terça-feira, 29 de agosto de 2023

'Dói ser chamado de inútil': denúncias de violência contra idosos sobem 47%

 Geraldo (nome fictício), 74, mora com a filha em São Paulo desde 2020, quando a pandemia começou. Porém, desde então, a relação dele com o neto, 20 - que sempre foi de carinho -, se deteriorou.

"Eu mexi na rotina da casa e entendo que isso incomoda. Dói ser sempre chamado de inútil, de chato, ainda mais por uma pessoa que amo e vi nascer, mas eu relevo. Ele é só uma criança."


As denúncias de violência contra pessoas idosas cresceram 47% no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período de 2022. Somente nos seis primeiros meses de 2023, o Disque 100, do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, recebeu 65.331 denúncias de violência cometidas contra esse público, contra 44.458 no primeiro semestre de 2022. Pessoas idosas são o segundo grupo que mais sofre abusos, ficando atrás apenas das crianças e dos adolescentes.


Foram registradas 386.642 violações de direitos, como violências físicas, psicológicas, patrimoniais, sexuais, abandono e discriminação. No mesmo período do ano passado, eram 223.951. Cada denúncia pode ter mais de um tipo de violação.

As violações psicológicas são as mais comuns. Elas ocorrem em atos como agressões verbais, tratamento com menosprezo ou qualquer ação que traga sofrimento emocional ou afete a autoimagem e autoestima da pessoa. Só em 2023 já foram registradas mais de 120 mil violações deste tipo.

A população tem ficado mais velha. O percentual de pessoas com mais de 60 anos saltou de 11,3% para 15,1%. Ao mesmo tempo, o percentual de pessoas com menos de 30 anos caiu de 49,9% em 2012, para 43,3% em 2022. O médico e gerontólogo Alexandre Kalache diz que o Brasil será um dos três países que mais rapidamente envelhecerá até 2050. "Os idosos de 2050 já são adultos hoje. Já estamos vivendo o tempo de nos prepararmos", diz ele, que ressalta a necessidade de políticas públicas consistentes.

Violência é comum dentro de casa, dizem especialistas

Apesar do aumento de registros em relação ao ano anterior, especialistas estimam que os dados ainda são subestimados. Isso se deve porque a violência é geralmente cometida por familiares, o que dificulta que a denúncia seja feita, explica Marcela Carinhato Almeida Prado de Castro Valente, presidente da Comissão de Direitos da Pessoa Idosa da OAB-SP.

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