domingo, 7 de maio de 2023

Dia 2 de Maio: Dia Nacional de Combate ao Assédio Moral

 Por Arthur Lobato, psicólogo, responsável técnico pelo Departamento de Saúde do Trabalhador e Combate ao Assédio Moral (DSTCAM)

No dia de hoje gostaria de fazer uma homenagem a Margarida Barreto, pioneira no Brasil da pesquisa sobre assédio moral no trabalho, tema que dedicou parte de sua vida.

Margarida Barreto faleceu no dia 3 de março de 2022, mas deixou suas ideias em livros, artigos, vídeos, lives e palestras que realizou em sindicatos, congressos e seminários, no Brasil e no exterior. Deixou também no coração de todos nós que a conhecemos e tivemos a oportunidade de conviver com esta guerreira incansável em sua luta em prol da classe trabalhadora.

O assédio moral no trabalho é um problema grave que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Infelizmente, muitos trabalhadores ainda são vítimas de comportamentos abusivos por parte de colegas, superiores ou até mesmo de clientes. Barreto é uma das principais referências no estudo do assédio moral no Brasil. E sua pesquisa tem ajudado a conscientizar a população, empresas, instituições públicas e sindicatos sobre a importância de se criarem ambientes de trabalho saudáveis e respeitosos.

Margarida Barreto era médica, professora de Psicologia Social, doutora em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), entre tantos títulos, além de atividades laborais desempenhadas, sempre em prol da classe trabalhadora.

No início dos anos 1990, começou a trabalhar no Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Química, Plásticos e Cosméticos de São Paulo e no Sindicato dos Bancários de São Paulo. Lá, atendendo trabalhadores da produção de diferentes multinacionais, ela começou a ouvir histórias de dor e sofrimento, que a levaram a fazer mestrado e doutorado em Psicologia Social, com o objetivo de entender o que ouvia e se recusar a banalizar a escuta.

Dessa escuta ativa surgiu o título de sua dissertação, “Uma jornada de humilhações”, defendida em 2000. Entre os objetivos de sua luta está a necessidade de esclarecer o conceito de assédio moral e compreender as múltiplas determinações e dimensões do significado da violência moral no Brasil.

Vamos relembrar o conceito de assédio moral, publicado em seu último livro em parceria com o professor doutor Roberto Heloani “Assédio Moral, gestão por humilhação”:

“Assédio moral é uma conduta abusiva, intencional, frequente e repetida, que ocorre no meio ambiente laboral, cuja causalidade se relaciona com as formas de organizar o trabalho e a cultura organizacional, que visa humilhar e desqualificar um indivíduo ou um grupo, degradando as suas condições de trabalho, atingindo a sua dignidade e colocando em risco a sua integridade pessoal e profissional.“  (Barreto; Heloani, 2018).

Em 2000, Barreto fundou o grupo de pesquisa Assédio Moral no Trabalho: Saúde, Direitos e Justiça, que se tornou referência no assunto no Brasil. Desde então, ela publicou diversos artigos e livros sobre o tema. Também foi convidada a palestrar em eventos nacionais e internacionais.

Descobriu, em maio de 2000, que na França havia uma pessoa que, a partir de experiências diferentes da sua, escrevia sobre o mesmo assunto e chegava a conclusões semelhantes. Era Marie-France Hirigoyen, pesquisadora francesa e também pioneira nos estudos sobre assédio moral. E elas estabeleceram contato.

Além de seu trabalho acadêmico, Barreto também atuou como consultora em sindicatos e órgãos públicos, ajudando a implementar políticas de prevenção ao assédio moral e a capacitar trabalhadores e sindicalistas para lidar com o problema.

Em 2011, circunstancialmente, foi possível dar mais um passo na consolidação das ideias de Margarida Barreto, desde que foi anunciado o I Congresso Ibero-americano sobre Assédio laboral e Institucional. O evento foi realizado de 6 a 8 de julho de 2011, na Escola Nacional de Antropologia e História da Cidade do México. Na sessão de encerramento, concordou em criar a Rede Iberoamericana para a Dignidade no Trabalho e nas Organizações.

Foram as discussões e reclamações dos trabalhadores que forçaram e facilitaram a inclusão do tema assédio moral no ambiente de trabalho na pauta de diversos sindicatos pelo país, assim como em outros espaços sociais. A partir deles, pôde-se compreender as múltiplas determinações e dimensões do significado da violência moral.

Entre suas atividades essenciais, destacam-se a promoção de reuniões, seminários, workshops, relatórios individuais, conferências, congressos, publicações periódicas, cursos, consultoria de empregos, além da criação de grupos interinstitucionais. Da mesma forma, ela incentivou a realização de pesquisas, escreveu alguns livros, capítulos de livros, artigos, apresentações e outros materiais, de modo que até hoje se tornaram comuns as referências ao tema do assédio moral no trabalho.

Promoveu a criação de grupos de trabalhadores de diferentes instituições, com o objetivo de funcionarem como grupo de apoio aos humilhados, pois sabe-se que necessitam de apoio, ombro amigo, compreensão e solidariedade. Nesse sentido, recomenda não esquecer essa dimensão do acolhimento, pois sempre haverá alguém que precisa expressar suas dúvidas, angústias e desesperos. Na composição do grupo, ressalta que deve haver a participação de profissionais de diversas especialidades.

Neste sentido, importa referir os workshops que realizava com as vítimas, em que conseguia a concordância dos seus conhecimentos de medicina, psicologia social e direito do trabalho, com o objetivo de que os participantes identificassem, reconhecessem e se libertassem da situação que foi gerada para eles e, em prol de seu bem-estar, buscassem alternativas para recuperar sua saúde socioemocional.

Por isso, é fundamental que empresas e órgãos públicos sejam responsáveis por garantir ambientes de trabalho seguros e saudáveis para seus funcionários. O trabalho de Margarida Barreto é um importante aliado nesse sentido, pois ajuda a promover a conscientização sobre o assédio moral e a orientar as empresas e instituições públicas sobre como prevenir e combater esse problema, e a criar ambientes de trabalho mais saudáveis e respeitosos.

Segundo Elias Garcia, pesquisador e professor, mexicano, “A vida e a obra de Margarida, amplamente conhecidas no meio acadêmico e, sobretudo, no campo da luta pela dignidade no trabalho e em organizações de trabalhadores, podem ser resumidas nesta frase tantas vezes ditas por ela mesma: Aos trabalhadores: por vocês, para vocês e com vocês, sempre“.

*Colaboração: Dr. Elias Garcia Rosas
Professor e pesquisador da Faculdade de Ciências do Comportamento da Universidade Autônoma do Estado do México


Dia 2 de Maio: Dia Nacional de Combate ao Assédio Moral (sitraemg.org.br)

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