Em busca de ampliar e fortalecer o debate sobre a qualidade da saúde dos servidores do PJU e MPU, a Fenajufe participou das atividades do segundo dia do Seminário Nacional sobre a Saúde dos Magistrados e Servidores do Poder Judiciário, nessa quinta-feira (5). O evento foi realizado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), por meio do Comitê Gestor Nacional de Atenção Integral à Saúde de Magistrados e Servidores do Poder Judiciário.
Representaram a Fenajufe as coordenadoras Lucena Pacheco e Juscileide Kliemaschewsk e os coordenadores Cristiano Moreira, Edson Borowski, Isaac Lima, Fernando Freitas, Roniel Andrade e Thiago Duarte. Presença também de dirigentes dos sindicatos da base da Federação.
No encontro, o coordenador de Saúde e Previdência da Fenajud, Guilherme Peres, apresentou a Pesquisa Nacional de Saúde: "Sofrimento e adoecimento no trabalho do judiciário e MPU". O estudo, organizado pela Fenajufe e Fenajud, é uma parceria com o Grupo de Estudos e Práticas em Clínicas, Saúde e Trabalho (GEPSAT) e Laboratório de Psicodinâmica e Clínica do Trabalho (LPCT) da UnB.
A pesquisa analisou os dados de 1397 trabalhadoras e trabalhadores das Justiças Federais e Estaduais brasileiras e retrata a qualidade de saúde - física e psicológica - levando em consideração indicadores como organização do trabalho, modelos de gestão, sofrimento e danos físicos, psicológicos e sociais, que são a causa do adoecimento pelo trabalho. Foi utilizada uma delimitação quantitativa e qualitativa através do Protocolo de Riscos Psicossociais Relacionados ao Trabalho (PROART).
Assédio moral
Ponto que aparece forte na pesquisa são relatos de violência e assédio moral, reflexo de uma estrutura de gestão do trabalho individualizada e verticalizada. O assunto foi amplamente destacado na intervenção dos dirigentes da Fenajufe para que as pessoas tenham clareza do que é a violência no espaço de trabalho e, assim, consigam ajuda e acolhimento.
Oficina sobre a saúde dos servidores
Durante a oficina sobre a saúde dos servidores, o coordenador Cristiano Moreira alertou para o quadro "bastante grave de adoecimento" que precisa ser combatido. O coordenador falou sobre as pesquisas (2016 e 2018) realizadas no Sintrajufe-RS em parceria com três universidades federais do estado com uma amostragem de mais de duas mil pessoas e revelou números alarmantes. Assista AQUI.
Já o coordenador Edson Borowski, ressaltou a importância e o valor da pesquisa Nacional de Saúde realizada em parceria com a Fenajud. O dirigente pontuou, ainda, a relevância de se ter um espaço de fala e de escuta, integrando o magistrado e trabalhando na conscientização do servidor - com prevenção e pausa. Assista AQUI.
O risco iminente na condução das atividades e riscos à saúde dos Oficiais de Justiça Avaliadores Federais (OJAFs) foi discutido na fala da coordenadora Juscileide Kliemaschewsk. A dirigente alertou para o fato de as instituições não acreditarem que o assédio moral ocorre e, muitas vezes, não acolhem o assediado. Assista AQUI.
A assessora política do Sisejufe-RJ, Vera Miranda, também falou da importância da pesquisa nacional realizada e destacou as pesquisas feitas nos sindicatos de base. Assista AQUI.
A coordenadora Lucena Pacheco fez uma síntese dos dois dias de apresentações de trabalhos e oficinas com temas relacionados a magistrados e servidores como assédio moral, plano de saúde, periódicos, entre outros. Assista AQUI.
Saúde mental
Na quarta-feira (4), primeiro dia do seminário, a professora da UnB Ana Magnólia destacou alguns dados de sua pesquisa que apontou um número crescente de suicídios no ambiente de trabalho ou motivados por problemas relacionados ao trabalho. De acordo com ela, o sofrimento é uma das principais questões apontadas pelos mais de 6 mil servidores que participaram do levantamento.
O modelo gerencialista aplicado aos ambientes de trabalho tem sido um fator preocupante, pois registra uma desumanização no trato dos servidores e a aplicação de metas exageradas. De acordo com a pesquisa, 71% dos trabalhadores sofrem de esgotamento mental; e 45% relataram tristeza e vontade de desistir de tudo.
De acordo com Ana Magnólia, o medo é o principal sintoma citado: medo de errar, de ser excluído porque errou, de ser chamado de incompetente e de ser punido. Além disso, as relações de confiança estão quebradas e o assédio moral é um dos principais causadores desse quadro.
O conselheiro Valtércio Oliveira mediou a mesa e compartilhou sua experiência com assédio moral, quando foi servidor. Ele relatou que tinha sentimentos de perseguição e teve sequelas físicas decorrentes do estresse vivido. Para o conselheiro, reforçar que seja mantido um clima de amorosidade nas varas, seções e tribunais.
Encaminhamentos
Os encaminhamentos sugeridos foram divididos em quatro tópicos: assédio moral; comitê gestor de saúde; gestão de pessoas e qualificação.
Assédio moral
Modelo de intervenção além das cartilhas; prevenção do assédio moral; preservação da vítima; espaços de fala.
Comitê gestor de saúde
Implementação do Comitê Gestor de Saúde; efetividade; Comissões mais paritárias – democratização; independência do Comitê de Gestão de Pessoas; Lócus organizacional; periodicidade de reuniões; especialidade do segmento eleitoral e que os comitês possam ser mais propositivos e multidisciplinares.
Gestão de pessoas
Destaque para a falta de profissionais de saúde; equipes multidisciplinares; melhores práticas de gestão de pessoas e liberdade para movimentação e reconhecimento; teletrabalho – atenção para evitar isolamento; olhar especial para os oficiais de justiça.
Qualificação
Formação continuada; ao menos uma ou duas pessoas do Comitê com conhecimento em saúde e assédio moral; cursos que reúnam servidores e magistrados; maior preparo dos magistrados para serem gestores de pessoas.
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