Por: Arthur Lobato*
O trabalho é uma tarefa a ser executada. O êxito dessa tarefa, muitas vezes, depende da interação com outros trabalhadores. O trabalho, portanto, envolve também o relacionamento. Muitos conflitos que ocorrem no ambiente de trabalho são ocasionados por problemas de relacionamento. Se por um lado, com o passar do tempo, ficamos amigos de diversos colegas de trabalho, acontece o oposto também: existem colegas com os quais não nos relacionamos.
Em toda amizade há identificação e projeção. No entanto, quem não é nosso amigo não é necessariamente nosso inimigo, é “o outro”, o desconhecido, aquele que pensa e age diferente de nós. Amigos nós escolhemos; a convivência com eles nos dá prazer. Falamos, ouvimos, rimos e somos solidários com eles nos momentos difíceis. Estamos sempre perdoando as falhas de nossos amigos e pedindo sua compreensão em nossos erros.
No trabalho, não escolhemos nossos colegas. No serviço público, o concurso seleciona nossos colegas por sua capacidade intelectual e no dia a dia do trabalho temos que nos relacionar com eles e elas para a execução da tarefa. Razão e emoção entram em ação. Se nosso lado racional é aquele usado para executar as tarefas, nosso lado emocional é o que vai possibilitar um bom relacionamento com os outros colegas. É a “inteligência emocional”. Entretanto, existem em todos nós preconceitos, ou seja, conceitos pré-estabelecidos, construídos de forma “natural” pela família, pelo meio ambiente, pela sociedade e cultura na qual estamos inseridos. Assim, nos identificamos facilmente com quem possui padrões culturais e morais semelhantes ao nosso. Como se diz de forma popular: é a simpatia.
Mas, como lidar com o seu oposto – a antipatia, traduzida nesta simples frase “chegou um colega novo, não o conheço, mas não gostei do jeito dele”. Cria-se assim uma barreira contra o outro. Não queremos nos envolver, conhecer esta pessoa, e, esta antipatia, que é oriunda de um preconceito pode ser disseminada como um vírus causando um grande mal estar no ambiente de trabalho. É claro, que não é necessário ser amigo de todos os nossos colegas de trabalho. Mas, no exercício da tarefa temos que nos esforçar para sermos inteligentes emocionalmente, não deixando os pré-conceitos e as antipatias nos dominem.
O grupo de trabalhadores e as chefias devem ficar atentos para que pequenos problemas de relacionamentos, oriundos de preconceitos, não evoluam para práticas perversas como: isolar a pessoa do grupo, boicotar o trabalho do colega, humilhar, perseguir, reforçar o circuito de fofocas e zombarias, transformando um sujeito em objeto que deve ser descartado. Este tipo de atitude é muito mais que antipatia – é assédio moral.
Sabemos o quanto é difícil a convivência com o outro. Se com as pessoas que amamos, volta e meia, estamos em atrito, imagine então com quem não nos identificamos. O grande desafio, não só para o mundo do trabalho, mas para toda a humanidade, é saber conviver com as diferenças dos outros seres humanos, respeitar outras culturas e saber que nossa sociedade só vai ser melhor se exigirmos nossos direitos e cumprirmos nossos deveres. Acima de tudo respeitando o nosso próximo. Afinal, para ser respeitado é preciso saber respeitar.
O SERJUSMIG desenvolve um projeto de saúde do trabalhador e combate ao assédio moral. Procure o sindicato para apoio psicológico caso você estiver vivenciando sofrimento no ambiente de trabalho.
Arthur Lobato é psicólogo/saúde do trabalhador
Publicado em: http://site.serjusmig.org.br
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