Para abordarem o tema “Combate ao Assédio Moral nas Relações de Trabalho”, na tarde deste sábado (19/05), no segundo dia do XI Congresso Ordinário do SITRAEMG, em Uberlândia (MG), foram convidados como palestrantes o professor Giovanni Alves, que é doutor em ciências sociais pela Unicamp, livre-docente em sociologia e professor da Unesp, campus de Marília; e o psicólogo Arthur Lobato, responsável técnico pelo Departamento de Saúde do Trabalhador e Combate ao Assédio Moral (DSTCAM) do SITRAEMG. Compuseram a mesa, além dos palestrantes, o coordenador Nestor Santiago, como condutor dos trabalhos, a também coordenadora Elimara Gaia e o conselheiro fiscal Isaac Raymundo.
Antes de se iniciarem as palestras, o coordenador Nestor Santiago afirmou que assédio moral já se sabia o “nome; atualmente, depois de se jogarem luzes também sobre o bullying, se sabe o “sobrenome”. “Não queremos mais isso: não queremos racismo, homofobia”, vaticinou, destacando que é muito importante o assediado ter a oportunidade de “botar pra fora” seu sentimento. Para o coordenador, assédio moral parece um pouco com o sexual, pela denúncia, por que tem em comum o fato de envolverem os “lobos”, que são ‘fortes demais”. “O Sindicato está ‘jogando luz’ sobre um tema muito importante, que é o assédio moral”, lembrou, e conclamou os colegas a denunciarem os casos de assédio ao DSTCAM, que garantirá todo o sigilo. A coordenadora Elimara Gaia recomendou atenção a todos, em razão da grande importância do tema. O conselheiro fiscal Isaac lembou que esse será um dos temas que entrará em discussão na plenária final do Congresso, marcada para amanhã (domingo, 20).
“O tema atual é assédio moral organizacional”
O professor Giovanni Alves conduziu sua fala com base no subtema “Assédio moral e trabalho – elementos estruturais da nova dinâmica do capitalismo flexível”. Ele esclareceu que o assédio moral é uma prática antiga, fruto do estado brasileiro oligárquico, que tem origem histórica em uma formação colonial e que foi o último a abolir a escravidão. Com o estado oligárquico se tornando também neoliberal, o assédio transformou-se também em “organizacional”, sendo permitido veladamente também nas organizações de trabalho. “O estado brasileiro é um estado moderno com deformações oligárquicas. Uma árvore frondosa, que tem as suas raízes apodrecidas”, criticou.
No serviço público, explicou o palestrante, o assédio moral organizacional é também consequência da adoção do modelo de gestão da iniciativa privada nos órgãos públicos. “Você não pode administrar um hospital público como uma fábrica de salsicha, com o mesmo modelo de gestão. É a lógica do produtivismo, do controle, da técnica do operacional. Trabalhando com medo se produz mais”, protestou.
Para por fim à prática do assédio moral organizacional, o professor e pesquisador defendeu a democratização das relações de trabalho, para quebrar a cultura oligárquica e as pessoas se verem como um sujeito de direito, ter dignidade. Trata-se, disse ele, de uma questão política, que vem da forma de gestão e que é importante que os sindicatos tragam o assunto para discussão, criando um espaço de esclarecimento.
O assédio pode ser explícito com a exigência de metas de produtividade
O psicólogo Arthur Lobato esclareceu que o assédio não é uma doença. Seu processo de construção é que leva ao adoecimento. E ele começa como uma “coisa pequena” e vai crescendo, levando o assediado à humilhação. Muitas vezes, começa no local de trabalho, vai sendo levado para casa e contamina toda a família. Normalmente, se dá de forma invisível, mas, com a adoção das políticas de metas de produtividade no judiciário, pode se manifestar de forma explícita, sob a escaramuça da pressão pelo aumento da produtividade.
Lobato explicou que o combate ao assédio moral é uma grande preocupação do SITRAEMG, que procura trabalhar no mais absoluto sigilo. “Preservamos a pessoa que está sofrendo, acolhemos, criamos um vínculo de confiança, a partir da qual traçamos uma estratégia de ação. Mas o primeiro caminho é do diálogo”, tranquilizou.
Ele encerrou sua participação citando a seguinte frase da juíza Claudia Reina, do TRT/RJ: “O assédio, coação ou violência moral está ligado ao direito fundamental à dignidade humana, à imagem, à honra, à personalidade e à saúde do empregado, todos, direitos da Constituição Federal”. E disse, por fim: “Somos seres humanos. Não somos máquinas. Pelo desenvolvimento do ser humano, vamos combater o assédio moral, hoje amanhã e sempre”.
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