sábado, 30 de maio de 2009

Assédio e discriminação racial


* Arthur Lobato


Humilhação, indignação, sofrimento, impotência, esses devem ser alguns dos sentimentos dos escravos. Pensar que era natural considerar um ser humano inferior a outro por causa de sua cor. Tratados como animais, eram também “despossuídos” de alma. A escravidão era a base de sustentação econômica de um Brasil ainda imperial e agrário. A eterna exploração do homem pelo homem.

Albert Camus já afirmava, em sua obra prima:“O Homem Revoltado”: “a revolta começa quando o escravo diz não!” Inicia-se a luta pela liberdade. Surgem os quilombos, reprimidos de forma violenta, mas nunca dizimados. Um homem vira herói negro: Zumbi. Palmares é mais do que um espaço físico: é um ideal de liberdade. Surgem outros idealistas, os abolicionistas, que lutaram pela igualdade dos homens, enfrentando com coragem um mal que persiste até hoje.

Comemorar o quê?

No Brasil, um decreto acabou, da noite para o dia, com a escravidão; sem dar condições aos afro descentes de sobreviver de forma digna, aumentado, ainda mais, as contradições socioeconômicas de nosso País.

Nesse 13 de Maio tivemos pouco a comemorar. A cada época a violência reaparece sob novas formas, mas enquanto a violência física deixa marcas visíveis, na violência moral, as feridas são invisíveis. O resultado de humilhações constantes é um sofrimento vivenciado de forma intensa. A violência moral pode levar a vítima a
depressões crônicas e até mesmo ao suicídio.

Em nosso trabalho de combate ao assédio moral, detectamos muitos conflitos que começam por causa de diferenças que geram discriminação, intransigência e rivalidade.

Marie-France Hirigoyen, pesquisadora do assédio moral no trabalho, constatou que “todo assédio é discriminatório, pois vem ratificar a recusa de uma diferença ou uma particularidade da pessoa. A discriminação (racial)é habitualmente dissimulada, tendo em vista o fato de ser proibida por lei, e, por isso, muito frequentemente se transforma em assédio moral”.

É importante lembrar que, no assédio moral no trabalho, muitas vezes, o que está em jogo é uma relação de poder, de domínio sobre o outro. E o poder não tem sexo, raça ou credo. O assédio é realizado de forma oculta, dúbia, maliciosa, dando margem a diversas interpretações, atuando no psicológico e no emocional da pessoa.

Combater o assédio moral, combater a discriminação racial, lutar por melhores condições de trabalho, são muito mais do que palavras, devem ser ações para que a realidade seja transformada, não por decretos, mas por vontade e participação de todos nós, servidores, sindicalistas e cidadãos.


* Arthur Lobato é psicólogo, pesquisador do assédio moral no trabalho e membro da Comissão de Combate ao Assédio SINJUS-MG/Serjusmig


* Publicado no Jornal Expressão Sinjus Nº177 - 25 de maio de 2009

Expressão Sinjus 177

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