Um livro publicado pelo prefeito Fuad
Noman (PSD) em 2020, quando ainda era
secretário da Fazenda de Alexandre Kalil, vem pautando as eleições municipais
de Belo Horizonte, uma vez que seu adversário, Bruno Engler (PL), incorporou trechos da obra intitulada "Cobiça" em
sua campanha. De caráter ficcional, o livro narra a história de uma mulher,
Sueli, que viaja ao interior de Minas Gerais e se reconecta com memórias
antigas.
Em dado momento, Fuad descreve uma cena
de estupro coletivo de uma criança, de doze anos. A passagem traz detalhes da
violência, motivo pelo qual Engler passou a acusar o prefeito de endossar a
"pedofilia" e escrever "pornografia".
Tais alegações foram, inclusive,
veiculadas no horário eleitoral do candidato. Por decisão da Justiça, como
adiantou o portal g1, a peça foi suspensa na noite desta terça-feira. O
despacho do juiz Adriano Zoche defendeu que a descrição feita pelo prefeito não
faz estímulo à pedofilia.
“O trecho destacado, quando analisado
em seu contexto literário, é parte de uma narrativa fictícia que relata a
história de uma personagem de forma a evidenciar tragédias e abusos sofridos
por ela, sem qualquer apologia ou incentivo a tais atos. Ocorre que a
propaganda dá a entender claramente que a descrição de uma cena em livro, a
qual retrata fato sabidamente ilícito, criminoso e imoral, implicaria
automaticamente em endosso à prática. Isso é descontextualização”, diz um
trecho da decisão.
No vídeo, a vice de Engler, Coronel
Cláudia, diz que o prefeito escreveu um livro com detalhes sobre um estupro e
afirma que tal fato não deveria ocorrer nem em pensamento:
— Na página 159, Fuad descreve o
estupro coletivo de uma criança de 12 anos. Eu não vou nem ler o que está
escrito pois é muito pesado e pode ter crianças ouvindo. Ele se defende dizendo
que é uma ficção. Mas como alguém pode sequer pensar no estupro de uma criança?
Isso é assustador. Não acredita? Acesse o Google e digite "Fuad
Cobiça" — afirma a vice.
Antes de ser usado pela campanha de Engler, trechos
eróticos do livro de Fuad viralizaram nas redes sociais ainda durante o
primeiro turno. Na ocasião, internautas se dividiam entre críticas às
expressões sexuais e certa surpresa com o repertório que contrasta com a imagem
que o prefeito tem passado aos eleitores.
Na propaganda da noite desta quarta-feira, o
prefeito responderá seu adversário sobre seu livro. Seus cinco minutos na
televisão começam com Fuad ao lado de sua esposa, Mônica Drummond, e outras
mulheres, afirmando que Engler tenta "manchar sua história".
— Nesses últimos dias, meu adversário vem tentando
manchar a minha história. Como não encontrou nada em 55 anos de vida pública,
ele resolveu me atacar usando um dos meus livros. Ele não entendeu que eu
estava descrevendo uma violência sofrida por uma personagem feminina como forma
de alerta, mas vamos deixar a ficção de lado e trazer para vida real — diz o
prefeito.
Em seguida, Fuad elenca ações para as mulheres que
implementou em sua gestão em Belo Horizonte:
— Para proteger as mulheres da violência. Eu criei
a Patrulha Maria da Penha, o passe livre no transporte público para as mulheres
vítimas de violência, a casa de acolhimento. Prometo que um dia vou escrever um
livro de não ficção contando tudo que fiz em defesa das mulheres.
Apesar da defesa na televisão, articuladores da
campanha do prefeito afirmam que o intuito é não dar atenção ao tema evocado
por Engler. A avaliação interna é de que o adversário estaria tentando criar um
"factoide" para atingir Fuad, que aparece em primeiro lugar nas
pesquisas de intenção de voto.
A estratégia do bolsonarista mira o eleitorado
feminino, onde encontra resistência. Segundo a última Quaest divulgada na
capital mineira, o prefeito tem 46% nesse segmento, contra 38% de Engler. Nesta
semana final de campanha, um dos focos das agendas de rua do candidato do PL
tem sido ampliar sua interlocução com as mulheres e jovens.
Acusação de pedofilia e guerra judicial: livro de Fuad Noman vira alvo de disputa na eleição de BH
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