quinta-feira, 30 de maio de 2019

Sobre o medo da morte

Por Arthur Lobato, psicólogo, responsável técnico pelo Departamento de Saúde do Trabalhador e Combate ao Assédio Moral (DSTCAM) do SITRAEMG.
É preciso saber lidar com as adversidades e a grande adversária da vida é a morte. O medo da morte é a raiz da nossa crise existencial, mas pode nos levar a ter uma existência significativa. Esse medo paralisante é encoberto em nossa sociedade por atividades como o trabalho, o consumo, os passatempos e, muitas vezes, é sublimado pela arte e religião. No entanto, segue como um mal-estar permanente.
Este mal-estar, que Freud chama de pulsão de morte e o filósofo Kierkegaard de desespero humano, significa o encontro da consciência com a morte, sendo vista como uma realidade inevitável. O filósofo Karl Jasper afirmava que a morte é a única experiência que não pode ser vivenciada pelo indivíduo, pois apenas pode-se refletir sobre ela a partir da realidade da morte do outro. Assim, pela lógica da razão, sabe-se que “eu sou homem e todo homem é mortal. Logo eu também vou morrer”. Daí vem a crise existencial, a angústia insuportável, que se manifesta no mal-estar consigo mesmo(a) e com os outros.
Nosso processo mental é regido pelas relações sociais, familiares, pela genética, pelo país em que se nasce, pela cultura, normas, leis e tabus. É nessa interação entre indivíduo, seu semelhante, sua sociedade e sua cultura, que surge o sujeito pensante, a razão e a emoção. Pensar e ter consciência de nossa finitude é também o que nos move para a ação.
É o que nos levar a viver a vida, a entender que não somos eternos nem insubstituíveis. Aliás, há um ditado que diz que “o cemitério está cheio de pessoas que  eram insubstituíveis”, mas que no outro dia após a morte já havia alguém ocupando seu posto no trabalho ou na sociedade. Se quem morre é alguém que ocupa um cargo público importante, por exemplo, logo ele será substituído por um suplente.
Como dizia Freud, somos definidos enquanto sujeito pela forma como lidamos com nossas pulsões, tanto as pulsões de vida quanto as de morte. E para lidar com elas, temos que nos relacionar com o mundo e com nossos semelhantes.
A certeza da nossa finitude deveria nos fazer sempre questionar a forma em que vivemos. Deveria nos ajudar a dar um basta quando somos obrigado a ser um ator social, representando um personagem que é falso. Quando agimos no trabalho obedecendo às ordens absurdas, dizendo sempre “sim senhor”. Quando nosso potencial não está sendo bem aproveitado e, mesmo assim, continuamos levando uma vida desmotivadora, convivendo com fatores que geram tristeza, desânimo e melancolia.  Assim, somos pressionados a ser alguém que não queremos ser, simplesmente para sobreviver. Por mais que pense, esforce ou batalhe, não há nenhuma expectativa de melhora. Por isso, procura-se manter a imagem, a família, o emprego, mesmo não estando satisfeito ou feliz e, aos poucos, o desânimo e a frustração constante podem evoluir para um quadro depressivo.
Uma das defesas do ego para evitar a dura realidade da morte é a sublimação, seja na criação artística ou na maioria dos casos investindo toda sua demanda de vida no trabalho. O trabalho passa a ser um significante de vida, uma defesa, e ao mesmo tempo fonte de realização pessoal.
Muitas vezes pessoas viciadas no trabalho, ou seja, que fazem do trabalho o valor supremo de sua vida tem esta atitude como forma de sufocar o medo da morte, pois com muito trabalho e tarefas, a mente tem que se ocupar com fatos concretos na vida.
Entretanto, muitas vezes acontece que esse mesmo trabalho deixa de ser fonte de prazer para ser fonte de sofrimento, quando o sujeito não consegue dar conta do excesso de trabalho ou quando o reconhecimento esperado não é alcançado.
Conflitos, assédio moral e pessimismo criam um quadro desmotivador e frustrante e, assim, o trabalho perde o seu papel terapêutico na mediação do conflito e o medo da morte, se transforma no medo de ser incapaz, de perder o emprego, de ter uma vida de miséria por causa da incapacidade laboral. Essas preocupações podem evoluir para um sofrimento e, posteriormente, para um adoecimento como no caso da depressão, que é a total ausência de vontade, ou seja, quando o sujeito perde todo o significado dos valores que o motivavam até então.
Por isso, se você deseja levar uma vida mais satisfatória, com mais significado e percebe que não está sendo capaz de encontrar o seu caminho sozinho, talvez seja o momento de procurar um psicólogo para enfrentar suas questões.
Caso você esteja vivenciando sofrimento ou adoecimento mental e emocional no trabalho, procure o apoio do Departamento de Saúde do Trabalhador e Combate ao assédio Moral do SITRAEMG.

 Arthur Lobato
Psicólogo/Saúde  do trabalhador

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