terça-feira, 6 de agosto de 2019

Metas e Produtividade: adoecimento e sofrimento no trabalho


Autor: Artista Plástico: LAR/Saavedra/Cuba
A OMS define depressão como um transtorno mental comum, caracterizado por tristeza, perda de interesse, ausência de prazer, oscilações entre sentimentos de culpa e baixa autoestima, além de distúrbios do sono ou do apetite. Também há a sensação de cansaço e falta de concentração. Estimativas da OMS apontam que em 2020, a depressão será a maior causa de afastamento nas empresas do mundo inteiro. A depressão tornou-se um problema social, “o mal do século XXI”.

Atualmente, o capitalismo, através do projeto neoliberal, vai explorando a força de trabalho humana, esgotando corpos e mentes de quem trabalha. A consequencia é o adoecimento psiquíco, emocional e fisico. Alertamos que o adoecer não é uma fraqueza do sujeito, mas um efeito do modo de produção e dos modelos de gestão, pois o trabalho assume o lugar central de nossas vidas. Todo nosso tempo é em função do trabalho. Antes trabalhávamos para viver, hoje vivemos para trabalhar e coitado do adoecido e do desempregado pois eles são excluídos do processo produtivo e a culpa é jogada nele, a vítima, e não no modelo como se organizou o trabalho no século XXI.

Outro componente de adoecimento laboral, é o assédio moral, muitas vezes associado a um modelo de gestão adoecedor, que esgota toda a energia física, psíquica e emocional do trabalhador. O efeito do assédio moral é o adoecimento do trabalhador, que é descartado com pensamentos de culpa, de ser um fraco, de não ter dado conta de se superar diariamente na produtividade que é a exploração da mais valia do trabalhador e dos coletivos do trabalho.

Edith Seligmann-Silva, psiquiatra, doutora em medicina, afirma que:

O assédio moral em casos de pessoas adoecidas, menos produtivas, pode ocorrer devido a reabilitação inadequada que pode levar, inclusive ao assédio grupal, com a participação de colegas, o que pode ser explicado pelo sentimento de que a pessoa, por produzir menos, sobrecarrega os demais, que podem, de fato, sentir-se sobrecarregados. É uma situação na qual na verdade, quem adoeceu deveria ser reabilitado em uma função adequada a suas outras capacidades. (SELIGMANN-SILVA, 2011)

Quando a política de metas e produtividade é lançada como um furacão no serviço público, não se estuda o que aconteceu quando este modelo foi implementado nas privatizações dos bancos estaduais, com o alto índice de adoecimento dos bancários e elevado suicídios no ambiente de trabalho. Esconde-se os efeitos deste modelo, para elogiar o “sucesso” do aumento da produtividade.

A obsessão por metas e produtividade, até hoje modelo do sistema bancário, adoece e mata, conforme vários estudos e pesquisas, e o trabalhador fica com a culpa de não ter dado conta, de que ele é incompetente, ou seja, introjeta o discurso da organização do trabalho, sem perceber que ele dá o máximo de si, e não foi reconhecido seu limite enquanto ser humano, e o pior, existem milhares para ocupar o seu lugar e adoecer e talvez até morrer. Fica para o trabalhador o adoecimento, a sensação de fracasso, de que podia ter se esforçado mais, de não ter dado conta. A culpa e a vergonha dominam corações e mentes destes trabalhadores adoecidos pelo sistema onde o que importa é bater constantemente as metas e ser mais produtivo. O dado estatístico é tudo que importa, e o ser humano é simplesmente um meio para alcançar as metas e para isso tem de ser explorado até a exaustão. É como a metáfora do filme de Fritz Lang, “Metrópolis”, Moloch, o devorador de almas, que através do excesso de trabalho leva a exaustão total do trabalhador.

Trago essas reflexões, radicais para alguns, mas fundamentaispara o debate, para que cada um de nós reflita e tenha plena consciência de que o trabalho só vai libertar a humanidade quando for um trabalho que tenha sentido para quem executa esse trabalho, quando o trabalhador for respeitado em suas diferenças. Quando a voz do trabalhador estiver presente na política de metas, quando o coletivo se organizar em busca de mais produtividade sem que os envolvidos adoeçam por isso. Para isto, o trabalhador deve ser respeitado, amparado, ter o direito de adoecer ou de a mulher engravidar sem ser punida por isso, e vocês, servidores públicos, alvos da mídia, do Estado, do Congresso Nacional, nunca se esqueçam de que são concursados, com estabilidade, para fazer com que o interesse público não se transforme em mais um lote de exploração da iniciativa privada. Através da terceirização dos serviços públicos, transformarão o que é público em privado, beneficiando como sempre as elites e os poderosos.

Procure o SERJUSMIG e ajude nossa luta para que o trabalho não seja fonte de sofrimento e adoecimento.

Arthur lobato é psicólogo, especializado no campo da saúde do trabalhador.

Contato: lobato@serjusmig.org.br
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