Por Arthur Lobato, psicólogo, responsável técnico pelo Departamento de Saúde do Trabalhador e Combate ao Assédio Moral (DSTCAM) do SITRAEMG.
É inegável que as transformações tecnológicas no século XXI impactaram e revolucionaram a forma como vivemos em sociedade e na formação da nossa subjetividade. Tudo se acelerou e é realizado nas redes sociais, desde o estudo e conhecimento até o consumo, inclusive, das perversões. Nanotecnologia, provedores cada vez mais rápidos na conectividade e o enorme estoque de informação armazenado nas nuvens, a IV revolução industrial é um produto da tecnologia, que se retroalimenta das inovações e aperfeiçoamentos.
O fim de certas profissões é inevitável com o avanço da tecnologia. O carroceiro trocou sua carroça por um automóvel e, em vez de chicotear animais, aprendeu a dirigir. Quem consertava máquinas de datilografar, perdeu emprego com a substituição das máquinas de escrever pelo teclado do computador. O papel vira documento virtual, smartphones fazem com que as pessoas digitem com os dois dedos apenas, o dedão. A escrita é breve, abreviada, rápida e, após enviada, requer uma resposta instantânea. Ficar ligado em redes sociais em muitos casos se assemelha ao comportamento do vício.
O Departamento de Saúde do Trabalhador e Combate ao Assédio Moral (DSTCAM) do SITRAEMG trabalha com o conceito de prevenção. Prevenir é alertar. No nosso caso, perceber as novas formas em que o trabalho se organiza e os impactos sobre a saúde dos trabalhadores.
Desde 2018, publicamos uma série de artigos para debater a automação, quando o homem controla a máquina para executar o serviço ao mesmo tempo que precisa dela, como no caso do Processo Judicial Eletrônico – PJE. Assim como os robôs inteligentes, que operam nas fábricas, temos os algoritmos chamados de Inteligência Artificial (IA), ou seja, tem a capacidade de tomar decisões, independente do controle humano. Estamos vivendo uma época em que países produtores de robôs estão exportando robôs para outros países, principalmente a China.
Os algoritmos partem de uma base de dados dos técnicos em informática e os experts, que são as “cabeças pensantes” do projeto. Claro que todo algoritmo tem a ideologia de quem o cria, como no exemplo de um algoritmo que considerava que as mulheres eram inferiores aos homens e, por isso, não levava em conta que elas eram mais produtivas que homens.
O vídeo documentário francês sobre manipulação de dados, fake news, psicologia de massas, Cambridge Analytics, mostra como a IA pode decidir eleições a partir de algoritmos criados para forjar, disseminar mentiras, ameaças criando medo, elegendo o que seria o “salvador da pátria”. A grande questão é que se construa um mecanismo jurídico que abra o código em que foi feito o algoritmo, especialistas jurídicos com conhecimento de ciências da computação, ou seja, esta configurado um novo campo no mundo do trabalho, com muitos desafios e a importância do direito como mecanismo protetor da saúde do trabalhador, pois, agora, o seu chefe pode ser um algoritmo como no caso do Uber e da Estônia, onde robôs IA já fazem sentenças.
Veja a notícia sobre o assunto por meio deste link.
Análise da matéria acima: Como contraponto desta matéria, existe a fala de um magistrado, que diz que quem faz as sentenças são os assessores dos juízes. Bom, essa tese confirma o que foi constatado na reunião com assistentes de juízes realizado pelo SITRAEMG (leia o artigo “O trabalho do assistente do Juiz”).
Por outro lado, os escritórios de advocacia, os “lawtechs”, já produzem sentenças baseadas em banco de dados de sentenças e alguns até medem as tendências das sentenças de cada juiz, pois em toda sentença sempre existirá a subjetividade do julgador, e mesmo dizendo que robôs não têm subjetividade, a pessoa ou empresa que construiu o algoritmo de IA, sabe muito bem os objetivos. Dessa forma, houve subjetividade na construção da inteligência artificial.
Nas fábricas, os robôs constroem novos robôs, a partir de informações contidas em algoritmos que foram criadas por técnicos de informática. Banco de dados, com o saber do trabalhador em como executar as funções, e os “experts” que definirão os parâmetros e o passo a passo do algoritmo, para ele executar aquela tarefa específica para a qual foi programado. Mas com a “IA” estes algoritmos vão ter a capacidade de também raciocinar, ou seja, vão ser logo, mais do que foram criados, pois agora ele interpretará os dados a partir de um código lógico baseado nos princípios da lógica formal. Por exemplo: Eu sou humano, todo humano é mortal, logo sou mortal. Mas premissas equivocadas levam a conclusões equivocadas. Podemos confiar em IA fazendo sentenças a partir de um banco de dados contraditório?
Para entender o futuro temos que aprender com o passado, pois o presente, como diria Hannah Arendt, é o movimento entre o passado e o futuro.
Arthur LobatoPsicólogo/Saúde do trabalhador
Publicado em: http://www.sitraemg.org.br/
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