segunda-feira, 30 de abril de 2018

Diferenças sutis entre o estresse e o assédio moral


Arthur Lobato*
Marie-France Hirigoyen, uma das maiores especialistas sobre assédio moral, em sua palestra realizada no Brasil em 2011, ressaltou que tanto no estresse quanto no assédio moral há “ativação dos hormônios do estresse”, mas com os estressados o repouso é reparador. No caso do assédio, o organismo não reage como no estresse, o que leva ao esgotamento e à depressão, principal sintoma da vítima de assédio moral.
Com relação à especificidade que vai marcar a diferença entre assédio moral e estresse, Marie-France reforçou as marcas e as consequências da vergonha e humilhação vivenciadas pela vítima. Como os efeitos do assédio moral persistem com o tempo, a vítima que é escolhida como alvo sofre com a perda do sentido da realidade, questiona-se “por que estão fazendo isso?” e não encontra explicações. A vítima não entende o que está acontecendo; cria um quadro de dúvidas sobre sua capacidade de trabalho; introjeta o discurso do agressor e passa a se sentir culpada no lugar de vítima. Mas culpada de quê?
Nós, seres humanos, precisamos do sentido das coisas. Quando há explicações e diálogo, problemas e conflitos podem ser superados. As atuações agressivas, mecanismo de defesa da vítima de assédio moral, servem para corroborar a perversidade do assediador, que usa desses momentos de explosões emocionais da vítima de assédio moral para prejudicá-la ainda mais.
Marie-France reafirmou que todo assédio moral é um atentado à dignidade e à autoestima das pessoas, sendo que as injúrias e humilhações nunca são esquecidas. A vítima de assédio moral não entende o que aconteceu, nem sabe o que fazer e o trabalho perde o sentido, fatores esses que agravam o adoecer emocional e psíquico da vítima. Sem o sentido, que dá significado ao trabalho, a vítima busca soluções equivocadas, e como não há respostas, a vítima pode ser violenta com outra pessoa ou consigo mesmo, uma das razões do suicídio. Portanto, a vítima de assédio moral pode sofrer com depressão ou ansiedade excessiva, e até mesmo ideias suicidas.
O sofrimento psíquico da vítima
O sintoma é aquilo que emerge, que aparece, que denuncia o mal estar. As vítimas de assédio moral mantêm um sentimento de terem sido rejeitadas, maltratadas, desprezadas, humilhadas. Estudos demonstram que trabalhadores vítimas de assédio moral no trabalho vivenciaram “uma jornada de humilhações”, conforme atesta Margarida Barreto, em seu livro “Violência, Saúde e Trabalho (uma jornada de humilhações)”, versão original de sua dissertação de mestrado.
O assédio fragiliza emocionalmente e psiquicamente a vítima. Ser humilhado diariamente abala. Surgem sentimentos de culpa, baixa autoestima, pensamentos obsessivos - “sou incompetente” -, dúvidas sobre a própria capacidade laboral. O trabalhador, sob forte estresse, causado pelo doloroso processo de assédio moral, apresenta vários sintomas como: crises de angústia, choro, desânimo, cansaço, nervosismo, insônia, taquicardia, perturbações gastrointestinais, perda de libido. Aparentemente, esses sintomas não possuem relação com o assédio, mas eles podem ser efeitos das humilhações vividas no trabalho. Daí, a necessidade de se guardar os atestados médicos, exames clínicos, consultas a médicos, psicólogos e psiquiatras.
Muitas vezes, sem perceber, a vítima de assédio moral faz uso de medicamentos em excesso, bebe diariamente (alcoolismo), falta ao serviço sem justificativa (absenteísmo). O consumo indiscriminado de drogas lícitas e ilícitas vai aumentando, causando esgotamento físico e psíquico. No trabalho, apresenta queda de produtividade e qualidade do serviço. E o pior, não há respostas para as perguntas/esclarecimento de dúvidas – ambivalência do discurso do assediador. A falta de motivação e a inibição conduzem ao isolamento e a quadros depressivos. “Só de lembrar choro”. “Me revolto até hoje”. “Não posso nem passar perto da repartição”. “Na casa da justiça prevalece a injustiça”. “Não me conformo”. “Quero justiça, quero o resgate de minha dignidade”. 
O impacto traumático do assédio é tão grande que o assediado não gosta de lembrar do acontecido, tem vergonha do que passou e continua a se sentir culpado (sem saber de quê), por muito tempo. Por isso, é importante que os servidores estejam unidos na defesa de seu bem maior, que é a saúde. Adoecer no ambiente do trabalho ocorre, muitas vezes, porque as pessoas não são solidárias, não querem se envolver “em problemas dos outros”, não querem participar de um processo de luta, de transformação, de não aceitação da prática do assédio moral no trabalho.
É necessário que os sindicatos sejam representativos na luta por melhores condições de trabalho e isso só acontece com o envolvimento dos servidores nesse projeto político, que é a preservação da saúde e o combate ao assédio moral no ambiente de trabalho.
Procure o SERJUSMIG, caso você esteja vivenciando sofrimento no ambiente do trabalho, ou sofrendo assédio moral.
*Arthur Lobato é psicólogo, coordenador da Comissão de Combate ao Assédio Moral do Sindicato de Servidores da Justiça de Primeira Instância do Estado de Minas Gerais - Serjusmig. Ministra cursos de combate ao assédio moral. Colaborou na redação do projeto de Lei Complementar 116/2011 - Combate ao assédio moral na administração pública do Estado de Minas Gerais.  

Publicado em: http://site.serjusmig.org.br/noticia/2303/diferencas-sutis-entre-o-estresse-e-o-assedio-moral

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