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Arthur Lobato, coordenador técnico do DSTCAM do SITRAEMG |
Ele iniciou sua fala lembrando que existe
um gargalo de 90 milhões de processos parados na primeira instância da
Justiça, mas que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), com sua
preocupação única de economizar gastos e manter a saúde financeira do
Poder Judiciário, em vez de atacar o problema promovendo mudanças
estruturais nas instituições, opta por “chicotear” os servidores,
impondo-lhes metas e mais metas em busca de uma impossível solução.
Seguindo um modelo de gestão vertical, o CNJ faz pressão sobre os
desembargadores, estes sobre os juízes, que pressionam os gestores
chefes e a carga sobre toda para os servidores, que, submetidos a
métodos desumanos para ampliar a produtividade, acabam se expondo aos
riscos de adoecimento. Referindo-se a obras literárias pertinentes e
exibindo ilustrações que mostram o estado de desespero de uma pessoa
diante do computador e de uma carga de trabalho impossível de se
aliviar, mesmo depois de tantas horas extras e trabalho levado para
casa, Lobato lembrou que é isso que acontece com hoje com o servidor
público, com alguns chegando ao enlouquecimento.
O
palestrante informou que o próprio CNJ, dentro do objetivo de amenizar
essa exposição dos servidores ao adoecimento, editou a Resolução 207,
determinando que os tribunais adotem modelos de gestão nesse sentido. Só
que, até agora, apenas os TRTs de Minas e do Rio Grande do Sul acataram
tal determinação. Enquanto persistem esses modelos escravizantes,
amplia-se nos tribunais não só o quadro de adoecimento, mas também o
número de casos de assédio moral.
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Lobato,
ao lado da coordenadora Vilma Oliveira Lourenço, recebendo da filiada
Lúcia Bernardes uma lembrança da diretoria do SITRAEMG
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A humilhação do assédio moral
“Assédio
moral é uma conduta abusiva intencional, frequente e repetida, que
ocorre no ambiente de trabalho, e que visa diminuir, vexar, constranger,
desqualificar e demolir psiquicamente um indivíduo, ou um grupo,
degradando as condições de trabalho, atingindo sua dignidade, e
colocando em risco sua integridade pessoal e profissional”, definiu o
palestrante, ressaltando que, para tentar mudar essa realidade, o
SITRAEMG decidiu criar o DSTCAM, para mediar os casos denunciados, em
busca de solução, para defender o servidor.
Mais
uma vez recorrendo a ilustrações, o psicólogo mostrou situações de
assédio moral, lembrando que pode ocorrer tanto de forma vertical (das
chefias sobre subordinados) quanto horizontal (entre os próprios colegas
de trabalho). O assédio pode começar com uma palavra, um gesto, e
sempre tem alguém interessado em se beneficiar com a desgraça do
assediado. No desenrolar do processo, os demais servidores do grupo vão
sendo erroneamente convencidos de que as reclamações são infundadas e o
assediado vai ficando cada vez mais isolado, até sucumbir, se não reagir
a tempo. Em muitos casos, quando o servidor, depois de várias vez
afastado por algum motivo de doença, sofre também a humilhação no
retorno ao trabalho, com os colegas o culpando por lhes ter aumentado a
carga de trabalho com sua ausência. Aí, voltam os mesmo s problemas,
afirmou o palestrante, opinando que, nesses casos, o ideal é o servidor
ser transferido para outro setor.
Arthur
Lobato também citou algumas situações que evidenciam a relação assédio
moral/modelo de gestão: pressão para produzir (ameaças); relações
interpessoais mais tensas; competitividade; falta de solidariedade com o
adoecido devido à sobrecarga com redução do quadro de servidores;
assédio através de insultos, violência moral, pressão, humilhação,
fofocas, ironia, exclusão do adoecido. Mostrou também situações
evidentes na relação assédio moral/modelo de gestão/organização do
trabalho: carga excessiva de trabalho, aceleração do ritmo de trabalho,
uso de medicamentos psicoativos, introjetar o dogma de ser cada vez mais
produtivo, PJe e seus impactos sobre a saúde do servidor, autoritarismo
das chefias, negação do diálogo e da autogestão.
Como
tem feito repetidamente em suas palestras para os servidores do
Judiciário Federal em Minas, o psicólogo Arthur Lobato informa que o
DSTCAM do SITRAEMG vem procurando se aproximar dos setores de saúde dos
tribunais, visando dialogar no sentido da detecção dos problemas de
saúde existentes, para busca das soluções não só com a recuperação do
servidor, mas também com mudança de gestão de forma a prevenir o
adoecimento. Quanto aos casos de assédio moral denunciados, o DSTCAM
procura ouvir o servidor. Sendo apontado o problema, procura dialogar
com o setor em que ele trabalha, para trabalhar uma solução. Quando
constatado que o assédio foi praticado pela chefia, procura convencer o
gestor de que o servidor trabalhando satisfeito ganham todos – chefes e
colaboradores.
No espaço para debate,
uma servidora manifestou sua preocupação quanto à possibilidade de o
DSTCAM vir a ser desativado por diretorias futuras do Sindicato. Mas o
coordenador geral Alexandre Magnus interveio e propôs a votação e
aprovação de uma carta de intenções que exija das futuras diretorias
manterem ativo o setor. A carta, que foi apresentada por Magnus, foi
aprovada ao final. Houve também servidores que lamentaram a falta de
interesse dos servidores, dizendo que eles deveriam lotar o espaço para
se informarem sobre pautas tão interessantes quanto as que foram
debatidas. E os que estiveram presentes foram aplaudidos por todos.
“O
que queremos com esse debate é jogar conhecimento, esclarecimento. Essa
é a função do ser humano, tentar entender melhor quem nos somos. O
sofrimento só sabe medir quem passa por ele. A gente não pode viver só
em função de trabalho. Esse momento aqui é um momento de refletir e a
gente tentar mudar. A vida é assim: pequenos passos, grande jornada”,
concluiu Lobato.
Publicado em: http://www.sitraemg.org.br
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