Por Arthur Lobato, psicólogo, responsável técnico pelo Departamento de Saúde do Trabalhador e Combate ao Assédio Moral (DSTCAM) do SITRAEMG.
O professor doutor Christophe Dejours, especialista em psicanálise, saúde e trabalho é professor titular da cadeira de Psicanálise, Saúde e Trabalho do Conservatório Nacional de Artes e Ofícios, em Paris, na França, e diretor de pesquisa na Universidade René Descartes Paris V. Em palestra feita no TRT4, em Porto alegre, Dejours propõe uma mudança paradigmática: da análise do sintoma (efeito da doença) para a etiologia: a origem da doença. Segundo o pesquisador “todo problema na organização do trabalho é um problema político”.
Quando se constata que aumenta cada vez mais o número de doenças mentais ocasionadas pelo trabalho, temos um diagnóstico a partir do adoecer, por isso é importante entender as origens desde adoecer, para poder impedi-lo. Dejours propõe uma virada paradigmática:
“… em vez da análise do sintoma, partir para a etiologia: a análise das causas da doença, que deram origem ao sintoma” (ponta do iceberg/doença). Afinal, o sintoma é o que se manifesta, é o fenômeno que se analisa, de onde deve partir a análise para compreender suas origens (etiologia). É uma virada epistemológica, uma mudança do paradigma atual sobre o adoecer do trabalhador, reforçando a ênfase na descoberta da origem da doença para que a prevenção seja realmente eficiente.
Dejours ressalta a importância de um atendimento multidisciplinar no campo da saúde do trabalhador, discurso importante neste momento, quando no Brasil, o “ato médico” de forma autoritária consolidou o poder supremo da medicina sobre outras áreas de saber da saúde como um todo. Entretanto, sabemos que o psicólogo, o assistente social, o fisioterapeuta, o enfermeiro, o nutricionista, e outros profissionais de saúde, também possuem saberes inerentes a sua profissão, que não podem ser desconsiderados ou excluídos de um tratamento.
Queremos enquanto profissionais da saúde do trabalhador, entender os possíveis destinos da relação entre trabalho e subjetividade, com a multiplicidade de saberes em prol do ser humano.
Por isso, segundo Dejours “no ambiente de trabalho é importante a realização de pesquisas para entender a relação entre o trabalho e o adoecer do trabalhador”.
Afinal, a saúde mental é individual, mas também pertence ao coletivo de trabalhadores, e a prevenção é o tecido social, já que envolve a solidariedade e o respeito entre e para com os trabalhadores. Para Dejours, as principais questões/problemas/conflitos relatados em suas pesquisas envolvem a hierarquia, a disciplina e a autoridade. Constata-se que a autoridade diferente do autoritarismo, que é uma forma de abuso de poder, é uma aprendizagem que se faz na relação do trabalho. Na análise sobre a hierarquia e disciplina, constata-se que “quanto mais regras, maior é o medo”.
Em ambientes onde prevalecem o autoritarismo nas relações de trabalho, como no caso de alguns tribunais, o trabalhador desconectado do grupo, do coletivo, procura desenvolver estratégias de defesa individuais que representam uma recusa de sofrer, para “sobreviver” no trabalho. No entanto o sofrimento mental e emocional, represado pela estratégia de defesa individual, logo evolui para o adoecimento e para o transtorno psíquico emocional. Não podemos esquecer que na clínica do trabalho, a identidade do trabalhador é criada no campo do trabalho, por isso é importante um espaço para falar do trabalho, pois “só assim se chega a uma arbitragem sobre as deliberações e opiniões dos trabalhadores para a adaptação das normas da instituição, com a experiência e o saber do trabalhador”. Por isso, é importante a análise da etiologia (origens da doença) e não apenas tratar os sintomas, sem buscar a fonte do mal-estar, do adoecer do trabalhador. Que este seja um dos focos para as futuras pesquisas e ações das Comissões Paritárias dos Tribunais/Sindicatos, criadas para preservar a saúde dos servidores e magistrados: unir as normas da instituição com o saber do trabalhador, em busca de um ambiente saudável no trabalho.
Arthur LobatoPsicólogo/ Saúde do trabalhador
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