sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Autoestima



Arthur Lobato é psicólogo/Saúde do Trabalhador


O psicanalista francês Jacques Lacan afirmava que, na mente humana, circulam três registros psíquicos: o real, o simbólico e o imaginário. No aspecto imaginário, temos a construção de nossa autoimagem, sempre referendada pelo outro. Assim, pensamos sobre o que somos e o que os outros pensam de nós.

 Mas só nos conflitos temos acesso ao que os outros realmente pensam de nós – quando o desabafo revela o que estava oculto nas brincadeiras, sempre com uma verdade transmitida de forma ambivalente, com duplo sentido, nos atos falhos e lapsos de linguagem (que são manifestações do inconsciente no discurso racional), revelando algo que estava oculto.
A autoestima e o outro
Ter autoestima quer dizer gostar de si próprio. Mas, para isso, precisamos dos sinais positivos do outro, para que nossa autoestima fique em alta. Sabemos o quanto um elogio o ou reconhecimento de nosso valor faz bem; e como é difícil aceitar a crítica, o erro. Assim, nossa autoestima varia “economicamente”, podendo estar em alta ou em baixa, como ações na Bolsa de Valores.
A autoestima tem, na família e no meio social, fatores preponderantes que vão marcar o sujeito pelo resto da vida. A genética também é importante, mas insistimos no “outro” como formador e “combustível” de nossa autoestima.
Hoje em dia, o trabalho ocupa a maior parte do nosso tempo e é onde nos relacionamos com os outros. A autoestima é um valor subjetivo, mas está provado que pessoas que suportam melhor os desafios e sabem lidar de forma positiva com conflitos e problemas têm mais autoestima.
Por outro lado, quem está com a autoestima em baixa tem tendência a não suportar conflitos, mesmo sendo muito competente e eficaz. Racionalmente, são indivíduos capacitados; mas, emocionalmente, são vulneráveis. Assim, muitas vezes, brincadeiras de mau gosto, zombarias, piadas sobre o corpo, o gênero e a idade têm consequências danosas sobre pessoas com baixa autoestima.
Autoestima e assédio moral
Nos casos de assédio moral, é muito comum que uma diferença não aceita pelo outro seja motivo para se excluir a vítima do ambiente do trabalho. O ataque é feito com consequências danosas para autoestima. Aquele que sofre pode começar a desenvolver construções imaginárias que chegam a evoluir para sintomas paranoicos.
Por isso, é importante a solidariedade; a força do grupo como referencial da subjetividade de quem está sendo vítima de assédio moral.
Afinal, as constantes humilhações, as injustiças, a perseguição e a discriminação causam marcas profundas no psiquismo.
Dor que não tem fim, como as crises de choro (sintoma, dessa dor emocional) e a eterna dúvida: o que está acontecendo? O que fiz de errado? Por que estou sendo discriminado e isolado?
Atacada e acuada, sem o referencial do outro e com a autoestima em baixa a vítima não percebe que está sofrendo uma das formas mais torpes de se destruir um ser humano: o assédio moral. Prática que devemos combater, como um compromisso ético em prol da saúde mental e emocional de todos os trabalhadores.

Publicado em: http://site.serjusmig.org.br

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