Foi lançamento no dia 16 de Novembro, no Santa Adélia, na cidade de Tietê - SP o livro "O fim da intimidade de Márcio Santim.
O autor Marcio Santim em " O fim da Intimidade" analisa sob o ponto de vista psicológico e sociológico como as redes sociais têm exercido um tipo de função hipnótica nas pessoas, levando-as a manifestarem comportamentos compulsivos com relação à exposição e observação da intimidade.
" A aceleração na transmissão de informações propiciada pelo alto desenvolvimento tecnológico pode ser considerada como um dos fatores determinantes de uma epidemia jamais vista…"
Em um de meus encontros com Márcio
Santim, quando do lançamento de seu livro “Psicologia e gestão de
conflitos e pessoas no Poder Judiciário”, estávamos em Belo
Horizonte, na saudosa e extinta livraria Van Damme, quando comprei o
livro de Hegel, a Fenomenologia do Espírito, ou seja, os caminhos da
evolução do espírito. Já tinha lido sua dissertação de mestrado
e agora com muito prazer fui convidado para escrever sobre seu novo
trabalho, que não deixa de ser uma fenomenologia do corpo e do olhar
do outro e de si próprio para o corpo, o objeto de estudos deste
pesquisador, servidor do judiciário, psicólogo e um homem de bem,
do qual tenho o privilégio de sua amizade.
Para fundamentar sua tese Santim se respalda em George Orwell 1984, sempre lançando o duplo especular descrito por Freud, o voyer — o que observa em segredo —, e o escopofílico — aquele que exibe partes do corpo, geralmente sexuais. Segundo Orwell em 1984, somos observados e controlados, observadores e controladores. Neste duplo especular “Big Brother” se mistura à teoria da informação e a problemas psicológicos. Afinal, se Marx falava do fetiche da mercadoria, ou seja, aquilo que não existe na mercadoria mas sim no meu desejo projetado na mercadoria, o corpo, em nossa sociedade do século XXI, se tornou o objeto máximo de prazer e desejo, corpo este que não é mais um sujeito, mas um objeto onde o sujeito projeta e aplica suas pulsões que vão do olhar ao toque, e à penetração sexual. Mas o corpo, como a droga se transforma em um objeto de prazer efêmero, sempre precisando da novidade de outros corpos e neste movimento ficam as sobras, a sensação de ter sido usado(a) nos prazeres efêmeros e narcísicos que caracterizam nossa cultura individualista. Santim contextualiza este olhar para o corpo abordando a relação do corpo visto e exposto nas redes sociais, analisa estas relações interpessoais, frias distantes, virtuais, e portanto, irreais, uma ilusão.
Voyerismo e exibicionismo, eis as características do mundo virtual, sem os freios morais de antigamente. Hoje, todos querem ser celebridades a qualquer custo, e brinco, dizendo que a ex miss bumbum tem em sua casa um provérbio: deus deu a vida em abundância. Santim analisa os sites, os reality shows, o voyerismo como pulsão sexual sublimada no olhar que tudo vê e não é visto, a não ser que queira. O nu foi apropriado pela indústria cultural em suas varias categorias, selfies, “nudes”, erótico, pornográfico. Eis as visões do corpo virtual, corpo que causa desejo e prazer narcísico sem o risco de se afogar no lago, como no mito original, mas com o perigo de este corpo se perder no tempo e no cyberespaço, em arquivos que depois podem ser usados contra aquele que se expôs de corpo, texto e vídeo nas redes sociais. Perdeu-se o muro entre o público e o privado e, se nosso corpo nu é nossa mais íntima imagem, esta imagem privada particular tem de ser publicada para que se possa ser alguém, alguém visto, desejado, sem perceber que participa de um jogo onde seu desejo de ser visto encontram olhares nem tão inocentes assim.
Assim, a exposição do corpo pode ser um desvio da pulsão sexual para o olhar narcísico de si próprio e para o olhar de desejo de quem esta vendo, e assim a pulsão do olhar é um canal de satisfação dos desejos psíquicos conscientes e inconscientes. No entanto todo desejo nunca se realiza, daí a busca por outros objetos de desejo, o que gera a eterna insatisfação neste entrelaçamento entre a pulsão do olhar e de se exibir com a transformação do corpo em mercadoria em exposição nas redes sociais que leva a um desejo e a uma eterna insatisfação, pois sempre haverá outro corpo mais belo e mais desejado. Nosso grande mestre, Sigmund Freud, analisa no artigo “As pulsões e suas "vicissitudes" , a pulsão construindo (via desvios quanto ao objeto ou quanto ao objetivo) seu caminho da satisfação do desejo que não é mais libidinal, mas sublimado ou desviado, neste caso do texto de Santim, para a mercadoria, objeto para consumo, seduzido pelos fetiches de nossa sociedade de consumo neoliberal do início do século XXI.
Quando Santini contextualiza a pulsão do olhar, que tem de ser direcionada a alguém, emerge a relação eu/objeto — mesmo que o sujeito neste caso seja um objeto —, por isso não existe um voyer sem seu objeto de desejo fantasmático ou como prefiro dizer – desejo/fantasia/real —, pois existe, mas é imaginário, não posso me relacionar com este objeto de desejo (o outro, a mulher, o homem, transformados em objetos com seu fetiche de valor narcísico em nossa sociedade de consumo, são alguns dos objetos do desejo). Dizem que o olhar excita mais o homem que a mulher. Será? Bom, vamos ler o livro e que cada um tire suas conclusões.
Arthur
Lobato ;
psicólogo ; coordenador da Comissão de Combate ao Assédio
Moral de Sindicatos de Servidores da Justiça de Minas Gerais,
SERJUSMIG ; coordenador do Departamento Saúde e Combate ao
Assédio Moral do SITRAEMG. Ministra cursos de combate ao assédio
moral. Colaborou na redação do projeto da Lei Complementar 116/2011
– combate ao assédio moral no serviço público do Estado de
Minas Gerais.
Livro disponível e pelo link:
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