quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Auditores debatem autoritarismo e assédio moral em palestra na DRF-BH


Os esclarecimentos, a prevenção e o combate à prática do assédio moral continuam sendo uma das prioridades da DS BH, tanto que as comemorações da semana do servidor público foram encerradas nessa quinta-feira, 30 de outubro, com a palestra “Autoritarismo e psicopatologia do poder: o adoecimento no trabalho”, proferida pelo psicólogo Arthur Lobato, e pelo professor doutor da Unicamp Roberto Heloani. O evento foi promovido pela Frente Mineira em Defesa do Serviço Público, no auditório da DRF BH.



A Auditora de tributos municipais, Cristina Ayer Taveira, iniciou as atividades dando as boas vindas aos participantes e destacando a importância de se discutir o assédio moral no âmbito do serviço público brasileiro.
O delegado da DRF-BH, Mário Dehon, agradeceu a presença de todos e mostrou-se honrado pela parceria com a Frente Mineira na realização do evento. Em seu breve pronunciamento, o novo delegado enfatizou: “Espero que tenhamos um novo tempo na Receita Federal do Brasil, um tempo de servidores de cabeça erguida, com olhar no horizonte e sempre pensando em conduzir o serviço público de uma forma melhor e mais leve. Que o autoritarismo e o assédio moral sejam palavras riscadas do nosso vocabulário”.
A Auditora Fiscal, Ilva Lauria, coordenadora da Frente Mineira, explicou os objetivos das entidades ao organizar o debate sobre o assédio moral, dentre eles conhecer as nuances que envolvem esse tipo de assédio, discutir mecanismos para sua prevenção e eliminar sua ocorrência no ambiente de trabalho.
Após a abertura, o psicólogo Arthur Lobato, que também é especialista em saúde do trabalho, iniciou sua intervenção classificando os servidores públicos como trabalhadores. Ele explicou o trabalho de conscientização e prevenção que vem realizando com o intuito de alertar servidores e entidades representativas sobre a necessidade de preservação da saúde do trabalhador.
Antes de entrar especificamente no tema assédio moral, Lobato propôs reflexões sobre o autoritarismo, que segundo ele, é uma das grandes causas do adoecimento dos trabalhadores e que deve ser combatido.
O autoritarismo vem a ser o abuso de autoridade, uma forma de opressão, um conjunto de práticas perversas somadas à manifestação excessiva de poder, que traz consigo o stress devido às cobranças excessivas pelo cumprimento de metas, características do mundo globalizado, que ocasionam a prática do assédio moral e, consequentemente, o adoecimento dos trabalhadores.
O assédio moral, segundo Lobato, é um mal invisível, uma conduta abusiva, intencional, frequente e repetida, que ocorre no ambiente de trabalho, e que visa diminuir, vexar, constranger, desqualificar e demolir psiquicamente um indivíduo, ou um grupo, degradando as condições de trabalho, atingindo sua dignidade e colocando em risco sua integridade pessoal e profissional.
Como normalmente existe relação de poder hierárquico entre assediador e assediado, o trabalhador quase sempre não tem como se defender e acaba convivendo com aquela prática criminosa. Aos poucos, o assediado inicia o processo de sofrimento no trabalho e uma série de consequências desastrosas, como a queda da produtividade, licenças médicas, o acúmulo de tarefas não realizadas, incapacidade laborativa, depressão, dentre outras.
Segundo Lobato, dados do INSS (Instituto Nacional de Seguro Social) apontam que em 2012 ocorreram 700 mil acidentes de trabalho e doenças ocupacionais. Cerca de 3 mil trabalhadores morrem por ano no Brasil, ficando o país em 4º lugar em números de acidentes de trabalho.
Ao final de sua apresentação, o psicólogo sugeriu às entidades representativas de servidores públicos que façam a inserção do assédio moral em sua pauta política.
O assédio moral continuou a ser debatido pelo professor Roberto Heloani, que abordou inicialmente o surgimento do neoliberalismo no Brasil na década de 1980, que teve por objetivo a implantação do estado mínimo e a predominância do modelo gerencialista, preocupado muito mais com estatísticas (quantidades) do que com qualidade. Esse modelo trata o servidor público como algo substituível, que é importante apenas enquanto estiver dando lucro, uma visão de estado como empresa.
Segundo o palestrante, o projeto neoliberal não acabou, mas está latente e trouxe aquilo que é da iniciativa privada para o serviço público, como os bancos privados, que são os que mais lucram, o comando está nas mãos do capital financeiro.
Tal modelo de gestão imposto, muitas vezes, visualiza as pessoas como coisas e não como seres humanos. As metas inatingíveis fazem com que o gestor reproduza a pressão por cumprimento que existe sobre ele, ai que entra o assédio moral.
O assédio moral não pode ser visto como uma questão individual, mas sim como reflexo de um sistema internacional imposto, uma prática de gestão. “O assédio moral é uma nova forma de se instituir o chicote, que substitui o capataz por metas absurdas e sistemas de autovigilância que desunem as pessoas”, ressaltou o professor.
Para o professor o assédio moral fere a dignidade da pessoa humana no momento em que impõe metas absurdas e impossíveis de serem cumpridas. Ele orientou os Auditores Fiscais a zelarem pelo público e não serem meros cumpridores de metas. “Não façam trabalhos simplesmente para contentar a chefia, mas façam os seus trabalhos complexos de primeira linha”.
Para concluir, Heloani destacou que o assédio moral que adoece o trabalhador físico e psicologicamente tem que ser visto na sociedade como uma excrecência, uma forma de gestão impossível de ser aturada. A boa administração é aquela que permite ao trabalhador trabalhar seriamente e com dignidade.
A liderança autoritária tende a desaparecer, porém ainda é cultivada, geralmente, por profissionais mais antigos e que foram educados a gerir equipes de maneira opressiva. A própria cultura das organizações com estruturas mais tradicionais e que ainda valorizam a pirâmide hierárquica estimula a atuação de gestores dessa natureza.
Há os que enxergam neste estilo de liderança uma possiblidade de resultado em curto prazo. Porém, com a ausência ou desrespeito de regras claras gerada pela lei do "manda quem pode, obedece quem tem juízo", os subordinados acabam se desgastando, perdendo a motivação e, com o passar do tempo, até boicotando, inconscientemente, o trabalho deste "líder" .

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