* Arthur Lobato
O discurso livre, a fala e a escuta fazem parte do processo primário no atendimento a vítima de assédio moral. Acredita-se na veracidade do discurso e do sujeito que o enuncia. Mas, entre a transmissão e a recepção, existem falhas, hiatos, entendimentos equivocados. Tentando entender o significado das palavras, preenche-se lacunas do discurso; clareando-se os pontos cegos; tentando apreender o não dito, o oculto que é negado pelo discurso racional, mas, se manifesta via inconsciente nos atos falhos, na mudança brusca de humor, na negação de explicar situações confusas. Afinal, em todo ato de falar sempre escapa algo a ser dito, e é falado mais do que se queria dizer.
É justamente no ato falho, no não dito, no que escapa na fala ao controle racional, que pode se encontrar a negação do discurso - verdadeiro para quem fala, mas não representa a totalidade dos fatos acontecidos. Por isso, na escuta psicológica temos que entender como o ”outro” se posiciona, no discurso do sujeito.
A anamnese da saúde do trabalhador ajuda a pontuar o discurso. A conversa clínica privilegiada cria um vínculo entre o psicólogo e a vítima de assédio moral, pressuposto básico do possível sucesso do processo terapêutico.
Mais que denunciar, a vítima de assédio moral precisa ser escutada, necessita liberar afetos através de reações: choro, gritos, revolta. O vivenciado no passado volta com a mesma dor, a mesma raiva, a mesma tristeza, pois o afeto não simbolizado permanece vinculado à mente e ao organismo da pessoa que viveu o doloroso processo de assédio moral.
A procura de ajuda no sindicato através do Plantão de Combate ao Assédio Moral é um movimento desesperado de alguém que quer mais do que tudo o resgate de sua dignidade, de justiça, de ação, de não ouvir mais uma vez “você esta louca (o)". Por isso, a ética do profissional e o sigilo das informações repassadas são a pedra angular para que o atendimento às vítimas seja uma referência no combate ao assédio moral em prol da saúde do trabalhador.
*Arthur Lobato é psicólogo e trabalha no “Plantão de Combate ao Assédio Moral” no Sinjus, Serjusmig, Sitraemg.
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