos físicos ou psíquicos estão incorporados ao cotidiano das redações em todo Brasil.
Nossa profissão cumpriu um papel instrumental na implantação do padrão neoliberal e sofreu de modo peculiar com seus perversos efeitos. A precarização das relações de trabalho, a pejotização, a terceirização, os estágios irregulares, os subcontratos, o arrocho salarial e o drama do desemprego tornaram boa parte da categoria refém de praticas despóticas e inconseqüentes. Para piorar, ainda aposta-se no descrédito dos projetos coletivos e no enfraquecimento das entidades sindicais.
Infelizmente ainda há pouca bibliografia sobre esse tema. Mais raras ainda são as obras específicas sobre assédio moral no mundo da comunicação. O novo Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros inovou, entre outros aspectos, no combate ao assédio moral. O artigo 6° do capítulo II - Da conduta profissional do jornalista - parágrafo - XIII orienta: É dever do jornalista, denunciar as práticas de assédio moral no trabalho às autoridades, e, quando for o caso, à comissão de ética competente. No capitulo III, da responsabilidade profissional do jornalista, o artigo 12°, que trata dos deveres do jornalista, enfatiza no parágrafo IX, que o jornalista deve “manter relações de respeito e solidariedade no ambiente de trabalho”. Já no capítulo IV, que trata das relações profissionais, o artigo 14, parágrafo II, também orienta: O jornalista não deve ameaçar, intimidar ou praticar assédio moral e/ou sexual contra outro profissional em ambiente de trabalho, devendo denunciar tais práticas à comissão de ética competente.
Ou seja, o conhecimento das normas éticas e o zelo pela sua observância também contribuem para enfrentar e desmistificar a questão do assédio moral. No entanto, o objetivo da erradicação dessa violência requer o cultivo de uma cultura da denúncia. Conforme a tese da Diretoria da FENAJ ao 33º Congresso Nacional da categoria: “É a partir da denúncia, que o Sindicato e a Federação poderão tomar medidas que vão além da comissão de ética, como, por exemplo, o ajuizamento de ações na DRT e MPT. Mais do que denunciar é importante, também, um amplo trabalho de prevenção e combate ao assédio moral no ambiente de trabalho. Luta que é de todos nós jornalistas, que devemos nos conscientizar de que a violência moral, as constantes humilhações, a vergonha e o medo são o combustível do assédio moral, e se não lutarmos seremos massacrados, destruídos psiquicamente e emocionalmente, e, aos poucos seremos transformados de ‘sujeito em objeto’, de seres produtivos em improdutivos, doentes e demitidos”.
O objeto do jornalismo é a história do presente. Para escrevê-la e reescrevê-la todos os dias é imprescindível o gozo da liberdade, o exercício permanente da solidariedade e da tolerância. As relações de trabalho autoritárias e constrangedoras, traduzidas pelo assédio moral, são inconciliáveis com essa condição. São inconciliáveis com o próprio jornalismo.
* Jornalista, professor do Ielusc, Presidente da FENAJ
artigo publicado no site
http://www.fenaj.org.br/materia.php?id=2222
Tese 33º Congresso dos Jornalistas
http://assediomoralesaudenotrabalho.blogspot.com/2008/07/muito-alm-da-comisso-de-tica.html
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