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Psicóloga Mariana Cristina, militante do MNLA |
A psicóloga também apresentou dados
estarrecedores sobre a saúde mental do trabalhador: 30% da população
mundial sofre de transtornos mentais leves e de 5% a 10% transtornos
mentais graves (dados OMS); e os transtornos mentais são a terceira
causa de longos afastamentos do trabalho – R$ 200 milhões em pagamentos
de benefícios anuais. Dados da própria Previdência brasileira revelam
que as doenças mentais nos afastamentos associados ao trabalho
aumentaram de 4% para quase 5% das licenças nos últimos três anos. E,
enquanto o adoecimento leva ao aumento das aposentadorias por invalidez,
o governo promove cortes e mais cortes na Previdência. Só no início
deste ano, assumiu o compromisso de revisar 500 mil auxílios-doença e
700 mil aposentadorias por invalidez.
Falando
sobre o conceito saúde-doença, a palestrante detalhou que, na segunda
metade do século XIX, a medicina era desenvolvida dentro de um sentido
biologicista: o corpo separado da subjetividade. A busca da cura era
forçar o sujeito a identificar-se com a doença. A medicina cumpria o
papel de adaptação do homem à manipulação – controle social – ao qual a
ciência médica fornece seus remédios. Assim, pessoas que incomodavam a
sociedade, muitas vezes eram internadas como loucas. Com base no
princípio epistemológico do isolamento (isolar para conhecer o
paciente), os manicômios se multiplicaram no Brasil, no século XX, e
foram se transformando em verdadeiros “campos de concentração”. Era como
se fosse uma política de “higienização social”, com violação brutal de
direitos humanos. Somente na Colônia de Barbacena, morreram 60 mil
pessoas no século XX, sendo que, em dias de muito frio e superlotação,
chegaram a morrer 16 pessoas por dia. Após 1964, na ditadura militar, os
militares incentivavam a participação do capital privado em todos os
setores e na saúde não foi diferente. Era ótima fonte de lucro, pois não
precisavam de grandes aparelhos médicos nem sofriam controle por parte
da sociedade e do Estado. O retorno do regime democrático, a partir de
1985, e a Constituição de 1988 trouxeram mudanças no sistema e, em 2001,
foi aprovada a lei federal 10.216/2001, que determinou a extinção dos
manicômios.
Mas engana-se quem acredita que a
indústria da loucura no País acabou. Conforme explicações da psicóloga
Mariana Cristina, os manicômios deram lugar às Comunidades Terapêuticas,
que atuam não com serviços de saúde, mas de doutrina. Só para se ter
uma ideia do montante de recursos destinados a essas CTs, em 2011 foram
destinados a elas R$ 34 milhões, ou cerca de R$ 800 reais por usuário.
“Trata-se de uma opção do governo federal para compra de apoio político
de setores conservadores em bancadas religiosas sob um discurso de
defesa de direitos”, analisa a psicóloga, destacando alguns políticos
que lucram com essas comunidades terapêuticas: deputados federais Marco
Feliciano (PSC-SP) e Carimbão (PROS-AL ) e a senadora Gleisi Hoffmann
(PT/PR). Além disso, tem a indústria farmacêutica, que patrocina
encontros para médicos, como forma de propaganda e fidelização dos
clientes – constante crescimento. E a indústria da loucura, denunciou a
palestrante, retira recursos do SUS, que são transferidos para as CTs.
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A palestrante recebe da coordenadora Vilma Lourenço uma lembrança da diretoria do SITRAEMG |
No
espaço para o debate, o psicólogo Arthur Lobato observou que o conceito
de loucura e normalidade não tem consenso ao longo da história. Se antes
eram todos excluídos, hoje é o que enlouquece pelo trabalho que vai
cair nos novos manicômios. “Temos que ficar em alerta a esse movimento
neoliberal”, advertiu. Célio Izidoro deixou a seguinte indagação: “a
exclusão por ser pobre, por ser negro, por ser questionador – será que
precisamos exterminar o povo?”. Outro servidor lamentou que, nos
tribunais as avaliações de saúde levam em conta somente o aspecto
físico, deixando de lado a situação psicológica e psiquiátrica do
servidor, como se este fosse somente um ser “físico”.
Publicado em: http://www.sitraemg.org.br
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