quarta-feira, 15 de maio de 2019

Tecnologia e saúde mental no trabalho

Por Arthur Lobato, psicólogo, responsável técnico pelo DSTCAM - Departamento de Saúde do Trabalhador e Combate ao Assédio Moral do SITRAEMG.


A revolução tecnológica mudou a forma como trabalhamos. Trouxe aspectos positivos, como o aumento da produtividade, mas, muitas vezes, comprometeu a qualidade de vida do trabalhador.

Ao nos depararmos com o tema “a saúde psíquica do trabalhador”, várias questões nos surgem de imediato: O que é saúde? O que é saúde psíquica? Como preservá-la? Afinal, qual o papel da psicologia sobre esta questão?

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afecções e enfermidades”. Autores como Freud e Reich já diziam que a saúde psíquica é a capacidade de amar, trabalhar, e viver a vida em sua plenitude.
Tecnologia e as mudanças no mercado de trabalho

É fato que a tecnologia, embora tenha muitos aspectos positivos, acelerou nosso modo de vida. Os trabalhadores tiveram que se adaptar às novas tecnologias, sendo a informática o exemplo de como a tecnologia nos escravizou ainda mais, tomando mais tempo e energia, tanto no trabalho como na vida privada. O uso da tecnologia no ambiente de trabalho diminuiu consideravelmente o número de empregos porque automatizou processos que antes eram realizados pelo homem. Assim, o trabalhador tem mais responsabilidades, mais trabalho e menos remuneração; acumulou funções, deu o salto tecnológico se adaptando a esta realidade da informatização, mas aumentou o desgaste físico e mental.

As pessoas passaram a se sentir cada vez mais pressionadas a entregar melhores resultados e, com isso, muitas vezes, nota-se um sentimento de fracasso. Esta sensação de fracasso, de não dar conta do serviço, pode levar a quadros de depressão, ansiedade e burnout (esgotamento profissional), pois o trabalho passa a ser o grande sugador das energias do trabalhador e fonte de preocupação.

“Trabalhar é sofrer resistências” e o trabalhador se engaja nos esforços, em toda sua subjetividade, em sua atividade laboral e nos relacionamentos com os colegas. Portanto, afirma Chistopher Dejours, criador da psicodinâmica do trabalho, que analisa a relação prazer-sofrimento no trabalho, “falar ao colega é um modo de nos reapropriarmos de nossa inteligência”, pois somos seres relacionais, o outro constrói minha subjetividade, e, tanto no amor quanto no trabalho, a construção da identidade é através do reconhecimento.
Não somos máquinas

O trabalhador não é uma máquina. Logo, ele precisa interpretar as ordens, e não apenas obedecer regras e normas. Marie-France Hirigoyen (pesquisadora francesa, psiquiatra, psicanalista) afirmou que, na origem do sofrimento no trabalho, está o isolamento das pessoas, o medo, a insegurança, a falta de reconhecimento e respeito, e a perda do sentido.

Nós, seres humanos, precisamos do sentido das coisas. Quando há explicações e diálogo, problemas e conflitos podem ser superados. Sem o sentido, que dá significado ao trabalho, a pessoa busca soluções equivocadas e, como não há respostas, ela pode ser violenta com o outro ou consigo mesma.

Quando há diálogo, há explicações, e isto ajuda a superar o problema, mas, quando o indivíduo não entende o que aconteceu, ele não sabe o que fazer. É isto que adoece: a recusa de diálogo, que impede refletir, aparar arestas, se sentir útil e crescer no trabalho.

A dignidade humana, portanto, tem que ser o valor supremo no entorno laboral. Para isso, é necessário resistir e vencer as dificuldades do trabalho, mas nem todos conseguem, daí o adoecer, o sofrimento e o fracasso.




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