sábado, 21 de maio de 2011

Assédio moral: temos um caso exemplar


Editorial - Pauta 171 -  SJPMG






Com a demissão, em fevereiro, do chefe de redação do Diário do Comércio, 
o Sindicato dos Jornalistas espera que tenha terminado o longo processo em 

torno do caso do assédio moral que vinha ocorrendo no jornal. Infelizmente,


foi este o último capítulo de um caso que sequer teria ocorrido se a diretoria 
da empresa, co-responsável pela situação, tivesse tomado providências há 
mais tempo.

Tão logo chegaram as denúncias, a direção do Sindicato passou a atuar. Primeiro, levando o problema à direção da empresa; mais tarde, acionando o Ministério Público do Trabalho. Essa última iniciativa foi tomada após persistirem os relatos de que a empresa não havia tomado providências para sanar o problema. A gravidade das denúncias que chegaram ao Sindicato indicavam que seria preciso uma atitude firme de nossa parte. Dentre as várias, havia uma que dizia respeito a uma vítima que, diante de perseguições e humilhações ocorridas diante de colegas de trabalho, chegou até a cogitar suicídio. Portanto, estivemos perto de uma tragédia.

Num primeiro momento pode-se dizer que houve falha por parte da empresa em não dar tenção ao alerta do Sindicato. Só após a entidade acionar o Ministério Público do Trabalho, a direção do Diário do Comércio começou a tomar medidas efetivas para sanar o problema, contratando uma especialista para verificar a extensão dos abusos cometidos. Posteriormente, por meio de auditoria interna, comprovou-se que o mal existia em exageradas proporções dentro da redação.

O lamentável episódio deve ser visto como um caso exemplar, principalmente por certos chefetes de plantão que perseguem e humilham seus subordinados. Gente que confunde uso da autoridade com prática do autoritarismo. Quem trabalha em redações e em certos locais de trabalho sabe que, infelizmente, a tensão diária é intensificada, muitas vezes, pelo assédio moral, praticado sob as mais variadas formas: perseguições, humilhações, advertências públicas, muitas vezes sem direito de defesa, além de precárias condições de trabalho, gritos e sobrecarga de trabalho. Isso sem citar mais exemplos.

No entanto, não podemos nos esquecer que as empresas são coniventes e, muitas vezes, até incentivam o assédio moral. Não é admissível que elas desconheçam a situação e, ao final de muitas denúncias, em vez de agir para coibir os abusos, apenas usem um profissional como bode expiatório. Os patrões são responsáveis pelos danos causados pelo assédio moral a seus empregados.
O assédio moral parece um mal dos novos tempos, apesar de todos os avanços tecnológicos, que deveriam ser ferramentas para tornar o trabalho mais confortável. Por isso, nossa diretoria tem se debruçado bastante sobre o problema, inclusive em nossas negociações coletivas e nos congressos da categoria, com apresentação de teses sobre a questão.

Mas, infelizmente, as denúncias ao Sindicato persistem. Na TV Globo há relatos de profissionais que têm de se agarrar aos comprimidos para suportar a grande tensão do ambiente, hoje presente em quase todos locais de trabalho. Ali, como sabemos, ao longo dos últimos anos, vários repórteres cinematográficos sofreram e sofrem no lombo as sequelas impostas pelo peso de seus equipamentos, além das correrias e sobrecargas do ofício. Nos portais Uai e EM, os profissionais já viveram a experiência de trabalhar sob uma temperatura ambiente de 30 graus. Na TV Leste, repetidora da Rede Record em Governador Valadares, os profissionais são forçados a exercerem diferentes funções, muitas delas completamente alheias à sua atividade, para manterem o miserável emprego. Na Rede Record, em BH, os jornalistas são submetidos a precárias condições de trabalho e segurança, como é o caso do uso de carros com pneus carecas.



Colaboração:
Arthur Lobato 
jornalista e  psicólogo, coordena grupo de estudos sobre assédio moral no ambiente de trabalho. 
É vice-presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais.

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