Por Arthur Lobato, psicólogo, responsável técnico pelo Departamento de Saúde do Trabalhador e Combate ao Assédio Moral (DSTCAM) do Sitraemg
Neste texto, gostaria de refletir sobre a saúde mental para além do conceito tradicional da OMS (Organização Mundial de Saúde) segundo o qual “saúde mental é um estado de bem-estar no qual o indivíduo é capaz de usar suas próprias habilidades, recuperar-se do estresse rotineiro, ser produtivo e contribuir com a sua comunidade.”
Utilizando esse conceito como alicerce para nossa argumentação, podemos acrescentar que a ideia de saúde mental, nos trabalhos de Sigmund Freud e Wilhelm Reich, significa a capacidade de cada um de nós de amar e trabalhar. Quando trabalhamos, desenvolvemos nosso lado lógico, racional. Mas todo trabalho envolve também relacionamentos interpessoais, em que, além da razão, as emoções se desenvolvem e influenciam nossa saúde mental.
Quando amamos, deixamos as emoções, os sonhos, o desejo e a ilusão nos dominar. Deixamos de pensar apenas em nós próprios, pois o ser amado é todo desejo de quem ama.
Mas, afinal, o que é o amor? Talvez a emoção mais significativa da vida. Afeta a mente, as emoções, os hormônios, os neurotransmissores, e toda magia da química de nosso corpo. Se trabalharmos a polaridade desta emoção que é o amor, temos, no outro polo, o ódio. Os filósofos da Grécia antiga já narravam histórias da paixão, o “pathos”; o excesso, seja no amor ou na violência do ódio. São as emoções extremas, é a paixão que cega a razão. Portanto, o tênue equilíbrio entre amar e ser amado é um dos componentes fundamentais da saúde mental.
No entanto, cada ser humano é um sujeito entre tantas outras pessoas e cada um de nós; vivencia, em seu íntimo, o conflito intrapsíquico.
O ser humano é o ser do conflito. Seja na família, no trabalho, nas relações sociais. O conflito, muitas vezes, gera angústia, sofrimento. Somente com o diálogo, a escuta da fala do outro, podemos entender o relato da dor do próximo, tentar ser solidários no sofrimento do outro, nas palavras compartilhadas com empatia, e, se possível, com compaixão, tentar fazer brotar novamente a alegria, o sonho, os desejos e as esperanças.
Outro fator importante é a saúde mental dos grupos, analisada por Le Bon e Freud nos estudos de psicologia das massas. Em uma época em que os grupos se cristalizaram nas redes sociais, não podemos de deixar de constar que a saúde mental de muitos adolescentes e adultos está ligada à quantidade de “likes” em sua postagem nas redes sociais.
A questão do desemprego é outro fator de forte impacto na saúde mental. Afeta as necessidades básicas como se alimentar, onde morar e como conseguir gerar renda para sobreviver.
No entanto não basta ter um bom salário e estabilidade no emprego, se as relações interpessoais são tóxicas, se o ambiente laboral é marcado pelo autoritarismo e, muitas vezes, pelo assédio moral, assédio sexual, racismo e discriminação. Esses fatores, chamados de riscos psicossociais no trabalho, são muitas vezes determinantes na questão da manutenção da saúde mental.
Portanto, percebemos que a saúde mental depende de vários fatores, além de nossa vontade de estarmos bem com nós mesmos, com o próximo e com o mundo.
Afinal, como mantermos a saúde mental, se nossas emoções estão em constantes movimentos, conduzindo a razão como um pedaço de madeira em uma forte correnteza? Como eliminarmos ou impedirmos pensamentos intrusivos, que invadem nossa mente e vão afetar as nossas emoções e o equilíbrio proteico, hormonal, neuronal, de nosso organismo?
Como cada ser humano é único em sua subjetividade, não existe uma fórmula universal, mas, parafraseando Guimarães Rosa, existem muitas veredas neste grande sertão que é a vida.
Por isso, manter a saúde mental não é um ato apenas da vontade individual. E, neste texto, refletimos sobre vários elementos que se interrelacionam e vão influenciar na saúde mental de cada um de nós.
Devemos entender e aceitar que somos seres da falta, do desejo, do conflito.
Outro aspecto importante na saúde mental é a capacidade de termos bom humor, refletirmos antes de agir e não deixarmos os pensamentos e desejos nos levarem a caminhos sem retorno. Temos de desenvolver, com muito esforço, a capacidade de não nos desanimar frente às adversidades. Não podemos esquecer que o que vivenciamos em nosso mundo mental nem sempre corresponde à realidade. Quando as decepções, frustrações e desejos não realizados, ilusões perdidas e ideais traídos dominam a nossa mente e as nossas emoções, minando a nossa autoestima, surgem sentimentos de culpa e vergonha que podem nos dominar e nos paralisar. Neste momento, é essencial a ajuda de profissionais de saúde, medicamentos e terapia, para enfrentarmos o adoecimento mental e emocional. Cabe à família, aos amigos e amigas perceberem os sinais de sofrimento do próximo, que, muitas vezes, quer negar que está em sofrimento e adoecido. Devemos observar os sinais: a mudança de comportamento, a apatia, a tristeza, a falta de vontade de fazer o que se gostava, o choro constante. Devemos ser solidários, ter empatia e compaixão por quem está em sofrimento mental.
A vida é o bem maior que temos. Viver é uma dádiva.
Concluindo, entendo que a abordagem da saúde mental perpassa por um nó górdio, com o corpo, a mente e as emoções entrelaçados.
Manter a saúde mental é uma luta constante contra os pensamentos intrusivos que se acumulam junto com emoções tóxicas, no inconsciente, barrados pelo frágil dique da razão. Quando emoções negativas se acumulam e se associam com ideias negativas, surge a pulsão de morte, segundo Freud. E, já que existe a pulsão de morte, existe também a pulsão de vida, a esperança de um mundo mais justo, mais humano, mais solidário. Devemos valorizar a amizade, o amor ao próximo, pois necessitamos do carinho e apoio de quem nos ama.
Somos frágeis seres humanos, não sobrevivemos sem coexistir em sociedade. Dependemos não só de nosso planeta, mas, principalmente, dependemos um do outro.
Tenho ainda a esperança de que um mundo melhor é possível, e de que, para amar e ser amado, devo respeitar e ser respeitado. Justiça, ética, solidariedade, amor. Esses são os pilares que vão fazer o mundo e o ser humano melhores.
Se, no entanto, o seu sofrimento for localizado no trabalho por causa de violência laboral, assédio moral, sexual, racismo ou discriminação, procure o DSTCAM do Sitraemg.
Você contará com o apoio de profissionais capacitados, no campo da saúde do trabalhador, atendimento psicológico, jurídico, administrativo e sindical. Conte com o Sitraemg para manter sua saúde mental no trabalho.
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