Por Arthur Lobato, psicólogo, responsável técnico pelo Departamento de Saúde do Trabalhador e Combate ao Assédio Moral (DSTCAM) do SITRAEMG.
A partir deste, será iniciada uma série de artigos sobre os impactos das novas tecnologias sobre a saúde do trabalhador, com foco no serviço do Poder Judiciário Federal. Começarei esta série com a definição de dois conceitos que serão constantes nos próximos artigos: automação e IA (Inteligência Artificial).
Automação seria o uso de uma máquina para execução de serviços. O computador é um exemplo que segue os princípios da automação, ou seja, é necessário um ser humano para operá-lo. A máquina potencializa o serviço, agiliza o tempo, ou, a partir de uma série de comandos, executa o serviço de forma automática.
A automação já existe no mundo do trabalho há décadas, mas agora, com o avanço da banda larga da internet, que amplia a velocidade do processamento de dados, e com a nanotecnologia, que possibilitou a construção de pequenos aparelhos digitais como o smartphone (que contem texto, áudio, imagens, com conexão em rede para qualquer país), junto com o barateamento desta tecnologia via massificação industrial, ficou mais viável a todos possuírem uma máquina que lhes permite realizar trabalho ou atividade de lazer, além de se conectar com o mundo, com pessoas, pesquisas.
Entretanto, o processo de automação nas fábricas evoluiu para a robotização, ou seja, máquinas que executam tarefas pré-programadas. Ainda estamos falando de automação, pois esta máquina deve ser programada por um ser humano para executar as tarefas em setores como a indústria automobilística.
O PJE (Processo Judicial Eletrônico) é um exemplo da automação no serviço público. O processo deixa de ser físico, com suas dezenas e às vezes centenas de páginas, em um espaço físico, para se transformar em um processo digital arquivado em HDs, ou em “nuvens”.
Voltando ao PJE, pesquisas realizadas no Poder Judiciário Federal, demonstram uma série de novas doenças pelo uso excessivo do computador, como dores musculares, lesões por esforço repetitivo quando não há pausas para descanso, visão com ardência ou ressecamento dos olhos pelo uso excessivo do computador, e mesmo o chamado “espelhamento”, quando após muito tempo em frente ao computador o cérebro não consegue mais trabalhar com a informação na tela e o que vemos nela é nosso próprio reflexo.
O SITRAEMG participa do comitê gestor de saúde do TRT e TRE, criado pela resolução CNJ 207/2015, e editou, em 2017, uma cartilha com dicas para preservar a saúde no ambiente do trabalho, ressaltando a necessidade e a importância das pausas no uso do computador.
Outros problemas relatados pelos servidores ao DSTCAM são: a dificuldade dos servidores públicos mais velhos se adaptarem às novas tecnologias, que mudam radicalmente a maneira de se trabalhar; e os problemas operacionais do sistema de informatização dos tribunais, que será abordado em outros artigos.
Quando falamos de inteligência artificial, já um outro modelo, seria uma evolução da automação. No caso da IA, um programador cria um algoritmo a partir da demanda do cliente. Um algoritmo, segundo tese de doutorado do juiz Geraldo Magela Melo, “é nada mais que uma receita que mostra, passo a passo, os procedimentos necessários para a resolução de uma tarefa. Ele não responde à pergunta – o que fazer? -, mas, sim, como fazer? Em termos mais técnicos, um algoritmo é uma sequência lógica, finita e definida de instruções que devem ser seguidas para resolver um problema ou executar uma tarefa (PEREIRA, 2009)”. Este algoritmo, no entanto, têm inteligência própria e pode criar novos algoritmos para alcançar seus objetivos. O grande sucesso do facebook deve-se a algoritmos que atualizam dados sem que o usuário tenha que fazê-lo, como era o caso de outras redes sociais como o Orkut, por exemplo, que foi uma febre na internet e hoje não existe mais, pois toda tecnologia faz com que o que era novo rapidamente fique ultrapassado.
Um exemplo de inteligência artificial criada por algoritmos são as fakes news, em que os algoritmos de buscam, de forma lógica, detectam preferências, contidas no perfil de usuários de redes sociais para enviar mensagens tendenciosas. Citemos alguns exemplos do uso dessa estratégia nas últimas campanhas eleitorais: se o usuário for motorista de uber, por exemplo, os algoritmos enviam a mensagem dizendo que o candidato “x” regulamentou o uso do Uber; se for defensor de valores morais conservadores, o algoritmo das fake news envia mensagens afirmando que o candidato “y” obrigaria todos na escola a terem um “kit gay”, entre outras mentiras. Caso você queira saber mais sobre fake news e como eleições em diversos países foram manipuladas com algoritmos dotados de IA, veja o excelente vídeo sobre a Cambridge Analytics (https://vimeo.com/295813940).
Um exemplo positivo e revolucionário dos algoritmos de IA são os mecanismos de busca do Google através dos quais, em questão de segundos, os algoritmos pesquisam na internet os assuntos a partir de palavras-chave.
Se o PJE representa a automação, a IA já está presente em escritórios de advocacia para fazer petições mais simples. Nesse caso, bancos e empresas que têm computadores com IA separam ações trabalhistas, civis, penais e previdenciárias e enviam diretamente para os escritórios de advocacia de cada tema. O TST possui um computador com IA, chamado Viktor, que ordena jurisprudências.
O Tribunal Superior Eleitoral – TSE – conseguiu, através desta tecnologia, analisar dados de prestação de contas, doações de campanhas com cruzamento de dados da Receita Federal, identificando centenas de casos de possíveis fraudes.
Em tempo
Nos próximos artigos, abordaremos também a IA e seus impactos sobre a saúde do trabalhador. E não se esqueça: agora, uma máquina é seu concorrente ou parceiro na realização do serviço.
Publicado em: http://www.sitraemg.org.br/
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