Após a peça, se instalou a mesa de
abertura composta pelo psicologo responsável pelo DSTCAM, Arthur Lobato,
os coordenadores do departamento Vilma Lourenço e Célio Izidoro e o
coordenador geral do SITRAEMG, Alexandre Magnus.
Lobato,
iniciou sua fala saudando todos os presentes e explicando o
funcionamento do Departamento, que tem como objetivo o empoderamento dos
servidores. “Segundo o psicologo, o DSTCAM não tem respostas prontas,
pois seu trabalho é construí-las diretamente com os servidores que
denunciam os casos de assédio”. Em menos de 1 ano, o departamento esteve
presente em todos os encontros regionais, e realizou atendimentos
presenciais, por e-mail, por telefone. Além de participar com cadeira
cativa nos comitês gestores do TRT, do TRE, e com um intervenção na
Justiça Federal, que por ser sessão judiciária do estado, não tem comitê
gestor instalado. Lobato afirmou que é necessário “superar os limites
dos Tribunais e pra isso a saúde do trabalhador é uma pauta política do
Sindicato”, e concluiu com uma frase que se tornou uma verdadeira
palavra de ordem do mundo do trabalho: “Queremos ter o direito de
trabalhar sem adoecer”.
O Coordenador Alexandre Magnus coordenador
geral do SITRAEMG explicou que o departamento de saúde foi inaugurado
em 2015, após o Congresso do SITRAEMG em Juiz de Fora, e que desde então
tem se tornado uma das principais bandeiras do Sindicato. “Temos que
superar o sindicalismo pauta única, que luta apenas por salário, e olhar
para o bem estar de nossos filiados”, disse. Citando a tramitação do PL
5698/16, de autoria intelectual do SITRAEMG, que visa transformar a
prática do assédio moral em improbidade administrativa, o coordenador
afirmou que a luta contra o assédio moral vai além do departamento.
Assumindo
o microfone, a coordenadora Vilma Lourenço agradeceu a presença de
todos no seminário, afirmando que “a sua realização é um importante
passo, mas que esse debate não pode ficar só na teoria”. Segundo a
sindicalista, o SITRAEMG tem que ser um espaço que pode acolher o
servidor para que ele seja um lugar de segurança e proteção.
Fechando
a mesa, o coordenador Célio Izidoro. Célio falou que o capitalismo tem
desumanizado as pessoas, e por isso a luta sindical também tem que
passar pela luta pela humanização do trabalho. Para ele, o assédio tem
origens anteriores ao mundo do trabalho, mas se intensifica com ele,
citou o seu exemplo como trabalhador negro, que o coloca em uma situação
de desigualdade, pois o racismo é uma das faces em que se demonstra o
assédio moral.
Após o fechamento da mesa de saudação, a primeira palestra foi proferida
pelo Professor Doutor da Unicamp, Roberto Heloani, em que foi explorado
o tema da mercantilização da sociedade como um dos fundamentos
principais do uso do assédio moral como uma prática de gestão. Por toda
sua explicação, Heloani usou de casos concretos utilizados na iniciativa
privada que reforçam a lógica do assédio moral na gestão empresarial. Já
no inicio de sua palestra ele apresentou um vídeo de 2 minutos, em que
um jogador de futebol americano cuida da produtividade de uma empresa
batendo e aterrorizando os seus funcionários. Após a apresentação, o
professor explicou que o vídeo foi usado no treinamento de novos
funcionários da Reebook. O que reforça a ideologia do vale-tudo pela
produtividade. Também foi citado casos da Oi, Ambev, Itaú e Carrefour,
que respondem processos coletivos por assédio moral.
![]() |
Cartaz de recrutamento do Itaú: o vale tudo da produtividade |
Nesse modelo, o assédio passa a ser uma ferramenta necessária para
garantir o crescimento da produção. A quarta maior empresa do Brasil é
campeã em assédio moral. Além disso, ela coleciona condenações, mas
apesar das multas, a prática continua, pois o modelo é lucrativo. As
multas passam a ser parte do custo de produção, o bem estar do
trabalhador não.
![]() |
Mandamentos da telefonia/ Condenação trabalhista à Oi |
O professor explicou que essa lógica tem sido transferida para o serviço
público, desde o tratado de Washington, através de nomes do
neo-liberalismo internacional como Ronald Reagan, Margaret Thatcher e
outros lideres de conglomerados internacionais da década de 80, que
pregavam o “desinchamento” do estado e sua “adequação” aos termos da
iniciativa privada. Para o Heloani, a intenção desses líderes é a de
acabar com a lógica do “estado que garante direitos”, e instituir a
lógica do “estado que garante o fluxo de capital”. Pois “um bom serviço
público, que garanta direitos sociais atrapalha o mercado”. O professor
também citou as ferramentas midiáticas utilizadas para garantir essa
ideologia, como a imagem do “servidor marajá”; a utilização de
informações mentirosas para justificar o congelamento de salários; o
“risco Brasil”, que afirma que o estado Brasileiro é inchado e
burocratizado, mesmo apresentando um número de servidores por habitante
muito menor do que a maioria dos países europeus.
![]() |
Número de servidores por mil habitantes desmistifica a teoria de que o Brasil é um país inchado |
Para essa gestão, não interessam as
pessoas, mas sim o resultado. O processo não precisa ser levado em
consideração. O que implode o processo coletivo do trabalho. “Pois a
busca pela sobrevivência faz com que o ‘puxão no tapete’, ou ‘pisar em
cima’ do colega, se torne prática aceitável”, afirmou. Heloani afirmou
que essa lógica no serviço pública ainda está em implementação, e
conclamou os servidores presentes a se rebelarem contra ela “A gente não
pode permitir que o assédio se torne um instrumento para a privatização
da vida”, concluiu.
Com o fim da
palestra Arthur Lobato, finalizou as atividades do dia agradecendo a
contribuição do professor Roberto Heloani, e reafirmando que o apoio da
comunidade científica é fundamental para o combate ao assédio moral,
porque “autoridades só aceitam argumentos de outras autoridades”. Os
debates continuam hoje com mais cinco palestras de temas ligados ao
Assédio Moral e a saúde do trabalhador. O seminário vai até às 20h. Os
presentes receberão certificado desenvolvido pelo SITRAEMG.
Nenhum comentário:
Postar um comentário