segunda-feira, 6 de maio de 2019

Professor da Unb detalha pesquisa sobre saúde do servidor do Poder Judiciário

Fenajufe, que patrocinou o trabalho juntamente com a Fenajud, encaminhará o documento ao CNJ e tribunais superiores.

A saúde do trabalhador do Poder Judiciário foi o tema em debate na primeira atividade da manhã desta terça-feira (30/04) do 10º Congrejufe (Congresso Nacional da Fenajufe), que se realiza de sexta-feira (27/04) a 1º de maio, no Hotel Monte Real Resort, em Águas de Lindóia (SP). Mais especificamente, houve a apresentação da Pesquisa Nacional de Saúde: Sofrimento e Adoecimento no Trabalho do Judiciário e MPU, realizada pela Fenajufe e Fenajud, em parceria com a Universidade de Brasília (UnB), com o apoio das entidades sindicais das bases das duas federações. A exposição foi feita pelo professor da UnB Emílio Peres Facas, que cuidou da coordenação acadêmica do estudo. Também integrou a mesa a coordenadora da Fenajufe Mara Weber, uma das principais envolvidas e entusiasmadas pela realização desse trabalho.
O docente da UnB afirmou que o objetivo com a realização da pesquisa foi conhecer a realidade nos locais de trabalho de cada tribunal, discuti-la com os servidores, levantar os casos de adoecimento e, a partir desses dados, oferecer propostas de intervenções a serem feitas com vistas a encontrar as soluções necessárias. A receptividade dos pesquisados à iniciativa, garantiu, foi bastante satisfatória. Em um primeiro momento, foi feito um mapeamento das situações que oferecem mais riscos no dia a dia de trabalho aos servidores. Dentre as muitas queixas de desconfortos apresentadas, destacam-se a jornada excessiva e a operacionalização dos processos eletrônicos.
No quesito ambiente de trabalho, foram detectados vários níveis de insatisfação, dentre os quais o número insuficiente de servidores, estabelecimento de prazos incompatíveis com a realidade dos tribunais e de metas inatingíveis, além da sobrecarga de trabalho. Outro grande motivo de queixas foi o modelo de gestão adotado: individualista, dentro da lógica de mercado, na tentativa equivocada de adequar o modelo das empresas ao serviço público. Foram também relatados a insatisfação diante da sensação de cansaço e a falta de valorização e de reconhecimento pelo trabalho realizado. “Trabalho não se limita a números, a índices. E nunca um trabalho de uma máquina vai ser igual ao trabalho do exercício humano”, salienta o palestrante.
Foram também apresentadas muitas críticas. Algumas delas: más condições de trabalho, precariedade do funcionamento do PJe, teletrabalho – alguns destacando pontos positivos, mas a maioria elencando problemas como carga maior de trabalho e menos contato com os colegas – e o assédio moral. “A violência alcança o chão na esfera de poder. E o pior é que as pessoas desconhecem o tema assédio moral. O grande desafio do assédio moral é acabar com esse fenômeno. É um trabalho de base que passa por discutir o tema, escutando os trabalhadores”, observa o professor Emílio Peres.
Com uma conclusão de que a pesquisa mostra uma tentativa de resistência da classe trabalhadora a todos esses problemas que contribuem para o adoecimento, mas que tende a diminuir diante de tantas políticas de governo voltadas para a redução dos investimentos no serviço público, o que os resultados da pesquisa indicam para fazer é, além do desenvolvimento de uma trabalho conectado com as cúpulas dos tribunais, incentivar os servidores a resgatarem a cooperação entre eles, fortalecendo as relações humanas, com a participação efetiva dos sindicatos, utilizar o resultado da pesquisa como instrumento político e resgatar também a esperança. “Só resgatamos a esperança, a dignidade, como seres humanos, pois, é na medida que a gente convive com as outras pessoas que a gente caminha junto para resolver as coisas mais difíceis’, acentuou.

O debate

Terminada a exposição do professor da UnB, uma gama de servidores do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul se apresentou para as perguntas. Um servidor gaúcho reclamou que, lamentavelmente, muitas vezes o assédio moral é praticado pelos próprios colegas. Outra colega, do Rio de Janeiro, que diz ter se tornado militante contra essa prática depois de descobrir que era assediada, relatou que, em seu estado, uma assistente social do tribunal é perseguida por buscar soluções para casos de assédio. E lamentou que isso acontece em razão da subserviência de servidores que muitas vezes permeia os locais de trabalho.
Outro servidor do Rio Grande do Sul reivindicou mais espaço nos próximos eventos da Fenajufe para que as entidades que tenham realizado pesquisas de adoecimento no trabalho as divulguem e, assim, os colegas de outros estados possam conhece-las e se prepararem melhor para o embate em seus respectivos tribunais, principalmente para os casos de assédio moral. Uma servidora do estado de São Paulo sugeriu que a Fenajufe leve o resultado da pesquisa às direções dos tribunais, “porque o problema de saúde é também das próprias instituições”. Foi informa pela coordenadora Mara Weber que o documento será encaminhado, inclusive, ao Conselho Nacional de Justiça e tribunais superiores.

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