terça-feira, 16 de julho de 2019

Inteligência Artificial nos tribunais: robôs fazem sentenças na Estônia

Por Arthur Lobato, psicólogo, responsável técnico pelo Departamento de Saúde do Trabalhador e Combate ao Assédio Moral (DSTCAM) do SITRAEMG.
É inegável que as transformações tecnológicas no século XXI impactaram e revolucionaram a forma como vivemos em sociedade e na formação da nossa subjetividade. Tudo se acelerou e é realizado nas redes sociais, desde o estudo e conhecimento até o consumo, inclusive, das perversões. Nanotecnologia, provedores cada vez mais rápidos na conectividade e o enorme estoque de informação armazenado nas nuvens, a IV revolução industrial é um produto da tecnologia, que se retroalimenta das inovações e aperfeiçoamentos.
O fim de certas profissões é inevitável com o avanço da tecnologia. O carroceiro trocou sua carroça por um automóvel e, em vez de chicotear animais, aprendeu a dirigir. Quem consertava máquinas de datilografar, perdeu emprego com a substituição das máquinas de escrever pelo teclado do computador. O papel vira documento virtual, smartphones fazem com que as pessoas digitem com os dois dedos apenas, o dedão. A escrita é breve, abreviada, rápida e, após enviada, requer uma resposta instantânea. Ficar ligado em redes sociais em muitos casos se assemelha ao comportamento do vício.
O Departamento de Saúde do Trabalhador e Combate ao Assédio Moral (DSTCAM) do SITRAEMG trabalha com o conceito de prevenção. Prevenir é alertar. No nosso caso, perceber as novas formas em que o trabalho se organiza e os impactos sobre a saúde dos trabalhadores.
Desde 2018, publicamos uma série de artigos para debater a automação, quando o homem controla a máquina para executar o serviço ao mesmo tempo que precisa dela, como no caso do Processo Judicial Eletrônico – PJE. Assim como os robôs inteligentes, que operam nas fábricas, temos os algoritmos chamados de Inteligência Artificial (IA), ou seja, tem a capacidade de tomar decisões, independente do controle humano. Estamos vivendo uma época em que países produtores de robôs estão exportando robôs para outros países, principalmente a China.
Os algoritmos partem de uma base de dados dos técnicos em informática e os experts, que são as “cabeças pensantes” do projeto. Claro que todo algoritmo tem a ideologia de quem o cria, como no exemplo de um algoritmo que considerava que as mulheres eram inferiores aos homens e, por isso, não levava em conta que elas eram mais produtivas que homens.
vídeo documentário francês sobre manipulação de dados, fake news, psicologia de massas, Cambridge Analytics, mostra como a IA pode decidir eleições a partir de algoritmos criados para forjar, disseminar mentiras, ameaças criando medo, elegendo o que seria o “salvador da pátria”. A grande questão é que se construa um mecanismo jurídico que abra o código em que foi feito o algoritmo, especialistas jurídicos com conhecimento de ciências da computação, ou seja, esta configurado um novo campo no mundo do trabalho, com muitos desafios e a importância do direito como mecanismo protetor da saúde do trabalhador, pois, agora, o seu chefe pode ser um algoritmo como no caso do Uber e da Estônia, onde robôs IA já fazem sentenças.
Veja a notícia sobre o assunto por meio deste link.
 Análise da matéria acima: Como contraponto desta matéria, existe a fala de um magistrado, que diz que quem faz as sentenças são os assessores dos juízes. Bom, essa tese confirma o que foi constatado na reunião com assistentes de juízes realizado pelo SITRAEMG (leia o artigo “O trabalho do assistente do Juiz”).
Por outro lado, os escritórios de advocacia, os “lawtechs”, já produzem sentenças baseadas em banco de dados de sentenças e alguns até medem as tendências das sentenças de cada juiz, pois em toda sentença sempre existirá a subjetividade do julgador, e mesmo dizendo que robôs não têm subjetividade, a pessoa ou empresa que construiu o algoritmo de IA, sabe muito bem os objetivos. Dessa forma, houve subjetividade na construção da inteligência artificial.
Nas fábricas, os robôs constroem novos robôs, a partir de informações contidas em algoritmos que foram criadas por técnicos de informática. Banco de dados, com o saber do trabalhador em como executar as funções, e os “experts” que definirão os parâmetros e o passo a passo do algoritmo, para ele executar aquela tarefa específica para a qual foi programado. Mas com a “IA” estes algoritmos vão ter a capacidade de também raciocinar, ou seja, vão ser logo, mais do que foram criados, pois agora ele interpretará os dados a partir de um código lógico baseado nos princípios da lógica formal. Por exemplo: Eu sou humano, todo humano é mortal, logo sou  mortal. Mas premissas equivocadas levam a conclusões equivocadas. Podemos confiar em IA fazendo sentenças a partir de um banco de dados contraditório?
Para entender o futuro temos que aprender com o passado, pois o presente, como diria Hannah Arendt, é o movimento entre o passado e o futuro.

Arthur LobatoPsicólogo/Saúde  do trabalhador

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