terça-feira, 10 de novembro de 2015

Por Arthur Lobato: O sofrimento no trabalho segundo Christophe Dejours


Postado em: 10/11/2015

Christophe Dejours, pesquisador francês e criador da “psicodinâmica do trabalho”, método que analisa a relação de prazer e sofrimento no trabalho, conclui que as contradições da relação entre capital e trabalho são os motivos que conduzem ao adoecer do trabalhador e ao sofrimento físico, psíquico e emocional. A dignidade humana, portanto, tem que ser o valor supremo no mundo do trabalho e para isso é necessário resistir e vencer as dificuldades do trabalho, mas nem todos conseguem, daí o adoecer, o sofrimento e o fracasso.
Dejours considera que as estratégias de defesa podem ser conscientes ou inconscientes, mas representam em ambos os casos uma recusa de sofrer, uma elaboração psíquica sobre o que faz sofrer aprofundando a contradição entre a realidade vivenciada pelo trabalhador e a organização do trabalho, já que neste “real do trabalho” a vivencia é de fracasso e sofrimento. Isto se manifesta no burn-out, que é o sofrimento de quem se envolve muito com o trabalho, ou na insônia e sonhos com o trabalho. Curiosamente o especialista afirma que “muitas vezes é preciso fracassar para se ter boas ideias”, ou seja, aprender com o erro, para poder resistir e vencer as dificuldades do trabalho, mas isso nem todos conseguem, daí o adoecer, o sofrimento, o fracasso.
“Trabalhar é sofrer resistências” e o trabalhador se engaja nos esforços, em toda sua subjetividade, e nos relacionamentos com os colegas, portanto, afirma Dejours, “falar ao colega é um modo de nos reapropriarmos de nossa inteligência”, pois somos seres relacionais, o outro constrói minha subjetividade, e tanto no amor como no trabalho a construção da identidade é através do reconhecimento. Entretanto, como evitar sofrimento do trabalhador e ao mesmo tempo manter as regras rígidas da organização do trabalho?
O trabalhador não é uma máquina, portanto, precisa interpretar as ordens e não apenas obedecer regras e normas. O perigo é a interpretação individual, que pode causar riscos à segurança, por isso deve haver este espaço para falar do trabalho e discutir as contradições entre a teoria e a prática. Só assim se chega a uma arbitragem sobre as deliberações e opiniões dos trabalhadores para adaptar a norma à experiência do trabalhador.
O SITRAEMG criou o Departamento de Saúde e Combate ao Assédio Moral, da qual participo como coordenador, visando combater todo tipo de violência laboral. Nos atendimentos individuais, percebemos claramente que muitos casos que levam ao adoecer do trabalhador estão no conflito mal resolvido, quando o superior hierárquico não aceita o diálogo e usa da hierarquia para práticas autoritárias, negando o saber do trabalhador, e muitas vezes o conhecimento/saber do servidor agiliza o processo produtivo, mas, pela recusa ao diálogo, este servidor é perseguido pois até hoje o autoritarismo é exercido como forma de domínio sobre os servidores, o que cria uma série de transtornos psíquicos e emocionais, sem que os tribunais percebam as consequências para a saúde do trabalhador.
O Departamento de Saúde e Combate ao Assédio Moral do SITRAEMG já está atendendo servidores e servidoras que queiram denunciar o assédio moral e outras violências no ambiente de trabalho. O agendamento pode ser feito pelo e-mail denuncia.assédio@sitraemg.org.br, ou pelo telefone 4501 1541.
Arthur Lobato é psicólogo/saúde do trabalhador

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