Por Arthur Lobato Psicólogo da Saúde do Trabalhador, responsável Departamento de Saúde do Trabalhador e Combate ao Assédio Moral do SITRAEMG, e Membro Comitê Gestor de Saúde TRT e TRE
Setembro é o mês de uma campanha pouco divulgada, o setembro amarelo, que trata da prevenção ao suicídio. Esta campanha idealizada pelo CVV, Centro de Valorização da Vida, enfrenta resistências tanto pessoais quanto institucionais, pois o suicídio é um tema tabu, o que causa dificuldades em entender as motivações e outros fatores para uma campanha de prevenção com o objetivo de evitar este ato de renegar a própria vida, muitas vezes para por fim a um sofrimento, a uma angustia insuportável, ato que gera dor e sofrimento aos parentes, pessoas queridas e colegas de trabalho que não puderam ajudar ou impedir este ato radical: o auto extermínio.
Segundo os dados do CVV são 32 brasileiros mortos por dia, taxa superior às vítimas da AIDS e da maioria dos tipos de câncer.
“Foi necessário o esforço coletivo, liderado por pessoas corajosas e organizações engajadas, para quebrar esses tabus, falando sobre o assunto, esclarecendo, conscientizando e estimulando a prevenção para reverter esse cenário.”
Iniciado no Brasil pelo CVV (Centro de Valorização da Vida), CFM (Conselho Federal de Medicina)e ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), oSetembro Amarelo realizou as primeiras atividades em 2014 concentradas em Brasília. Em 2015 já conseguiu uma maior exposição com ações em todas as regiões do país. Mundialmente, o IASP – Associação Internacional para Prevenção do Suicídio estimula a divulgação da causa, vinculado ao dia no qual se comemora o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. Em Belo Horizonte, no dia 10 de setembro de 2017, houve uma caminhada na Praça da Liberdade reforçando a importância de discutir o tema.
O editor-chefe do Diário Gaúcho, Carlos Etchichury, lembrou que mil pessoas morrem no estado todos os anos por suicídio. Para ele, entre abordar mal o assunto e o silêncio, é preferível o segundo caminho, pois o tema exige responsabilidade e respeito. “O limite é sempre esse. Falar com respeito, evitar expor as pessoas, a família”, destacou.
Suicídio e sua relação com o trabalho: extratos do livro “Do Assédio Moral, a morte em Si – Significados sociais do suicídio no trabalho:
“A relação entre suicídio e trabalho, é um dos relevantes temas da atualidade, apesar de pouco discutido e reconhecido entre diferentes esferas do saber e das praticas sociais.”
Por isso, analisar a morte em si e seu nexo com o trabalho, entre outros fenômenos relacionados às agruras vividas pelos trabalhadores, significa aprender importantes aspectos das múltiplas determinações relacionadas às motivações do suicídio. Busca-se assim superar a visão de que essa forma de morrer é consequência imediata de transtornos mentais, da baixa resiliência ou de visões moralistas e cheias de julgamentos de valor. A forma de inserção do trabalhador no mundo do trabalho e das relações de sujeição que se estabelecem, explicitam as próprias formas de organização e apropriação do trabalho e que se caracterizam por um lado, com os novos modos de produção dos meios de vida nas mãos de poucos e por outro lado, na degradação da existência da classe trabalhadora.
Desse modo, a relação entre suicídio e trabalho é um processo sócio histórico cuja gênese esta assentada nas causas econômicas e políticas, manifestando se no experenciado enquanto necessidade do eu, submetido aos sofrimentos e às dores físicas e subjetivas. Portanto, o suicídio é uma denúncia do vivido e da violência sofrida.”
Segundo a doutora Margarida Barreto e Selma Venco, o trabalho enquanto atividade humana dá sentido à vida, fortalecendo a identidade e dignidade do trabalhador, conquanto que haja liberdade, respeito ao outro, justiça, respostas solidárias entre e no coletivo de trabalhadores. Caso contrário pode se tornar causa de dor, sofrimento imposto, doenças, acidentes e morte por suicídio.
Sem o sentido que dá significado ao trabalho, a vítima busca soluções equivocadas e como não há respostas, a vítima pode ser violenta com outra pessoa ou consigo mesmo, uma das razões do suicídio. É o auge de um processo, introjetado, extremamente violento contra o sujeito, o cidadão, o trabalhador, que não pode mais “suportar o insuportável”.
O professor doutor Roberto Heloani afirma: “Inúmeros são os fatores que contribuem para o aumento e tentativas de suicídios, assim como a esquizofrenia, o alcoolismo, a dependência de drogas o transtorno de personalidade, que de forma implícita ou explicita relacionam-se com a depressão, a qual parece exercer um papel central no problema. Os sentimentos de culpa e desespero que acometem o depressivo podem leva-lo a crer que de fato merece morrer ou então que é preferível morrer a ter que viver como vive. É consideravelmente difícil estabelecer a relação precisa entre depressão e suicídio, porém num estudo envolvendo 134 suicídios foi constatado que 94% dessas pessoas tinham estado sob tratamento psiquiátrico antes do ato suicida e que 45% encontravam-se deprimidos (Mendels, 1972).”
“O que é desprezado, ou melhor, omitido de forma sistemática e curiosa pelos estudiosos do tema do suicídio, é a forte relação entre este fenômeno e aquilo que na sociedade moderna é fator estruturante de nossa identidade pessoal e profissional, ou seja, o trabalho.”
Explicando melhor: relacionarmos o suicídio à depressão é correto e tal assertiva é escoltada por robusta empiria. É inegável. Parece-nos estranho, é que o trabalho – gerador de tanto sofrimento, angústia e depressão – não seja mencionado, na maior parte das pesquisas, dos estudos, congressos e simpósios e seminários que tratam do suicídio.”
O pesquisador Christopher Dejours afirma que os suicídios no trabalho seriam associados às transformações da organização do trabalho, que conduzem a uma degradação do “viver juntos” nas organizações, em particular a individualização da avaliação de desempenho e a falta de reconhecimento (Dejours 2009).
*O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, email, chat e voip 24 horas todos os dias. Basta entrar em contato pelo número 141, ou pelo site www.cvv.org.br
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